sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Nordeste Independente

Ubirajara Santana

A região nordestina é formada pelos estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Alagoas, Sergipe, Paraíba e Bahia. A economia nordestina vem apresentando um grande crescimento nesses últimos anos. A mão de obra barata, a concessão de benefícios fiscais pelos governos dos estados do nordeste atraíram muitas empresas do sul e sudeste em fuga da pesada carga tributária, fiscal e dos grandes salários. Foi assim com a Ford, a Monsanto e muitas outras.

A nossa região é a segunda produtora de petróleo do país e a maior na extração de petróleo em terra. Possuímos o maior rebanho de caprinos do país. Noventa e sete por cento (97%) da produção nacional de camarões em cativeiro vêm da nossa região. Bem como a cana de açúcar, a lavoura irrigada de frutas tropicais vem crescendo em importância na produção nacional. O meu estado (Bahia) é o primeiro no ranking na produção de bananas do Brasil e o segundo maior produtor e exportador de frutas frescas do país.

Com o término da transposição do Rio São Francisco previsto para 2011 a produção agrícola do nordeste irá triplicar. A Bahia e Sergipe possuem o maior PIB industriais (estadual) da região: A Bahia com 28,2 % e Sergipe com 30,6%. A construção civil também teve um grande crescimento nos últimos anos e apresentam grandes perspectivas de crescimento na próxima década.

Não é a toa que depois de longos estudos de viabilidade econômico-financeira levaram o Grupo Cornélio Brennand a se instalarem no estado de Pernambuco e mais recentemente, os executivos da CEBRACE anunciaram aqui em Salvador no último dia 25 de novembro, a instalação do sexto forno da companhia aqui na Bahia, previsto para o primeiro trimestre de 2013.
Os poetas do nordeste já cantaram em versos e prosa o nosso futuro: “Já que existe no sul esse conceito, que o nordeste é ruim, seco e ingrato, já que existe a separação de fato, é preciso torná-la de direito, quando um dia qualquer isso for feito, todos dois vão lucrar imensamente, começando uma vida diferente, de que a gente até hoje tem vivido. Imaginem o Brasil ser dividido, e o nordeste ficar independente!”.

Ubirajara Santana é microempresário.

Ensaio sobre a lucidez

Sócrates Santana
Se uma imensa maioria silenciosa, 36 milhões de pessoas, deixasse de ir às urnas, Cristina Kirchner, não seria eleita presidente argentina, nem Nicolas Sarkozy, primeiro-ministro francês, tão pouco Angela Merkel seria a chanceler alemã. No Brasil, 4,7 milhões anularam o voto, 2,5 milhões votaram em branco e 29 milhões se abstiveram, dentro de um universo de 136 milhões de eleitores aptos a votarem. Mas, Dilma Rousseff foi eleita presidente, amontoada entre centenas de outros candidatos.

Diferente desses países, o Brasil reúne no único balaio de gato candidatos à presidência, governadores, senado, deputados federais e estaduais, descaracterizando a democracia ao legitimar meses após o sufrágio um aumento imoral de 62% autoconcedido aos parlamentares ontem (16). O Estado possui a função primordial de manter a ordem e a estabilidade, por meio da conservação de sua própria integridade. E a integridade do Estado vem sendo jogada no ralo.

Não fosse os altos indices de popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a postura democrática do torneiro mecânico, que rompe a história golpista do país, ao não manobrar em prol de uma terceiro mandato, a democracia brasileira voltaria ao estágio de utopia. É preciso – urgentemente – dividir os períodos de convocação da população apta a votar. Senão, iremos acordar numa manhã chuvosa, como a narrativa de José Saramago, percorrê-lo por todo o dia e cessá-lo, após a apuração das urnas, perante um paradoxo vazio e ausente de eleitores.

Caso está destopia ocorrer, não haverá tempo de emendar o erro, por meio de uma nova eleição, nem espaço para rigoroso exame de consciência. O tempo é agora. Há uma crônica anunciada que afirma, pouco a pouco, a sociedade brasileira derruba a crença de que o espaço público é domínio do Estado. O espaço público é também constituído por atores públicos não-estatais, fora do aparato do Estado, tipicamente agrupados na sociedade civil. É claro, cabe, aos atores sociais pressionarem as administrações públicas, por meio de uma cidadania ativa, para que a esfera política seja construída com base no público.

Infelizmente, no estado baiano, o público continua sendo ignorado pela tríplice candidatura à reeleição a presiência do legislativo estadual, assim como Rio Grande do Sul e Pernambuco. A correria é para votar o reajuste na próxima semana, a última antes de encerrar os trabalhos legislativos do ano. Os deputados de Minas Gerais e Rio de Janeiro já tinham garantido, desde legislaturas passadas, o aumento automático vinculado à decisão do Congresso. Todos adiantam o passo para colocar na pauta, antes do fim do ano, projetos que garantam a remuneração de cerca de R$ 20 mil aos deputados estaduais - 75% do que ganham os parlamentares federais, teto previsto pela Constituição.

Mas, o silêncio perante essas obcenidades no Congresso, pode vir como um grito por um sistema diferente que possa atender, de fato, aos anseios da população através de uma atividade explícita e lúcida que diz respeito à instauração das instituições desejáveis e da democracia como regime da máxima auto-instituição possível.

O desalento, contudo, é ainda aguardar um longo caminho até a aclamada revolução democrática anunciada aos quatro ventos por aí. Resta a esperança de quem sabe numa próxima marchinha ou samba enredo no próximo Carnaval, alguém rabiscar versos de olê, olê, olá, saíamos do ensaio, a lucidez vai passar.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

A Bahia terá fábrica de vidros

Ubirajara Santana

No último dia 23 de novembro (terça-feira) cerca de cinquenta empresários do ramo vidreiro da Bahia e Sergipe se reuniram no Fiesta Bahia Hotel com a finalidade de fundar a primeira associação da categoria. Coincidentemente, dois dias depois, o governador Jaques Wagner, juntamente com os acionistas e diretores da Companhia Brasileira de Cristal (CEBRACE), assinaram um protocolo de intenções para a instalação da sexta unidade fabril da multinacional em terras baianas, com um investimento inicial de 200 milhões de dólares, para a primeira fornada começar no primeiro trimestre de 2013.

Mas, a relação entre os baianos e o ramo vidreiro não é de agora. A Bahia no passado sediou a primeira fábrica de vidros do Brasil, quando em 1810, o português Francisco Ignácio da Siqueira Nobre recebeu de D. João VI a carta régia autorizando a implantação da “Real Fábrica de Vidros da Bahia”, que esteve em operação de 1812 até 1825, vindo fechar 13 anos depois. A Bahia volta á cena nacional do ramo vidreiro de 1902 até 1962, com o surgimento da Fratelli Vita, que produzia garrafas, cristais da mais alta qualidade (marca de refrigerante até hoje na memória da minha geração).

Porém, os primeiros pedaços de vidros datam de uma época ainda mais remota. Da Bahia de Pedro Álvares Cabral, que em 1500 presenteou os índios com colares e rosários. Depois em 1549, Thomé de Souza fez a primeira permuta com os indígenas: trocou um lote de espelhos por pau Brasil. Vale salientar que durante a invasão holandesa durante o período de 1624 a 1635, quatro artesões trazidos por Mauricio de Nassau fundaram a primeira oficina de vidros em Olinda (PE), fabricando vidros para janelas, copos e frascos. Com a expulsão dos holandeses a fábrica fechou.

A grande revolução da indústria vidreira no mundo ocorreu na Inglaterra no meado do século XX com o processo inovador criado por Sir Alastair Pilkington o conhecido sistema “float” de excelente uniformidade, quase sem nenhuma distorção óptica, largamente utilizada na construção civil, automotiva, eletrodomésticos, móveis e objetos de decoração. Vale lembrar que a Cebrace é uma joint-venture entre dois maiores grupos produtores de vidro plano do mundo: NSG/PILKINGTON (JAPÃO) e SAINT-GOBAIN (FRANÇA). Possui 03 unidades em Jacareí (SP) 01 unidade em Caçapava (SP) e uma outra em Barra Velha (SC).

A vinda da Cebrace para a Bahia certamente é uma resposta ao grupo brasileiro Cornélio Brennand, que em março deste ano anunciou o funcionamento da Companhia Brasileira de Vidros Planos (com capital 100% brasileiro) a partir do segundo semestre de 2012 no estado de Pernambuco. Para nós, enquanto revendedores, distribuidores e processadores da Bahia e Sergipe só têm a ganhar principalmente o mercado consumidor. Nossa associação também acontece num momento fértil com a maturidade deste novo tempo. Evoé!... O futuro é agora.

*Ubirajara Santana é empresário do ramo vidreiro em Salvador há 28 anos. Mais informações no site www.extravidros.com.br

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Um novo conceito de pobreza

Sócrates Santana
O princípio de revolução democrática vem sendo sussurrado por uma imensa maioria silenciosa entre os grotões do país: uma nova definição de pobreza. Ao lançar o desafio de transformar o Brasil num país de classe média, a presidente eleita, Dilma Rousseff, trouxe a tona uma nova idéia de pobreza, que não está restrita a mera privação de renda. Dilma inclui no prato dos brasileiros novos itens, diversificados pelo universo de manifestações intrinsecamente relacionadas com os direitos sociais, civis e políticos dos cidadãos.
Alterar o conceito de pobreza no país significa superar dogmas relacionados aos programas de transferência de renda. Por exemplo, a falsa dicotomia entre emancipação e dependência econômica: tal crítica declara que a transferência de renda possui portas de entrada, mas, não aponta as portas de saída. Em outras palavras, a política de transferência de renda, longe de combater a pobreza, só acomodaria os beneficiários. Trata-se de um preconceito que não encontra qualquer evidência empírica.
Dados recentes do IBGE revelam que pessoas que vivem em domicílios onde há beneficiários do Bolsa Família trabalham tanto ou mais que as outras pessoas com renda familiar per capita similar. Na verdade, resultados mostraram que adultos em domicílios com beneficiários do Bolsa Família têm uma taxa de participação no mercado de trabalho 3% maior do que adultos em domicílios não beneficiários. Sendo este impacto maior entre as mulheres, 4% do que entre homens, 3%.
A mudança do paradigma da pobreza a partir dos parâmetros que circundam a classe média brasileira representaria a quebra de outro dogma: que a introdução de direitos sociais vinculados aos programas de transferência de renda contribuem na manutenção de hábitos supérfluos. Ao contrário, discutir uma nova leitura sobre o conceito de pobreza significa rediscutir também o conceito de classe média. Isso representa um esforço não apenas econômico, mas, também cultural.
O realce da classe média não atribui aos pobres elevados à condição de classe média os mesmos valores culturais comumente relacionadas à classe média. O próprio consumo é modificado ao passo que não são as mesmas pessoas que consomem, alterando assim os hábitos de consumo de uma faixa econômica da população. Mas, para vincular consumo com cidadania precisamos desconstruir algumas concepções como, por exemplo, àquelas ligadas ao fato de relacionarmos o consumo sempre a um ato irracional.
Ao expandir a noção política de cidadania, incluindo direitos de habitação, saúde, educação e apropriação de outros bens em processos de consumo, revisamos também a idéia de pobreza. Mas, isso requer não enxergar o consumo somente como simples cenário de gastos inúteis. É preciso vê-lo como um espaço que serve para pensar e, no qual, se organiza grande parte da racionalidade sociopolítica.
O consumo é o lugar onde os conflitos entre as classes ocorrem na contemporaneidade. Portanto, realizar uma revolução verdadeiramente democrática significa rever o espírito do consumo a partir dos conflitos de classes, além das instituições - republicanas ou não – e do próprio conceito de pobreza.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O síndico do Congresso

