Sócrates Santana*
Não existe mais uma pedra no
meio do caminho do senador Aécio Neves. Ao menos, no PSDB. Afinal de contas, a derrota de José Serra não
significou apenas a vitória do PT em São Paulo. Representou o término de um ciclo
paulista no ninho tucano, onde a mensagem de despedida dos serristas à
presidência passou de um até logo para um adeus melancólico das urnas do seu
principal reduto eleitoral. “A festa acabou”, diria o poeta mineiro Carlos
Drummond de Andrade, que comemoraria hoje - se vivo fosse - 110 anos.
Em Minas Gerais, o PSDB
venceu em 143 municípios, enquanto o PT elegeu 114 e o PMDB 119 prefeituras.
Mas, restou ao PSB do governador pernambucano Eduardo Campos a cereja do bolo:
Belo Horizonte. Com o apoio de Aécio Neves, o prefeito reeleito Márcio Lacerda
(PSB) derrotou o ex-ministro Patrus Ananias (PT), apoiado pela presidenta Dilma
Rousseff. Mas, a única cidade acima de 200 mil eleitores governada pelo PT a
partir de 2013 em território mineiro será Uberlândia.
A disputa na capital mineira
serviu como uma prévia da eleição presidencial de 2014. De um lado, a aliança
entre o PSDB e o PSB. Do outro, a manutenção de um casamento temerário entre PT
e PMDB. Fora da disputa, após perder a eleição municipal para Fernando Haddad
(PT), o ex-presidenciável José Serra, com a chave na mão, “quer abrir a porta”,
mas, “não existe porta”, porque, Aécio Neves levou para Minas Gerais.
O
deslocamento político do ninho tucano para Minas Gerais é acelerado na mesma
medida que ocorre também um reposicionamento da hegemonia petista do nordeste de
volta para o eixo sul do país. Dos
eleitores a serem governados por prefeitos petistas a partir de janeiro, a
maioria absoluta (51%) estará no Estado de São Paulo. Além da capital, o
partido ganhou em municípios de peso na Região Metropolitana, como Guarulhos,
Osasco e São Bernardo do Campo.
A
ascensão do PSB nas cidades mais pobres do país simboliza também a redescoberta
de uma quarta força partidária no Brasil, antes ocupada pelo metafisico DEM/PFL,
reanimado com a vitória em Salvador e Aracaju. Porém, coube ao PSB fincar a bandeira no Nordeste, com a
conquista dos maiores contingentes de população em Pernambuco e no Ceará, no
Sudeste (Espírito Santo) e no Norte (Rondônia).
Apesar do esforço do
governador Geraldo Alckmin (PSDB), pouco restou de consolo ao desgastado José
Serra. O próprio ex-presidente Fernando Henrique Cardoso admite a necessidade
de renovação do PSDB, mesmo ante os chiliques do correligionário derrotado. Tem
que marchar, José! Nova ou velha, a escolha tucana é esquizofrênica e não
entrou no bonde da renovação proposta pelo PT de São Paulo, o PSB de Pernambuco,
o PMDB do Rio de Janeiro e, até mesmo, o conservador Democratas na Bahia. Mas, renovação
é coisa do PT. “José, pra onde?”, responde o mineiro Carlos Drummond de Andrade
a pergunta de José Serra. Pra onde?
*Sócrates
Santana é jornalista.