segunda-feira, 2 de maio de 2011

O que será do PSD

Sócrates Santana


Não é tarefa fácil definir qual será o papel desempenhado pelo PSD na política nacional. A possibilidade do partido produz sintomas por todo o país profundamente ambíguos e conduzem qualquer observador a diagnósticos contraditórios. Se uns parecem sustentar, de modo convincente, que o PSD é um artifício do Palácio do Planalto para esvaziar a oposição ou uma espécie de PMDB alternativo, outros parecem defender, com igual persuasão, que o PSD é ele próprio uma oposição travestida, uma força tão heterogênea que relega a esquerda às margens.
A esfera pública vive dentro de um sistema público muito instável em que a mínima flutuação, inclinação, gesto ou movimento de um ator, seja vereador, prefeito, deputado ou governador, provoca rupturas em qualquer olhar, independentemente de que ângulo o observador esteja. Assim, olhando o PSD, ora vemos um vaso grego branco recortado, ora vemos dois rostos gregos de perfil, frente a frente, recortados sobre um fundo branco. Qual é o verdadeiro? Ambos e nenhum. É esta ambigüidade e a complexidade dela que mais intriga e impacta no partido criado pelo prefeito paulista Gilberto Kassab.
O PSD aparece num período de transição. E como tal, difícil de entender e de percorrer. Nesses momentos, tenho o hábito de voltar às coisas simples, à capacidade de formular perguntas simples, perguntas que, como Einstein costumava dizer, só uma criança pode falar, mas que, depois de feitos, são capazes de trazer uma luz nova à nossa perplexidade.
O progresso do PSD contribuirá para melhorar ou para corromper mais a política? Há alguma relação entre o PSD e o PT? Entre o PSD e o PSDB? Há alguma razão de peso para substituir o fisiologismo do PMDB que já é de conhecimento geral por um partido produzido por poucos e inacessível à maioria (o povo, não os políticos)? Contribuirá o PSD para diminuir o fosso crescente na nossa política entre o que se é e o que se aparenta ser, o saber dizer e o saber fazer, entre a teoria e a prática?
A fase de transição que vive hoje a política brasileira, que deixa perplexo o espírito mais atento e faz a esquerda, principalmente, refletir sobre os fundamentos da política, gera um impacto variado de distorções, ora pelo governo, ora pela oposição. Hoje, somos todos protagonistas e produtos dessa nova ordem, testemunhos vivos das transformações que ela produziu.
Mas, o fato é que não só a oposição, também a esquerda, esta perplexa, porque, perdeu a confiança de interpretar a crise; deixou instalar internamente uma sensação de perda irreparável tanto mais estranha quanto não se sabe ao certo o que estar em vias de perder; talvez, essa sensação de perda seja apenas o medo que sempre precede os últimos ganhos. No entanto, existe sempre a perplexidade de não sabermos o que haverá, de fato, a ganhar.
Daí a ambigüidade e complexidade deste período, elevada, sem dúvida, pela possibilidade do PSD. Daí também a idéia, hoje partilhada por muitos, de estarmos numa fase de transição. Daí, finalmente, a urgência de dar resposta a perguntas simples, elementares, inteligíveis. Numa época de hegemonia quase indiscutível da esquerda no país, a resposta à pergunta sobre o significado sócio-cultural da crise na esquerda, não pode obter-se sem primeiro se questionarem as pretensões do PT. É um partido para o poder ou o poder para o partido? O que será do PSD?