Sócrates Santana

O nome do senador eleito cearense José Pimentel está praticamente definido, dentro do PT, para ocupar a estratégica 1ª Secretaria da futura Mesa do Senado. Agora, tudo fica na dependência dos entendimentos entre partidos para distribuição dos cargos pela proporcionalidade das bancadas.

Pimentel tem o perfil para o cargo, sem dúvida, já que o 1º Secretário é uma espécie de administrador da Casa. Dá muita atribuição, mas, ao mesmo tempo, garante muito poder interno, junto aos próprios colegas, o que torna muito comum o parlamentar se viabilizar, a partir dali, presidente numa gestão anterior.

De qualquer forma, a aparente escolha de José Pimentel pela bancada petista tem mais a ver com o perfil administrador político dele do que com eventuais planos futuros de chegar ao posto mais importante da Casa.

Oposição não governamental

Sócrates Santana

O senador Gim Argello, do PTB, já caiu da relatoria do Orçamento da União de 2011, envolvido com uma situação mal explicada de inclusão de emendas destinadas a um instituto de aparência fictícia.
Hoje, surgem notícias exigindo explicações do líder do PMDB na Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves, que parece também ter assinado emendas para uma ONG vinculada a um político do seu grupo político aqui perto, no Rio Grande do Norte.
Henrique Eduardo Alves, vale dizer, tem sido uma voz bem ouvida no processo de formação do ministério Dilma Rousseff, pelo PMDB, e está no primeiro lugar da fila para, na segunda metade do mandato parlamentar que se inicia em 2011, assumir a presidência da Câmara.
É, portanto, um alvo bem vísivel. Assim caminha Brasília como endereço permanente de disputas, crises e escândalos. Não necessariamente nessa ordem.
O detalhe – não tão pequeno – é que volta e meia o tema das ong´s retorna para a pauta. Infelizmente, o assunto é abordado a partir de mecanismos como a CPI das Ong´s, que generaliza e criminaliza todas as organizações sociais em vez de apoiar uma discussão mais ampla sobre a atuação delas.
O pior é o esvaziamento do debate sobre o Marco Legal das ONGs que está sendo promovido no Senado, com o objetivo justamente de construir uma legislação mais condizente com a realidade e que regule a transferência de recursos para essas organizações.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

A razão nordestina

Sócrates Santana

A esfera política é a esfera pública na qual todo mundo pode aparecer e mostrar quem é. E a eleição é o palco mais explicito do que isso significa. É natural, portanto, a insatisfação de setores do governo acampados no norte e nordeste do país. Após serem alçados ao patamar de principais responsáveis pela eleição da presidenta Dilma Rousseff, os estados do lado mais pobre do Brasil, aguardam uma retribuição maior do governo reeleito do que o beneficio do Programa Bolsa Família.

Só os que sabem obedecer estão aptos a comandar. Ambos, Eduardo Campos (PE) e Jaques Wagner (BA), por exemplo, seguiram a risca as orientações do presidente Lula. O governador pernambucano articulou a retirada da candidatura presidencial de Ciro Gomes. Wagner dividiu a atenção da candidatura presidencial com o deputado federal Geddel Vieira Lima. Chegou à hora, contudo, de medir forças, porque, formado o governo, desmontá-lo será um fratricídio. “É melhor estar em desacordo com o mundo inteiro do que, sendo um, estar em desacordo consigo mesmo”, já diria o chara deste comentarista, apesar do conselho também servir para a presidenta eleita.

Apesar de improvável, a insurreição nordestina surgiria como uma novidade na política nacional. Iria conter uma espécie de força indestrutível aglutinada no estado paulista, que pauta a agenda pública a partir de interesses comuns somente aos seus. Ao contrário, o governo precisa reunir, verdadeiramente, pessoas em busca de um objetivo comum para gerar poder, que, ao contrário da força, provém das profundezas da esfera pública e a sustenta enquanto os agentes permanecerem associados em discurso e ação.

A participação de agentes políticos nordestinos no governo federal deve ser proporcional a demanda represada por décadas deste lado do país, uma demanda que não estar restrita ao número de beneficiados do Bolsa Família, tão pouco de obras do PAC e do Minha Casa, Minha Vida: uma demanda de representação, que se não for atendida irá corroer o caráter democrático do governo, pasteurizando eleitoralmente a esquerda e caracterizando o norte e o nordeste numa imensa massa de manobra. Mas, como diria o filósofo Hegel, a coruja de Minerva levanta vôo somente ao entardecer. A voz da razão vai explicar a história.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

O patinho feio

Sócrates Santana

O termo “patinho feio” é uma pecha atribuída pela história ao Partido Democrático Trabalhista. O deputado estadual Marcelo Nilo, talvez, não esteja familiarizado. Afinal de contas, o parlamentar mais votado entre os baianos não é nenhum getulista, tão pouco brizolista. Ao contrário, volta e meia, arrota o orgulho de ter tido a ficha de filiação ao PSDB abonada pelo próprio Mário Covas. Mas, não é bem assim. No que pese a gratidão ao legado tucano, o atual presidente do legislativo baiano, fez parte de um pacto nacional orquestrado pelo ministro pedetista, Carlos Lupi, que abonou o ingresso de Nilo ao PDT.

O acordo entre o ministro e o governador Jaques Wagner firmou uma aliança que vai além da manutenção da governabilidade no legislativo baiano. Uma aliança, diga-se de passagem, extremamente rentável para a legenda brizolista, porque, viabilizou o ingresso ao PDT de quatro parlamentares. São eles, Emério Resedá (PSDB), João Bonfim (sem partido), Paulo Câmera (PTB) e o ex-tucano, Marcelo Nilo. E, claro, como poderia esquecer: o comando da Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia.
Engana-se, contudo, quem avalia o movimento do governador como mero lance de cooptação, desvinculado da pauta nacional. Wagner é um homem de projeto. Não ignora as origens partidárias da presidente eleita, Dilma Rousseff, ao brizolismo. O governador sabe qual é o papel do partido pedetista. Reconhece o caráter decisório da legenda no âmbito federal. Ao garantir a manutenção do PDT no núcleo de poder da esfera pública baiana, Wagner fortalece ainda mais a relação entre União e Estado. E Marcelo Nilo?
O presidente do legislativo baiano não é nenhum daqueles intelectuais da USP que sonhavam desmontar a “herança populista” de Vargas, Brizola e Jango. Afinal, o PSDB tentou desmontar a herança de Vargas. FHC disse – num discurso pouco antes do início de seu primeiro governo – que esse era o objetivo dele: enterrar Vargas. E tentou. Mas, ao contrário de um tradicional tucano, Marcelo Nilo é um populista nato. Nasceu para o PDT. E como tal, aprecia as proezas do Estado Novo de Getúlio Vargas. Não é toa que tenta o terceiro mandato na Assembléia Legislativa da Bahia. E como confessou o próprio presidente Lula: “Eu até queria continuar”, quem não quer? Mas, democracia é isso.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Se hay gobierno, soy a favor

Sócrates Santana
De oposição a ditadura militar (1964-1985), o que sobrou do Movimento Democrático Brasileiro convalesceu diante das facilidades do poder. O PMDB personificou o sentido de fisiologismo no país. O ranço ganhou proporções devastadoras, empurrando o principal aliado do governo petista para uma decisão crucial para a própria manutenção partidária da legenda: a construção de uma candidatura presidencial.
A entrevista concedida pelo líder do PMDB na Câmara Federal, Henrique Eduardo Alves (RN), revelou um partido maduro, seguro do papel que exerce sobre o tabuleiro político de Brasília. “O PMDB é, hoje, um novo partido”, frisou o líder do partido.
O pemedebista ainda expõe ou impõe – digamos assim – a fragilidade do próximo governo, creditada a suposta figura inexpressiva da presidente eleita. “Não teremos mais o Lula, que matava no peito e resolvia as questões”, sem deixar de sentenciar a condição de dependência da presidente em relação ao partido. “Dilma vai ter que ser muito mais ajudada pelo conjunto dos partidos. Nós vamos ajudar”. Quem viver, verá.

A insustentável leveza do DEM

Sócrates Santana

É notória a fragilidade partidária do DEM. Apesar de recusar a idéia de fusão com outras agremiações, os democratas colocam em evidência um balão de ensaio, expondo para os adversários dois cenários: o primeiro, de que o partido encontra dificuldades para manter a unidade interna perante o assédio da base governista; o segundo, de que é possível a convergência com outras legendas, mas, numa determinada situação de rearranjo das forças oposicionistas.

Na Bahia, por exemplo, a tese que deflagra a insustentável leveza do DEM ganha fôlego nos bastidores. Já no processo eleitoral, o ingresso do ex-conselheiro Otto Alencar para a chapa do governador Jaques Wagner, incluiu nas rodas de conversas, o distanciamento do deputado estadual Gildásio Penedo das hostes carlistas. Penedo é casado com a sobrinha de Otto, Roberta Alencar, e responde por uma votação atribuída ao padrinho político. Homem de partido, contudo, Penedo, contesta a saída da agremiação.

Um outro provável dissidente é o deputado estadual reeleito, Rogério Andrade (DEM), que sonda ou vem sendo sondado pelo ex-secretário estadual de Infra-Estrutura, João Leão, deputado federal reeleito pelo Partido Progressista (PP). A mudança do DEM para o PP ocorreria mediante a possibilidade do pepista apoiar Rogério Andrade para a prefeitura de Santo Antônio de Jesus.

No franzir dos olhos, portanto, uma revoada vem sendo anunciada, mesmo sem o consentimento da direção nacional do partido, minado pela base por PSDB, PR, PP e PMDB. É claro que o argumento da fusão pode ter sido plantado pela base governista. Porém, as mensagens cifradas traduzem um sentimento que brotou de dentro do partido.

As perspectivas, contudo, variam conforme a projeção das alianças em curso. O presidente nacional do DEM, Rodrigo Maia, revelou em recente declaração, por exemplo, a distinção entre os democratas e os tucanos: “O DEM tem uma posição de centro-direita e o PSDB se enxerga mais como sendo de centro-esquerda”. Ou seja: o DEM está para o PSDB, assim como o DEM está para o PMDB. E o PSDB está para o DEM, assim como o PSDB está para o PSB.

O fato é que apesar dos democratas terem sido tachados como um fardo eleitoral pela opinião pública, nas urnas revelou possuir uma identificação latente com uma parcela significativa do eleitorado de viés ultra-conservador. E em política é leviano afirmar que "desta água nunca beberei".

Agenda de Lula 09/11/2010

Horário Local de Maputo/Moçambique: mais 4h em relação a Brasília
11h10 - Visita às instalações do Instituto Nacional de Educação a Distância (INED) Campus de Matemática da Universidade Pedagógica (UP), Lhanguene Maputo
11h30 - Aula inaugural por ocasião da instalação do Polo da Universidade Aberta do Brasil, no INED
Biblioteca do INED
13h - Almoço privado
Hotel Polana
16h - Encontro com empresários brasileiros que atuam em Moçambique
18h05 - Encontro com o presidente de Moçambique, Armando Guebuza
Palácio da Ponta Vermelha
19h05 - Assinatura de atos
19h15 - Jantar oficial em homenagem ao Presidente da República, oferecido pelo presidente de Moçambique, Armando Guebuza

O métier de Wagner

Sócrates Santana

A composição do governo petista no estado baiano retorna para o métier do Palácio de Ondina. A distribuição dos cargos está de volta à mesa do governador. Felizmente, Jaques Wagner adquiriu mais musculatura política após o processo eleitoral. Venceu no primeiro turno, elegeu mais dois senadores alinhados ao projeto estadual, aumentou a bancada federal de sustentação ao governo Dilma e construiu uma maioria confortável no legislativo baiano.

Apesar do esforço de Wagner, contudo, a suposta hegemonia ainda não está consolidada na política baiana. Bastou terminar a corrida eleitoral para os partidos aliados e neo-aliados, iniciarem uma disputa despolitizada pela ocupação de espaço na máquina administrativa do estado. Seja no âmbito do poder legislativo, seja no poder executivo, que cabe ao governador, propriamente dito, apoderar ou não, a discussão das idéias estão sendo subjugadas pela simples conta das urnas.

Wagner, portanto, ainda não alcançou a almejada hegemonia das mentes e corações da esfera pública, porque, a convicção continua sendo a que os cargos comandam as idéias. E o governador não pensa assim, porque, isso não é verdade. O governador tem a oportunidade neste segundo tempo da sua gestão de romper com a tradição brasileira de compor o governo conforme os “arranjos pelo alto” em detrimento da pressão “de baixo”.

Os partidos possuem legitimidade para indicarem quadros políticos capacitados para darem andamento às ações governamentais em curso no estado. Mas, primeiramente, o arco de alianças firmado entre as legendas coligadas à candidatura petista selou um pacto com a população e uma série de segmentos organizados da sociedade civil. Cabe, assim, escutar o clamor de setores da sociedade baiana, que participaram e propuseram em conferências, conselhos, mesas de negociações e na campanha em si, diversos indicativos para o aperfeiçoamento das diretrizes deste governo.

A Bahia ainda vive um momento de transição e mudanças. Esses são os instantes mais significativos da sociedade, porque, afloram a disputa acerca de projetos e perspectivas sobre aquilo que virá. O novo torna-se objeto de contestação e enfrentamento pelos grupos que desejam obstruí-lo, sofrendo a pressão do velho, que insiste em permanecer e que procura manter de todas as formas sua influência. Mas, se o sono da razão gera monstros, como diria os filósofos frankfurtianos, mantenhamos um olho no padre e outro na missa, como diria o povo.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Apressado, come cru

Sócrates Santana
Em maio de 1974, o jornalista Carlos Lacerda confessou: “O momento culminante da minha vida pública foi chegar ao poder. O poder é muito bom. Não adianta querer enganar”. Apesar de pragmática, após as eleições, a única pauta de qualquer discussão dos bastidores é quem está e estará mais próximo do poder. Leia-se: quem foi eleito e quem não foi; quem será ministro ou secretário; quem tem mais ou menos poder.
Na dianteira da agenda política a base governista. Seja no âmbito federal, seja no âmbito estadual. A oposição reúne os frangalhos, aqui e acolá, aparece na imprensa, mas, todos, todos os holofotes estão voltados para os aliados dos governos. Na Bahia, a bola da vez continua com o governador Jaques Wagner.
Wagner possui gordura de sobra para queimar. Leia-se: gordura política. A vitória em primeiro turno lhe garantiu a autonomia necessária para decidir como e quem serão os seus respectivos auxiliares e interlocutores. Portanto, aos afoitos um ditado popular comumente utilizado pelo governador dos baianos: “Apressado, come cru”.

Como diria Ciro Gomes...


quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Sem PSDB

Sócrates Santana*

Sem o retrovisor dos oito anos do governo FHC, o PSDB pode, finalmente, desvencilhar a imagem do partido do período da história caracterizado pelas políticas neoliberais. Derrotado pela terceira vez consecutiva, tendo como agravante o esconde-esconde dessas eleições das eventuais conquistas atribuídas aos governos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o modelo apresentado pelo o tucanato perdeu o prazo de validade. Sem perceber ou sem saber como fazer, o PSDB se viu, sem projeto, sem discurso, sem sequer, um programa de governo para a disputa presidencial.

Coube ao ex-governador de São Paulo atirar a esmo. Ao não encarar o debate político, restou as fáceis promessas de campanha, sem argumento, sem respaldo e sem identificação com os problemas da sociedade, porque, as promessas não contam para qualificar um candidato como representante de um setor social. Ou seja: Serra representou mal quem desejava ser representado pelo o PSDB. Ao esconder FHC, apagou o PSDB da história do país.

O ex-presidente tucano tem razão numa coisa: o PSDB, de fato, tem que assumir sua real posição no cenário político. Só que não será uma tarefa fácil. Talvez, o maior problema dos tucanos esteja justamente na composição do próprio partido, especificamente, no caráter paulistano das políticas adotadas pelo partido. Há 16 anos à frente do Estado mais rico da Federação, São Paulo, o centro nevrálgico do partido, o PSDB perdeu a noção do país.

A hegemonia paulista do PSDB provocou mais estragos do que trouxe votos no resto do país. O partido não consegue, com esse discurso, ultrapassar uma barreira de rejeição que o PT carregou até as eleições de 2002. Mas, o “até logo” de Serra mostra que a cúpula paulista não vai abrir mão da manutenção do comando do PSDB.

À esquerda de Dilma

Sócrates Santana

A coalizão entre o PT e o PMDB, beneficiou o PSB. O partido socialista assumiu o papel de aliado programático da candidatura petista. Ao PMDB, diferentemente, coube a carapuça de um mal necessário para a eleição de Dilma Rousseff. A distinção entre os partidos, PSB e PMDB, colocou o PT numa posição ambígua, que beira a esquizofrenia ideológica. Por um lado, árbitro de uma rede de interesse distintos, que podem empurrar os principais aliados para as hostes do PSDB. Por outro, vítima de uma descaracterização política, oriunda da influência peemedebista, ou de um esvaziamento das esquerdas, que encontram refúgio no PSB.
Para o bem ou para o mal, contudo, o PT continua sendo o fiel da balança. Seja ao manter Ciro Gomes e Eduardo Campos à esquerda do governo; seja ao estabilizar a governabilidade ao lado de Michel Temer e José Sarney. O malabarismo em questão implica no equilíbrio entre o modelo comumente dicotômico da política brasileira (PT versus PSDB) e o universo pluralista em desenvolvimento no país. De uma esquerda que tende a ver o centro como uma direita camuflada, ou de uma direita que tende a ver o mesmo centro como o disfarce de uma esquerda que não deseja declarar-se enquanto tal.
À esquerda de Dilma, o partido socialista elegeu 6 governadores, 35 deputados federais e 4 senadores. Mas, não foi só. Ao longo dos anos, o PSB ocupou - pouco a pouco - o espaço deixado vago com o deslocamento do PSDB em direção à direita do espectro ideológico. Após a aliança de FHC com o então PFL (hoje DEM), houve uma descaracterização do PSDB, como a que ameaça hoje o PT sob a égide do PMDB.
Enquanto o PSB construía uma pauta afirmativa para o Brasil, o PMDB virou uma sigla de lideranças regionais. Aparentemente, após a Constituição de 1988, o partido deixou de possuir um ideário comum, que por um aspecto, favoreceu seus afins a terem uma maior flexibilidade na ocupação de espaços de poder. Tal trânsito, contudo, possibilitou que o partido se tornasse também a noiva cobiçada de todos. O PMDB de 5 governadores, 20 senadores e 79 deputados.

domingo, 31 de outubro de 2010

Uma nota na Folha de São Paulo custa R$ 600

Uma notinha publicada na Folha de São Paulo pela jornalista Renata Lo Prete custa R$ 600,00. O valor é correspondende a proposta de salário mínimo do candidato da família Frias Filho, o ex-governador paulista, José Serra.
A comentarista da Folha de São Paulo publicou nesta manhã de domingo (31) uma nota que induz o leitor a pensar que o presidente Lula aumentaria o salário mínimo na saída do governo por sugestão do candidato tucano.
A postura da repórter possui duas interpretações mais latentes: primeiramente, admite a vitória da candidata governista, Dilma Rousseff. Em segundo lugar, provavelmente, uma propaganda fajuta, sem qualquer consequência nas urnas. Porém, infelizmente, não deixa de ser uma triste constatação. Confira no link ao lado a notinha: Os últimos meses de Lula

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Menos PMDB

Sócrates Santana

O segundo turno da eleição presidencial deixou uma vela acesa na Bahia: o PMDB. O embate entre a candidata governista, Dilma Rousseff, e o candidato de oposição, José Serra, abriu uma fresta (não uma porta) para a agremiação baiana da legenda. A manutenção do pacto nacional selado entre o PT e o PMDB na Bahia, garantiu sobrevida para os correligionários baianos.

Entretanto, o discurso franco de oposição da candidatura pemedebista ao governo petista no estado fraturou uma relação política no âmbito regional com conseqüências venais para o rearranjo das forças no plano nacional. Isso significa menos espaço para o partido numa possível vitória da candidatura petista. Leia-se: menos espaço para o PMDB baiano no Governo Federal. Porque, como afirmou o governador Jaques Wagner em recente entrevista para o Roda Vida: "É bom governar com partidos como o PMDB, mas não é impossível governar sem eles".

Mas, é ingênuo avaliar em política a impossibilidade do diálogo. E este argumento ganha ainda mais força se quem estiver de um dos lados da conversa for o governador Jaques Wagner. Além de não calcular com o fígado, Wagner costuma deixar a la vonté os seus pares a tomarem as decisões que mais lhe convierem. Certamente, não será diferente com a candidata à presidência, Dilma Rousseff. Só que no galinheiro baiano quem canta de galo... é Wagner.

Ao deixar o ministério da Integração Nacional para concorrer ao Palácio de Ondina, o deputado federal Geddel Vieira Lima antecipou um movimento que poderia desaguar com mais naturalidade em 2014. Não quis esperar a fila e entregou de bandeja ao PT o argumento da traição. E como Wagner costuma falar: “A culpa da traição é do traidor”. E como também não gosta de deixar nada no ar faz questão de complementar: “Salvo se o traído repetir o erro por duas vezes”. E o governador não tem o hábito de errar mais de uma vez.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Serra é rejeitado

Sócrates Santana
As famigeradas pesquisas do sociólogo Demetrio Magnoli e do radialista Mário Kertész apontam uma rejeição recorde do candidato psdebista: 43%. O ninho tucano especula que a razão do alto indice de rejeição foi o tiro no pé deflagrado no Rio de Janeiro pela campanha de José Serra, após a agressiva bolinha de papel que atingiu a superficie lisa e calva do ex-governador de São Paulo.
Por outro lado, o rejeitado candidato à presidência, Aécio Neves, inicia uma caravana pelo país. O objetivo público é angariar votos para o também tucano José Serra. Mas, o senador eleito, Aécio Neves (PSDB), tem voto mesmo é no Estado de Minas Gerais. E Dilma cresce no estado.
Portanto, o objetivo público não traduz o verdadeiro interesse político do ex-governador mineiro. Ao consolidar o seu papel de protagonista na política nacional, assim como, fortalecer o nome internamente no PSDB, Aécio abre passagem para postular a presidência do Senado Federal.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Armação tucana à vista

Sócrates Santana

É difícil assistir em silêncio o teatro do candidato tucano José Serra. O artifício cênico da campanha psdebistas extrapolou a telinha. Não bastasse a atriz Regina Duarte cometer um papelão em rede nacional em 2002, o elenco tucano resolveu colocar em cena o potencial dramático da oposição brasileira.
A filósofa Marilena Chauí denunciou uma encenação pública arquitetada pelo ninho tucano, marcado para o dia 29 de novembro. A campanha televisiva do PSDB exibiu há poucos dias uma gravação da década de 80 do petista José Dirceu, que anuncia uma surra nas urnas e nas ruas dos tucanos. Portanto, a montagem de um cenário de guerra entre tucanos e petistas é factível.
Os tucanos pretendem infiltrar militantes com camisetas do PT nos atos finais da campanha de Serra. O objetivo é provocar arruaças e tumultos e depois responsabilizar o PT pela armação e violência.
Esse filme, contudo, não é novo. Ocorreu no dia 17 de dezembro de 1989, data do 2º turno entre os candidatos Lula e Fernando Collor de Mello. Naquele dia, houve a descoberta do cativeiro do empresário sequestrado Abílio Diniz e seus sequestradores foram apresentados à imprensa vestidos com camisetas do PT.
Há poucos dias na Lapa, a polícia apreendeu cabos eleitorais distribuindo panfletos apócrifos e ilegais contra Dilma. Outro dia, um caminhão em Passo Fundo (RS), distribuía saco de comida em troca de votos para José Serra. Noutro dia, no bairro do Cambuci, em São Paulo, uma gráfica tucana imprimia panfletos anti-Dilma. Definitivamente, todo o esforço republicano do presidente Lula vem sendo jogado na lama pela campanha demotucana.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

A vela dos intelectuais

Sócrates Santana

A verdade não deixou de ser importante. Mas, os dogmas e a irracionalidade ocupam mais uma vez o cotidiano eleitoral. A razão cochilou e, no segundo turno dessas eleições, os intelectuais resolveram despertá-la ao declararem voto à candidata petista, Dilma Rousseff.
Num mundo cada vez mais assombrado pelos demônios da razão adormecida, urge reacender as velas do esclarecimento. O candidato tucano viabilizou o segundo turno abraçado numa aliança com a ala mais reacionária da Igreja, o agronegócio e a nata do conservadorismo intelectual.
Por isso, a filosofa Marilena Chauí e o historiador Alfredo Bosi exortaram os intelectuais a se unir em torno da candidatura petista, depois de alguns terem votado em Marina Silva (PV) e Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) no primeiro turno.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Versões são versões

Sócrates Santana
Após um ano de governo petista na Bahia, no dia 06 de novembro de 2007, o governador Jaques Wagner concedeu uma entrevista à revista Caros Amigos, publicada na edição de dezembro daquele ano. Na oportunidade, teceu comentário sobre o fim do carlismo e a formação de uma nova hegemonia política no estado, sendo apontado pela opinião publicada, como um candidato à presidência em potencial nas eleições de 2010. A alternativa ventilada na imprensa encontrou guarita, inclusive, numa pergunta realizada pelo jornalista Sérgio de Souza. O repórter sugeriu que Wagner seria o “homem que o Lula iria beijar na testa”.
Veio 2010. Lula “beijou na testa” de Dilma. Wagner foi reeleito governador dos baianos. E, hoje, às 22h, concede entrevista para uma bancada de entrevistadores formada por Mônica Bergamo (colunista da Folha de S. Paulo), Luiz Fernando Rila (editor executivo e coordenador da cobertura eleitoral do Grupo Estado), Paulo Moreira Leite e Augusto Nunes (jornalistas fixos do Roda Viva), além do cartunista Paulo Caruso.
A sabatina pode revelar duas interfaces: o prelúdio de uma carismática alternativa para as eleições de 2014 ou mais uma entrevista de um cabo eleitoral da candidatura petista à presidência. O próprio Wagner costuma afirmar entre os seus pares que um bom soldado antevê a vontade do comandante. E não esconde de ninguém que o presidente Lula é quem detêm o leme do projeto político capitaneado pelo partido de ambos. As entrelinhas, contudo, falam por si.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

O mal amado

Sócrates Santana

O candidato tucano à presidência, José Serra, banaliza as promessas nessas eleições. De maneira leviana, o ex-governador de São Paulo estabelece sem consistência alguma, salário mínimo de R$ 600,00, aumento de 10% aos aposentados do INSS e ampliação do Bolsa Família. Ou seja: projeções meramente eleitorais, dotado de uma dose populista irresponsável.

O diário da família Frias Filho, a Folha de São Paulo, fez reportagem que apresenta o orçamento necessário para a execução das metas eleitorais de José Serra. São R$ 46,2 bilhões adicionais já em 2011: R$ 17,1 bilhões para o mínimo, R$ 15,4 bilhões para aposentadorias e R$ 13,7 bilhões para o Bolsa Família.

Sem dizer como irá multiplicar os recursos da União para tantas promessas, o demotucano promete investir uma vez e meia de tudo o que a União investiu em infraestrutura - estradas, portos, aeroportos e outras obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) - em 2009. Ou, em outros números, 2,5% do orçamento federal para este ano.

A motivação eleitoral é óbvia. Serra enfrenta o desafio de concorrer com a candidata petista, Dilma Rousseff, ungida pela popularidade inédita de um presidente que, em oito anos, de fato logrou transferir renda para as camadas mais pobres e incluir milhões de pessoas no mercado de trabalho.

As promessas de José Serra comprometem uma fatia incomensurável da receita, porque, retira a capacidade de investimento do Estado e empenha as finanças públicas. Se eleito, o tucano pode reeditar uma das duas célebres obras do dramaturgo Dias Gomes: “O Pagador de Promessas” ou “O Bem Amado”.

No primeiro, o protagonista Zé do Burro, carrega uma cruz até uma igreja de Salvador para cumprir solenemente uma promessa. No segundo, o prefeito fictício, Odorico Paraguaçu, promete nas eleições locais a construção de um suntuoso cemitério. Após o pleito, afunda todos os recursos da administração municipal na vala superfaturada da necrópole. Em qual das duas peças o leitor aposta que a campanha de José Serra foi inspirada?

Serra é do DEM

Sócrates Santana

A relação entre os tucanos e os democratas é ideológica. O primeiro é o autor intelectual da perversa engenharia política neoliberal. O segundo é o cão medieval dos coronéis, o agente do terror. Ambos, PSDB e DEM, revelam nessas eleições a verdadeira faceta de uma relação de poder ultra-conservadora, que elegeu o preconceito como o principal aliado de José Serra.
Se estivesse vivo, o ex-governador Mário Covas iria condenar veementemente os métodos medievais utilizados pelo o atual tucanato. A partir da escolha do vice-candidato à presidência, o deputado federal Índio da Costa (DEM-RJ), a campanha de José Serra inicia uma cruzada dogmática, que começa sugerindo hermenêuticas relações entre as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o Partido dos Trabalhadores. Índio da Costa assume o papel de Sarah Palin em território nacional.
Palin é a ex-governadora do Alasca que, um dia, sonhou ser a vice-presidente dos Estados Unidos ao lado de John McCain. Assim como Serra em relação ao DEM e PSDB, McCain não gravitava no eleitorado mais tradicional, alinhado radicalmente à direita. A solução encontrada por lá foi arrumar alguém que representasse tal discurso. No Brasil, o PSDB repetiu a tese.
Palin é portadora de um discurso moralizador e detêm uma beleza física natural. A versão tupiniquim usa calças, mas, não esconde a vocação de mocinho da novela das oito. Índio da Costa assumiu um papel que poderia ter sido interpretado pela senadora Kátia Alves (DEM), líder da bancada ruralista no Congresso Nacional. Homem ou mulher, o fato é que o parlamentar carioca abriu a catarse conservadora do candidato José Serra, rebaixando o debate a discussões sobre o aborto e a opção sexual dos candidatos. Felizmente, McCain perdeu a eleição para Barack Obama.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Cara e Coroa

Sócrates Santana*

A campanha de José Serra é demo-tucana. É, majoritariamente, demo, porque, utiliza de métodos historicamente vinculados ao jeito pelefelista de fazer política. Mentem, manipulam informações e, principalmente, se apossam de conquistas que não são atribuídas verdadeiramente ao modo demotucano de governar. No caso, a estabilidade econômica, o real e o saneamento dos bancos através do Proer não são conquistas do PSDB e do DEM. Mas, invenções eleitorais desastrosas para a economia brasileira.
O anúncio do Plano Real foi feito pelo ministro de 10 meses da fazenda (de 19/5/1993 a 30/3/1994), Fernando Henrique Cardoso, dando continuidade ao governo de Fernando Collor, assumido pelo vice-presidente, Itamar Franco. A equipe era formada pelos mesmos economistas que participaram do desastroso Plano Cruzado de Sarney. É o velho modo demotucano de criar factóides para inflar a opinião publicada com falsos argumentos.
Mas, o mérito do Real é do famigerado Rubens Ricupero, responsável pela implantação do Plano Real. O atual aliado de José Serra, o senador eleito Itamar Franco, acusa, inclusive, FHC de má fé. O ex-presidente FHC assinou de maneira irregular as notas da nova moeda, quando já não era mais ministro da fazenda. É o velho jeito demotucano de utilizar a máquina pública sem pudor.
Veio a primeira crise econômica em 15 de março de 1995. Uma crise que só ocorreu no Brasil, porque, não foi internacional. O mercado, como diria a colunista Miriam Leitão, estava calmo e favorável aos países emergentes. Só que o governo de FHC mexeu no câmbio de forma irresponsável ou amadora, por "suspeita de retorno da inflação". É o velho método demotucano de implantar o terror para combater o medo da inflação.
Cerca de US$ 2 bilhões de investidores estrangeiros saíram do país. O atual candidato a presidência, ministro do Planejamento de FHC, José Serra, juntamente com Pedro Malan, aumentou a previsão da taxa de inflação anual. Para completar o ensejo, FHC, Serra e Malan anunciaram a privatização da Companhia Vale do Rio Doce, considerada a mais eficiente das 136 estatais e o fim da reserva de mercado no setor bancário. Afinal de contas, é dando que se recebe, como diria Francisco de Assis. O problema é que o santo dava aos pobres. Os demotucanos dão aos ricos. É o velho artifício de fechar a economia para o mercado internacional e abri-lo em seguida privatizando empresas brasileiras
Veio a crise dos bancos de FHC. O “de” FHC é dúbio mesmo. Os bancos “de” FHC e a crise “de” FHC. Os bancos estavam viciados em auferir grandes lucros com a inflação alta. Daí a solução dos bancos veio através do Proer, lançado no dia 20 de agosto de 1995. FHC garantiu que não seria envolvido um único centavo dos contribuintes. Mas, o que ocorreu foi a maior doação da história do Brasil. Os destinatários da doação foram os donos dos bancos, que deram o calote no governo. Entre os beneficiados pela doação estatal o Banco Nacional, da nora de FHC; o Bamerindus, de José Eduardo de Andrade Vieira, ministro da Agricultura de FHC (grande financiador de sua campanha); e o Banco Econômico, de Ângelo Calmon de Sá, que por sinal já tinha sido socorrido pelo Geisel em 1976 (o da Pasta Rosa, que ajudava os "amigos dos banqueiros", dentre eles ACM, FHC, Serra).
Como diria o filosofo italiano Gramsci, “tudo muda para ficar sempre igual”. Serra, enquanto candidato demotucano, promete nessas eleições presidenciais salário mínimo de R$ 600,00. Uma invenção eleitoreira rasteira, despolitizada. Ou seja: é a cara do DEM com a coroa do PDSB na cabeça raspada de José Serra.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A outra esquerda

Sócrates Santana
Permeia nessas eleições uma sensação estranha. Um cheiro de óleo diesel. Uma tentativa de diluir diferenças, sucumbir ideologias. Paira um espírito palaciano. Um distanciamento das relações políticas. Todos são iguais. Uma verdade inconveniente. Há diferenças. São muitas. Desde a confecção de uma peça publicitária dos candidatos majoritários até a participação de comícios adversários.

Aparentemente, nessas eleições, basta vencer. Mas, o que significa vencer? Como vencer? Por quê vencer? Devo poupar, contudo, o leitor com a comum defesa da importância da continuidade do projeto iniciado pelo presidente Lula e o governador Wagner. Prefiro explicar que vencer significa continuar esse projeto, mas, principalmente, eliminar o outro projeto.

Para eliminar o outro projeto é necessário exaurir ao máximo a correlação de forças da direita ideológica: DEM e PSDB. Diminuir o número de parlamentares desses partidos é vital para tal objetivo. Isso exige um esforço concentrado em torno de candidatos ao senado, como Walter Pinheiro e Lídice da Mata. Mas, não basta.

A democratização da democracia baiana forjou um acentuado pluralismo partidário, que favorece os neoaliados. Esses tendem a se tornar tão exorbitantes que passam a ocupar a parte mais ampla da base de sustentação do governo Dilma e Wagner, relegando a esquerda às margens. Ou seja: não basta conter a direita ideológica (DEM e PSDB); também é necessário diminuir o tamanho da direita fisiológica (PMDB e PR).

Vencer no primeiro turno neutraliza no tabuleiro baiano DEM e PSDB, além de afastar das hostes do poder o ímpeto do deputado federal Geddel Vieira Lima (PMDB) e do senador César Borges (PR). Por um lado, o DEM sofre um desgaste natural, correndo o risco eminente de refletir uma rarefeita densidade eleitoral, abaixo do desempenho histórico de 25% dos eleitores baianos creditada ao carlismo. Por outro lado, o PMDB regional disputa o papel de opositor ao modelo vigente. Não cresce nas pesquisas, apesar de surgir como uma sombra para o DEM, quando oferece refúgio seguro para aliados de última hora, como o PR.

Mas, é impossível eliminar o outro projeto. É impossível, porque, os candidatos que compõem a base aliada viabilizam alianças entre o “novo” e o “velho” projeto. Uma guerra em que, no final, não há vencidos e vencedores, é uma guerra que não alcança seu objetivo. No momento em que optamos entrar no conflito, somos aliados ou de uma parte ou de outra. Nenhum movimento pode ser, simultaneamente, de esquerda e direita. Se tudo é esquerda, não há mais direita e, reciprocamente, se tudo é direita, não há mais esquerda.

*Sócrates Santana é jornalista.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Extirpar o DEM

Sócrates Santana

Há uma tentativa inócua de atingir um dos pontos mais fortes dos governos petistas: a transparência. Uma marca consolidada por intermédio da Controladoria Geral da União, criada no primeiro governo do presidente Lula. Ela já realizou trabalhos de fiscalização, por meio de sorteio, em cerca de 30% dos municípios brasileiros. Os recursos federais destinados a programas diversos e objeto de fiscalização chegam a mais de R$ 11 bilhões. Isso revela a qualidade do trabalho dos agentes da CGU, hoje em número superior a 2 mil analistas de finanças e controle. Somente no ano passado, a Advocacia Geral da União ajuizou 410 ações em todo o Brasil para ressarcimento à União de mais de R$ 200 milhões, objeto de irregularidades e desvios vários. Nunca antes na história deste país, o governo apertou tanto o cerco contra a corrupção.
A fiscalização aponta irregularidades na maior parte dos municípios brasileiros, mas a maioria das falhas são consideradas leves, decorrentes da inexperiência dos administradores. Ainda existem muitos municípios fiscalizados a partir de denúncias (fundamentadas) feitas pelos cidadãos, ou por solicitações do Ministério Público, da Polícia Federal ou de parlamentares. No início, sob a tutela do ex-governador Waldir Pires, houve a necessidade de acionar a Polícia Federal e o Ministério Público, diante da resistência de alguns gestores em fornecer as informações necessárias para a CGU.
Hoje, com o conhecimento e o respeito conquistado em todo o país, a CGU não tem mais esse problema. Mesmo os gestores que não gostariam de passar pela fiscalização, não ousam impor dificuldades às ações da CGU, tendo em vista o grau de aprovação do trabalho pela sociedade, mesmo nos municípios mais remotos do país. Entre os problemas mais graves constatados nos municípios fiscalizados estão obras inacabadas ou paralisadas, apesar de pagas; uso de notas fiscais frias e documentos falsos; simulação de licitações e outras irregularidades em processos de licitação, incluindo a participação de empresas fantasmas; superfaturamento de preços, falta de merenda escolar e de medicamentos; gastos sem licitação e não comprovação da aplicação de recursos.
Ainda existe uma necessidade muita grande de conhecer e disseminar entre os prefeitos e suas equipes as informações essenciais sobre a legislação que regula as licitações públicas e a aplicação dos recursos públicos, além da capacitação das comissões de licitações do município. Também é importante criar as condições para o bom funcionamento dos diversos conselhos comunitários encarregados de fiscalizar os programas, sobretudo os sociais.
Na Bahia, o governo avançou bastante no controle do gasto público, mas, especialmente, no controle e apuração de irregularidades enraizadas ao longo de sucessivos governos carlistas. Em 26 operações correcionais realizadas, por exemplo, 786 servidores foram exonerados após constatação de irregularidades. Entre as situações flagradas, está a de servidores que abandonaram há 20 anos o local de trabalho, mas que continuavam recebendo salários. As exonerações geraram uma economia anual de R$ 15,4 milhões na folha de pessoal. No total, a economia acumulada desde 2007 já alcança R$ 92 milhões. As apurações detalhadas foram possíveis após o Estado firmar parcerias com outros estados, União e prefeituras.
Mas, apesar deste esforço concentrado, o leque de gastos indevidos que ainda ocorrem no estado baiano continuam se perpetuando por grande parte da máquina estatal. Caso não haja uma integração conceitual e institucional dos entes federativos (União, Estado e municípios), ainda iremos restringir as ações do Estado a um percentual da sua real capilaridade e tamanho. A extensão da institucionalização, atraindo a sociedade civil organizada para dentro do controle do Estado, representa o único meio de fortalecer verdadeiramente os entes federados.
Por isso, o governador petista, Jaques Wagner, desde 3 de dezembro de 2007, trava uma disputa acirrada com a oposição no legislativo para aprovar a criação da Controladoria Geral do Estado da Bahia. A criação deste órgão no âmbito estadual significa extirpar da estrutura administrativa baiana uma série de práticas corrosivas, perpetuadas por décadas através de um modelo obscuro e contaminado por ingerências de ordem permissivas e fisiológicas. Nessas eleições, eleger uma bancada de maioria situacionista representa garantir a aprovação de projetos que atingem diretamente a vida dos baianos, dando condições estruturais para o Estado cobrir a população com os serviços sociais básicos, a partir do uso transparente e eficaz do erário público. Só assim iremos “extirpar o DEM da política brasileira”, combatendo o mal pela raiz.
*Sócrates Santana é jornalista.

domingo, 12 de setembro de 2010

Saudades do futuro

Socrates Santana

A Bahia está melhor. Os baianos de 2014 erradicaram o analfabetismo e o trabalho infantil. O esforço dos governos petistas alçou o estado à terceira economia do Brasil. A Ferrovia Oeste-Leste é a principal rota da produção industrial, agrícola e mineral do país. Ao lado do Porto de Aratu e de Salvador, o Porto Sul é responsável pelo o escoamento de urânio, cromo, bauxita, barita, magnesita, talco e salgema; além de cobre, bentonita, níquel, vanádio, a gipsita (gesso), ouro e diversos outros bens minerais produzidos por mais de 700 empresas instaladas em solo baiano.

Após a construção dos hospitais regionais de Juazeiro, Irecê, Santo Antônio de Jesus, Feira de Santana, Seabra e Serrinha, os leitos dos hospitais da capital baiana, a exemplo do Hospital Geral do Estado e do Subúrbio atendem baianos que residem, principalmente, em Salvador. Houve um rompimento de um ciclo vicioso de clientelismo, perpetrado pelas oligarquias políticas enraizadas no estado por décadas. Ninguém mais troca o voto pela simples disposição de uma ambulância ou carro para o transporte de pacientes enfermos. O SAMU 192 cobre 100% dos municípios no estado. A eficiência do Sistema Único de Saúde (SUS) na Bahia atinge a excelência, atraindo pessoas e empresas de toda a parte do país e do mundo.

Hoje o empresariado encontra as condições ideais para a implantação de unidades industriais no interior. A seqüência de dois governos progressistas viabilizou o acesso a serviços básicos a população. A telefonia móvel não é privilégio de poucos, saltando de 205 municípios para 417 em todo o estado. A internet já alcança 100% das cidades. Sem contar o atendimento médico de qualidade, centros de educação profissional focados nas vocações territoriais de cada região. A Bahia alcança em 2014 a marca histórica de acesso à luz e água de qualidade através do Programa Água e Luz para Todos em todas as cidades baianas.

Com um litoral de mais de 1,2 mil km de extensão, a Bahia, por intermédio do terminal pesqueiro na Ribeira (Enseada dos Tainheiros), em Salvador, e na Enseada do Pontal, próximo à foz do Rio Cachoeira, em Ilhéus, saltou de 35 para 70 toneladas de pescados por dia em apenas quatro anos. Isso representa um faturamento bruto diário de R$ 420 mil, considerando uma média de R$ 6 kg do pescado. As embarcações possuem mais facilidade na comercialização e no processamento do pescado, beneficiando municípios do Litoral Norte, Região Metropolitana de Salvador (RMS), Recôncavo, Baixo Sul e Litoral Sul. Ocorreu uma mudança no perfil da captura de pescados na Bahia, no passado, centrada na pesca artesanal.

O número de vôos internacionais ligando a Bahia à Europa, América do Sul e América do Norte cresceu 200%, passando primeiramente de 14 para 28 freqüências semanais, alcançando em 2014 a marca de 56 vôos internacionais. A Festa da Irmandade da Boa Morte, o São João, o Carnaval, as Micaretas, o verão de Porto Seguro, a Ponte Salvador-Itaparica, a Lavagem do Bonfim, o 2 de julho, a Chapada Diamantina, as praias de Ilhéus, o Rio São Francisco viraram roteiros turísticos nacionais e internacionais, ampliando o leque de atrativos da boa terra para todo o mundo.

Ah, mas que saudade eu tenho da Bahia de 2014. Ah, Bahia que não me sai do pensamento. Que não canso de projetar nas andanças pelo semi-árido, quilombos, povos ribeirinhos e indígenas. Uma Bahia mais plural e de todos nós. Saudades do futuro dos baianos.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Deslizes a vista

Sócrates Santana*

O cheiro de morte era avassalador. No momento - um trabalhador de alívio rachado - abre uma das portas de madeira da capela do hospital. No interior, mais de uma dúzia de corpos parados em um berço de baixo e no chão, envoltos em lençóis brancos. Aqui, um punhado de cabelos grisalhos espiou para fora. Lá, um joelho foi arremessado akimbo, como se as mãos estivessem no quadril e os cotovelos curvados para fora ou dobrados. Uma mão pálida alcançada através de um vestido azul que latejava na telinha. Ao expectador coube o papel de reanimar aquelas pessoas, sentir a pulsação delas, a deriva dos milhares de desabrigados do Morro do Bumba, em Niterói.
O corredor era como um necrotério improvisado. Um médico e duas enfermeiras trataram de esvaziar gradualmente a fila. Apressaram a morte de alguns pacientes, injetando-lhes doses letais de medicamentos. O cemitério hospitalar afogou as lágrimas dos familiares, soterrados por “deslizes” do Comitê da Integração Nacional e sucessivos governos brizolistas no município. A telinha não acompanhou o que ocorreu no hospital, mas, tratava de desvelar o novo estatuto de ética dos médicos, no bloco seguinte, enquanto a fila do SUS diminuía a cada injeção.
Após alguns meses, o médico e as enfermeiras foram detidos e prestaram depoimento sobre a conexão com as mortes de quatro pacientes. A fila era bem maior. O noticiário ouviu o doutor em cadeia nacional. Diminuir a dor dos pacientes, esse foi o argumento. O processo sumiu de vista. O doutor virou candidato em 2010. Eleito, escreveu leis para refazer o estatuto de ética dos médicos e garantir imunidade aos profissionais de saúde em caso de “catástrofes”, como os deslizamentos no Rio de Janeiro. Ele defende a mudança dos padrões de assistência médica em caso de emergência. Certa vez, no plenário do Congresso Nacional, argumentou que é impossível o consentimento informado durante os desastres e que os médicos precisavam ser capazes de evacuar os pacientes mais doentes ou mais gravemente feridos.
Mas a história do que aconteceu nos dias frenéticos no Rio de Janeiro não foi totalmente contada. Muito mais pacientes foram injetados. As investigações dão conta que pelo menos 17 pacientes foram injetados com morfina ou sedativo, ou ambos, após um esforço de recuperação. A autópsia constatou que grande parte dos pacientes não corria – sequer - risco real de morte, mas, isso nunca foi divulgado. Os jornalistas não possuem acesso aos laudos, que certamente, não existem mais ou nunca existiram. Os detalhes completos, talvez, nunca sejam conhecidos.

*Sócrates Santana é jornalista e às vezes escreve textos de ficção

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Oposição fracionada

Sócrates Santana*

Na prática, o governador Jaques Wagner acertou. A aproximação com o senador César Borges acolhia um estímulo do presidente Lula. Diga-se de passagem: Lula também queria Geddel Vieria Lima dentro da chapa de Wagner. Isso representaria a unificação do palanque nacional no estado. Mas, o peemedebista não acatou o pedido do presidente. Wagner encontrou uma nova alternativa na reabertura de diálogo com o PR. Suou, cedeu e trabalhou para esvaziar ao máximo a candidatura do principal adversário, o presidente do DEM, Paulo Souto. A missa saiu melhor que a encomenda. Wagner unificou o palanque nacional e a oposição na Bahia, numa única tacada. É a oposição em doses homeopáticas.

Apesar de não ter sido do jeito que o presidente Lula encomendou, a missa agrada a conjuntura nacional e, de quebra, resolve os problemas a vista dos partidos que compõem a atual base de sustentação do governo na Assembléia Legislativa da Bahia. Wagner afastou César Borges das hostes de Paulo Souto. Isso enfraqueceu ainda mais o palanque de José Serra na Bahia. Sobraram apenas duas alternativas para o senador republicano: Geddel ou Wagner. Mas, a partir das exigências apresentadas pelo PT, restou a César Borges cumprir com o principal acordo: manter o PR alinhado a candidatura nacional da petista Dilma Rousseff.

O clima plebiscitário estimulado pelo PT nacional e estadual é mantido. Por um lado, a candidatura de Dilma Rousseff garante Geddel, Borges e Wagner unidos. Digo, unidos pelo objetivo comum de elegerem a candidata do presidente. Por outro lado, Wagner satisfaz os anseios da centro-esquerda e enfraquece a candidatura do DEM, isolando Paulo Souto, sem PP e PR. Queiram ou não, César Borges continua representando a direita no estado. Não é, nem de longe, de centro. Por sua vez, Geddel ganha fôlego e esquece José Serra de uma vez por todas.

Por essas e outras, arrisco dizer que Wagner uniu a oposição de uma maneira que não agradou a própria oposição. O governador fragmentou as forças da oposição. Diferente de 2006, quando a oposição estava unida e afinada, em 2010 terá que disputar consigo mesma quem assume este papel. E, queiram ou não, na hora da disputa, não cabe usar uma máscara de dia e outra a noite. E apenas duas candidaturas não sofrem com essa crise de identidade no momento, que correspondem às candidaturas do DEM e do PT. Essas, sim, como água e óleo.

*Sócrates Santana é jornalista

quarta-feira, 31 de março de 2010

O Estado do Sim

Sócrates Santana

A candidata petista a presidência, Dilma Rousseff, no lançamento da segunda etapa do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2) fincou a principal bandeira eleitoral para este ano: a dicotomia do Estado mínimo versus o Estado de Bem-Estar Social. Apostou, mais uma vez, no caráter plebiscitário entre o PT e o PSDB, caracterizando o partido tucano como o partido do não. Ela disse: “O Estado mínimo que nos antecedeu era o Estado do não”.
Nunca foi tão latente o debate sobre a atuação do Estado na condução econômica do país. Mas, não é só economia. Os tucanos procuram sustentar o espírito de continuísmo da política macroeconômica. O presidente Lula, contudo, já apontou a direção, ao enfatizar desde o primeiro mandato que “é chegada a hora da política”. É assim no Brasil e no cenário internacional. Sem receio de apresentar para o mundo a maneira que o país cresce e distribui renda concomitantemente, o presidente brasileiro critica a ausência de regras no mercado, que favorece os aventureiros e oportunistas em prejuízo das verdadeiras empresas e trabalhadores.
Uma leitura mais apressada diria que existe uma contradição entre o discurso da candidata petista Dilma e do presidente Lula. A primeira afirma que o Estado mínimo é o Estado do Não. O segundo defende regras, ou seja, “não” a economia livre de mercado. Não há contradição. Sim, Dilma e Lula falam a mesma língua, dizem a mesma coisa e ambos criticam o Estado mínimo ao promoverem o Estado do Bem-Estar Social.
A candidata petista defende o argumento do Estado planejado e inclusivo, que fortalece as empresas públicas e financia investimentos do setor privado. É o Estado que diz “sim” ao desenvolvimento, “sim” ao crescimento econômico com distribuição de renda e “sim” a desconcentração dos investimentos do governo. O presidente Lula também diz “sim” ao dizer “não” aos inadmissíveis lucros privatizados dos especuladores e suas perdas invariavelmente socializadas. Lula diz “sim” ao “dizer “não” a desregulamentação do mercado financeiro, diz “sim” ao dizer “não” a falta de ética na economia.
A candidatura petista aprofunda a discussão sobre a participação do Estado. Aponta o que é desvalorizado pelos tucanos e valorizado pelos petistas e demais partidos da base aliada. A proposta tucana apresenta um governo que se encarrega de emagrecer o Estado e cortar nas despesas sociais, admitindo que mais policiais tomem as ruas e espanquem a reivindicação legitima dos trabalhadores. A proposta petista apresenta um governo que aumentou a participação da sociedade organizada dentro do Estado e encarou as despesas sociais como a melhor forma de investir e intervir na economia, respeitando os movimentos sociais. Por fim, é o Estado que se quer versus o Estado que se dispensa.

*Sócrates Santana é jornalista e assessor do governador Jaques Wagner (BA).

sexta-feira, 12 de março de 2010

ARTIGO: Somar é diminuir do outro lado

Sócrates Santana

O isolamento equivale ao suicídio político. Na corrida para evitar o cárcere de idéias e interesses, as três vias políticas em evidência na Bahia adiantam o passo para tirar a corda do pescoço de alguns e colocar em outros. PT, DEM e PMDB não medem esforços para aumentar o arco de alianças em torno das suas respectivas candidaturas na conquista pelo Palácio de Ondina. O movimento intenso dos bastidores é tamanho que é até difícil separar o que é camarim do que é palco. A máxima do período é agregar para ganhar, porque, quem empurra não aglutina.
Após a morte do senador Antônio Carlos Magalhães, ruiu um muro de diferenças entre personagens e grupos, anteriormente confinados a determinadas condutas e pensamentos. Isso possibilitou a aproximação de atores inimagináveis, bem como a separação de figuras que eram tidas como inseparáveis no passado. Mas, não é só. O argumento republicano do governador Jaques Wagner, desde o início do governo, preparou o terreno para o atual cenário de livre troca de gestos e alianças. Aparou as arestas internas do seu partido e minimizou as diferenças locais de cada município à querelas pessoais, de pouca serventia ao bem comum da população. Em 2006, Wagner comeu poeira o suficiente para apagar, em três anos, o risco no chão que separava carlistas e anti-carlistas.
É evidente que uns ganharam mais, como o próprio campo encabeçado por Wagner; enquanto outros ganharam menos, como o ministro Geddel Vieira Lima. Mas, quem definitivamente só perdeu foi o grupo liderado pelo presidente do DEM, o ex-governador Paulo Souto. Aos soluços, corre o estado para minimizar a debandada de aliados para os braços dos adversários. O DEM que tinha 153 prefeituras em 2005, diminuiu para 44 municípios, em 2008. Por outro lado, o PMDB manteve a estabilidade, já que encolheu apenas 3%, e o PT cresceu 152% nas eleições de 2008. Em 2005, o PT elegeu 27 prefeitos, 69 em 2008. O PMDB, em 2005, elegeu 117 prefeitos, já em 2008 elegeu 113. Isso significa que, além de perder (e muito) tamanho e espaço no pleito de 2008, o DEM ainda lamenta a saída de grandes puxadores de voto, a exemplo do deputado federal Fernando de Fabinho.
Apesar de afirmar que não escreve um livro de história, mas, o futuro da Bahia, o governador Jaques Wagner deixa claro que conhece bem os escombros da política brasileira e baiana. Em 1955, JK subtraiu numa manobra decisiva, que estimulou os integralistas do PRP a lançar Plínio Salgado, tirando votos da direita que iriam fatalmente para seu adversário em Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Espírito Santo. JK teria perdido se a direita tivesse votado em Juarez Távora. Na Bahia da época, em 1954, ascende ao governo baiano uma coligação de forças até então rivais, reunidas por obra de Getúlio Vargas: a UDN juracisista, o PTB getulista e uma dissidência do PSD, liderada por Antônio Balbino, eleito, assim, governador, depois de ter o capital político inflado por Vargas. A coligação derrotada reunia a fina flor da elite do Recôncavo e notórios políticos, inclusive o então governador Régis Pacheco, e seu antecessor, Octávio Mangabeira. Somar, portanto, é diminuir do outro lado.
Em 2006, na Bahia, Wagner reuniu a oposição histórica, atraindo legendas como PMDB, PDT e PPS para dentro deste bloco. Também soube aproveitar o período mais adiante, após a morte do senador. A falta de alinhamento entre a ala soutista e do deputado federal ACM Neto gerou desconforto ao senador César Borges, que decidiu sair do grupo denominado de carlista para ingressar no PR e assumir concomitantemente a direção regional do partido.
As alianças, ora, programáticas e estratégicas; ora, pragmáticas e táticas, encontram fôlego no sistema democrático, que por si só não combina com isolamento, o que propicia composições e aproximações. A partir deste princípio, ergue-se um debate que extrapola o velho revanchismo “nós contra ele”, que deflagra, finalmente, uma reflexão sobre o que é esquerda e direita, variações e o novo consenso da política baiana.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Um senador para cada Bahia

Sócrates Santana*

O senador João Durval por enquanto assiste de camarote a sucessão estadual. Não disputa uma das duas vagas destinadas para a Bahia no senado federal, nem esboça qualquer movimento no tabuleiro da esfera política. De longe, observa tranqüilo o jogo de interesses ao redor da composição das chapas majoritárias, especialmente, a encabeçada pelo governador Jaques Wagner. De fora, o senador contempla um cenário que impõe a formação de um quadro misto, que corresponda às novas e as velhas práticas da política baiana.
O ex-governador baiano representou em 2006 a vontade de romper com a vontade de um homem e ao mesmo tempo a manutenção, ainda que subliminar, da cultura patriarcal. Em 2010 a arredia política baiana adiciona ao maniqueísmo de outrora (nós contra ele) um tempero menos apimentado. Porém, mais complexo e cheio de pequenas sutilezas, próprias da democracia. O novo ingrediente é justamente o desgarrar do revanchismo, da política feita com o fígado em nome de uma revisão de conceitos e posicionamentos de ordem conjuntural.
Talvez, de Brasília, distante da cólera das ruas e da opinião publicada, o senador possa ver o período de transição que passa a cabeça do baiano. Por um lado, o fisiologismo dos cargos, a troca de favores e o mandonismo. Por outro, o alinhamento programático dos partidos, o reconhecimento meritório e o diálogo. Mais atrás, a tradição da família, o machismo e o personalismo. Mais adiante, a ascensão social pelo o esforço, o respeito ao gênero e o trabalho em equipe. Do Planalto, talvez, o senador perceba que qualquer uma das candidaturas ao cargo máximo do estado terá que compreender que a Bahia precisa – necessariamente – de mais dois senadores.
No encalço dos candidatos é exigida a escolha de nomes que possam agradar a gregos e troianos. Um problema que o patriarca da família Barradas Carneiro não teve no último pleito, já que compôs o bloco “nós contra ele”. No primeiro plano o enquadramento de um personagem que possua capilaridade no interior do estado. Alguém capaz de arregimentar lideranças do chamado bloco de centro-direito, que circule sem dificuldades no setor empresarial. É o caso de nomes como Otto Alencar, João Leão, José Ronaldo, João Gualberto, César Borges e, em alguns aspectos, o empresário Paulo Cavalcanti e os ex-governadores Waldir Pires e Nilo Coelho. São figuras, em geral, que têm a história marcada pela imagem (aliado ou adversário) do então senador Antônio Carlos Magalhães.
No segundo plano o alinhamento com a política nacional é indispensável. Uma imagem entrelaçada às candidaturas presidenciais e aos blocos partidários. Um nome novo, reconhecido pela população mais jovem e que tenha maior visibilidade na capital baiana. É o caso do prefeito de Salvador, João Henrique, o secretário Walter Pinheiro, o ex-prefeito Antônio Imbassahy e deputada Lídice da Mata. E mais nos bastidores, o senador ACM Jr., o comunista Haroldo Lima e o deputado Márcio Marinho. Sem exceção figuras que compõem uma ala da política baiana que está sintonizada a disputa nacional, principalmente, ao clima plebiscitário estimulado pelas duas e mais evidentes candidaturas a presidência da República: o governador de São Paulo, José Serra, e a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.
Do alto do Olimpo do poder o senador João Durval ocupa um lugar, sem dúvida, privilegiado no jogo de xadrez que se tornou a sucessão estadual. Vislumbra de longe o diagnóstico minucioso de cada cenário. Avista o entendimento que a política não é apenas uma questão de soma de um lado, mas, também diminuir do outro. Mas, deve assistir curioso mesmo ao movimento das peças do tabuleiro em volta das conseqüências morais de qualquer decisão. Porque, quem acredita estar livre da responsabilidade, por omissão, por aquilo que outros praticam, é tão culpado como aquele que age diretamente. Isso significa escolher com prudência e parcimônia, privilégio concedido - até então - apenas ao líder das pesquisas e ao único – seguramente - senador baiano, que não pode escolher, mas, pode assistir sem pagar nada por isso.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Uma conversa faz um governo

Sócrates Santana

De todos os avanços deste governo, a utilização do instrumento de consulta popular é um dos mais importantes. Porque, ao menos na democracia, a maioria das mudanças, ocorre a partir de um encontro, uma reunião, uma conversa. Alguns preferem o termo negociação, como queiram. Nós, contudo, optamos pela idéia republicana da governança. Isto é, a democratização da democracia.
O alargamento, a extensão, o aumento da esfera pública tem como princípio a participação institucional da sociedade civil na estrutura do Estado. Desde 2007, isso ocorre via orçamento participativo, conferências temáticas e na formação de conselhos estaduais, além das mesas permanentes de negociação. Ao invés de dividir tarefas e simplesmente estabelecer parcerias, preferimos compartilhar responsabilidades. Dividir significa separar ao meio. Tome cá. Compartilhar é o inverso, significa sempre repartir “com” alguém. Venha cá. Muitas dessas conversas resultam em ganhos reais, transpondo bandeiras de luta via criação de órgãos públicos pautados pela demanda dos segmentos sociais, como mulheres, quilombolas, juventude e povos indígenas.
Ao longo desses três anos, o governador incentivou ao máximo o diálogo permanente. A divisão entre quem fala e quem ouve foi diluída, ganhou uma interface e virou um sentimento de encontro. Wagner costuma falar sempre que tem oportunidade, que desde 2007, o argumento da força perdeu lugar para a força do argumento na Bahia. Ninguém é melhor que ninguém, ninguém existe isoladamente, tão pouco este município é mais importante do que aquele. A Bahia é uma só e todos os 417 municípios. Pôr um fim, numa conversa, significa sempre pôr um fim à política, que é a arte do encontro. E o fim da política significará sempre, duma forma ou doutra, o fim da liberdade.
Para nós, o encontro com a liberdade passa pela política e o encontro com a política, só existe por intermédio do diálogo. A partir deste princípio, o governo iniciou uma espécie de caravana por todo o estado. Em cada município é estabelecida uma conversa franca com a população, que sugere, reivindica e elogia as ações do governo. São verdadeiras audiências públicas com a presença do governador, que praticamente, pela primeira vez na história, esteve em todos os municípios baianos. Quem tem a oportunidade de acompanhar essas visitas aos municípios baianos, volta e meia ouve um burburinho aqui, um comentário acolá sobre o jeito de governar conversando com as pessoas do governador Jaques Wagner.
A presença do governo em todos os 26 territórios de identidade fomenta a esperança nas pessoas, porque, diferente de outrora, nesta gestão, as soluções não são concebidas dentro de um gabinete. Trata-se de uma prática disseminada por uma escola que o principal professor é o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. É a experiência de quem sabe que as soluções muitas vezes estão bem ao lado. Seja numa carta, num desabafo, ou na simples combinação de idéias, que só podem ser confrontadas se tiverem a oportunidade de – olhos nos olhos – debaterem.
Após três anos de governo, a forma democraticamente formal que herdamos adquiriu conteúdo e produziu musculatura institucional. As instâncias de decisão foram ampliadas e é plausível afirmar que a população já se apropriou do modelo de democracia substancial construído passo a passo por nós. Sem dúvida, é um legado que dificilmente será desfeito, porque, é sustentado por uma vontade geral, reprimida por décadas e consagrada por um governo transparente e republicano. Um sentimento correspondido por quem faz mais para quem mais precisa.

*Sócrates Santana é jornalista e membro da assessoria de imprensa do governador Jaques Wagner.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Música para os ouvidos da Bahia

Sócrates Santana*

Pra onde vai uma canção depois do acorde final? A pergunta soa só poética, mas, ao menos para 100 jovens do Núcleo de Estudos de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia (Neojibá), a resposta está perto da idéia do que poderíamos chamar de "fazer história". Tal sentimento aumentou após a edição número 30 da Revista Muito editada pelo jornal A TARDE, que deliciou os leitores com uma entrevista épica do pianista Ricardo Castro, novo diretor da Orquestra Sinfônica da Bahia (OSBA) e principal responsável por uma revolução feita de música de concerto para consertar uma lacuna histórica.
O pianista baiano, natural da cidade de Vitória da Conquista trocou a carreira de sucesso na Europa para transformar a Bahia no maior celeiro de jovens músicos eruditos do país. Depositou no novo governo a crença de uma política permanente de inclusão social da juventude por intermédio da música, inspirado no Sistema Nacional de Orquestras Infantis e Juvenis da Venezuela. Trata-se de uma política de Estado idealizada em 1975 pelo venezuelano José Antonio Abreu, que compreende hoje uma rede de mais de 210 orquestras na Venezuela, atendendo a cerca de 240 mil jovens em todo o país, em sua maioria de baixa renda.
A esperança de Castro enche todos de entusiasmo. Ela recoloca no debate público o papel do artista para a transformação da sociedade e o protagonismo juvenil na seara de qualquer discussão sobre políticas públicas. Sem dúvida, uma empreitada que desafia a lógica de um estado que ignorou por décadas a música e a juventude, e que engessou a nossa arte ao Carnaval de Salvador e as nossas crianças as latinhas. São simplesmente "música para os ouvidos" as palavras de Castro, que participa de uma nova vanguarda, desbravando a Bahia e diminuindo desigualdades ao lado de meninos e meninas da periferia. Em breve veremos a apresentação de um baianinho tão talentoso quanto o maestro venezuelano Gustavo Dudamel, que aos 27 anos atingiu a excelência, quando a maior parte dos músicos leva 40 anos. Dudamel foi convidado para substituir, a partir de 2009, o finlandês Esa Pekka-Salonen na direção musical da Filarmônica de Los Angeles.
A façanha não é pequena. Dudamel começou a estudar em 1999 na Orquestra Sinfônica Juvenil Simón Bolívar, vitrine da excelência do "Sistema", que revelou também o mais jovem contrabaixista da história da Filarmônica de Berlim Edicson Ruiz, admitido na orquestra aos 17 anos, e hoje com 21. Edicson foi abandonado pelo pai na infância, e trabalhava como empacotador em um supermercado para ajudar a mãe, até que entrou no "Sistema". Lá, foram disponibilizados todos os instrumentos: desde arcos de excelente qualidade até uma formação musical sólida, capaz de atender às altas exigências de qualidade da Europa.
Na Bahia, desde junho de 2007, Castro abriu a primeira seleção para crianças e jovens de 8 a 18 anos. Por aqui, o Neojibá ensina a tocar instrumentos como violino, viola, violoncelo, contrabaixo, flauta, oboé, clarineta, fagote, trompa, trompete, trombone, tuba e percussão. Jovens artesãos são, também, capacitados a reformar e fabricar instrumentos de corda. A primeira orquestra foi formada em 2007, 15 dias após o início dos ensaios, sob a regência do maestro venezuelano Manuel Lopéz Gomes. Desde então, foram diversas apresentações. Em abril de 2008 foi criada a Orquestrinha, grupo infantil que conta com o monitoramento dos membros da Orquestra Dois de Julho. Ao vanguardista, Ricardo Castro, a eterna gratidão dos baianos e da nossa juventude.
*Sócrates Santana é jornalista

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Romper: verbo transitivo

Sócrates Santana


Por muitos, a passagem do ano é encarada como uma ruptura. Uma mudança brusca, uma guinada de 180º. É compreensível refletir desta maneira, mas, diferente da habitual forma de separar a utopia e a realidade, distinguir o ontem e o hoje, dividir a vida e a morte, fender a alma e o corpo, espedaçar a experiência e a memória, interromper a correnteza de um rio e quebrar os dogmas a partir da dicotomia entre o certo e o errado, a ruptura delineia uma continuidade transitória da história e não o contrário. Romper, portanto, é transitar.

Na ruptura, o presente, o fugidio e o efêmero encontram a sua medida de passado. Neste entrelaçar, o que aconteceu, ocorreu, passou, sempre será a referência de um ponto de partida. Afinal de contas, a vida "são" páginas sobrepostas. Sendo assim, o que existe é o que ficou? Devagar com o andor, porque o santo é de barro. Apesar de conter em si a sua porção do que ficou o que existe também é o que virá. Isso significa dizer que a ruptura carrega consigo a vontade de mudar. Romper, portanto, é mudar.

O termo ruptura é um substantivo, oriundo do latim. O sufixo “ura” indica o resultado de uma ação. Não adianta imaginar – de olhos bem fechados - a sensação de aspirar dia 31 de dezembro e expirar adiante, simplesmente, 1º de janeiro. A mudança transita na vontade de aspirar e expirar, mas, principalmente, no desafio de caminhar, dar o primeiro passo. Sair do estágio de inércia, de quem espera as coisas acontecer por si só e escolher entre o sim e o não, que está no horizonte de qualquer decisão. Romper, portanto, é decidir.

Ao longo dos anos, evitei a ruptura por receio de não encontrar o amanhã, o futuro e perder tudo aquilo que já havia construído. Mas, entendi que romper é transitar entre o passado, o presente e o futuro sem medo deste, ser diferente, daquele; que romper é mudar para melhor, ou se não é melhor, é o que tenho vontade de fazer sem medo desta vontade passar e não me levar com ela; que romper é decidir caminhar sem medo de olhar para trás e perceber que o que ficou é mais seguro. Em 2010, romper é sinônimo de transitar até a felicidade.


*Sócrates Gomes Pereira Bittencourt Santana é jornalista.