domingo, 31 de outubro de 2010

Uma nota na Folha de São Paulo custa R$ 600

Uma notinha publicada na Folha de São Paulo pela jornalista Renata Lo Prete custa R$ 600,00. O valor é correspondende a proposta de salário mínimo do candidato da família Frias Filho, o ex-governador paulista, José Serra.
A comentarista da Folha de São Paulo publicou nesta manhã de domingo (31) uma nota que induz o leitor a pensar que o presidente Lula aumentaria o salário mínimo na saída do governo por sugestão do candidato tucano.
A postura da repórter possui duas interpretações mais latentes: primeiramente, admite a vitória da candidata governista, Dilma Rousseff. Em segundo lugar, provavelmente, uma propaganda fajuta, sem qualquer consequência nas urnas. Porém, infelizmente, não deixa de ser uma triste constatação. Confira no link ao lado a notinha: Os últimos meses de Lula

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Menos PMDB

Sócrates Santana

O segundo turno da eleição presidencial deixou uma vela acesa na Bahia: o PMDB. O embate entre a candidata governista, Dilma Rousseff, e o candidato de oposição, José Serra, abriu uma fresta (não uma porta) para a agremiação baiana da legenda. A manutenção do pacto nacional selado entre o PT e o PMDB na Bahia, garantiu sobrevida para os correligionários baianos.

Entretanto, o discurso franco de oposição da candidatura pemedebista ao governo petista no estado fraturou uma relação política no âmbito regional com conseqüências venais para o rearranjo das forças no plano nacional. Isso significa menos espaço para o partido numa possível vitória da candidatura petista. Leia-se: menos espaço para o PMDB baiano no Governo Federal. Porque, como afirmou o governador Jaques Wagner em recente entrevista para o Roda Vida: "É bom governar com partidos como o PMDB, mas não é impossível governar sem eles".

Mas, é ingênuo avaliar em política a impossibilidade do diálogo. E este argumento ganha ainda mais força se quem estiver de um dos lados da conversa for o governador Jaques Wagner. Além de não calcular com o fígado, Wagner costuma deixar a la vonté os seus pares a tomarem as decisões que mais lhe convierem. Certamente, não será diferente com a candidata à presidência, Dilma Rousseff. Só que no galinheiro baiano quem canta de galo... é Wagner.

Ao deixar o ministério da Integração Nacional para concorrer ao Palácio de Ondina, o deputado federal Geddel Vieira Lima antecipou um movimento que poderia desaguar com mais naturalidade em 2014. Não quis esperar a fila e entregou de bandeja ao PT o argumento da traição. E como Wagner costuma falar: “A culpa da traição é do traidor”. E como também não gosta de deixar nada no ar faz questão de complementar: “Salvo se o traído repetir o erro por duas vezes”. E o governador não tem o hábito de errar mais de uma vez.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Serra é rejeitado

Sócrates Santana
As famigeradas pesquisas do sociólogo Demetrio Magnoli e do radialista Mário Kertész apontam uma rejeição recorde do candidato psdebista: 43%. O ninho tucano especula que a razão do alto indice de rejeição foi o tiro no pé deflagrado no Rio de Janeiro pela campanha de José Serra, após a agressiva bolinha de papel que atingiu a superficie lisa e calva do ex-governador de São Paulo.
Por outro lado, o rejeitado candidato à presidência, Aécio Neves, inicia uma caravana pelo país. O objetivo público é angariar votos para o também tucano José Serra. Mas, o senador eleito, Aécio Neves (PSDB), tem voto mesmo é no Estado de Minas Gerais. E Dilma cresce no estado.
Portanto, o objetivo público não traduz o verdadeiro interesse político do ex-governador mineiro. Ao consolidar o seu papel de protagonista na política nacional, assim como, fortalecer o nome internamente no PSDB, Aécio abre passagem para postular a presidência do Senado Federal.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Armação tucana à vista

Sócrates Santana

É difícil assistir em silêncio o teatro do candidato tucano José Serra. O artifício cênico da campanha psdebistas extrapolou a telinha. Não bastasse a atriz Regina Duarte cometer um papelão em rede nacional em 2002, o elenco tucano resolveu colocar em cena o potencial dramático da oposição brasileira.
A filósofa Marilena Chauí denunciou uma encenação pública arquitetada pelo ninho tucano, marcado para o dia 29 de novembro. A campanha televisiva do PSDB exibiu há poucos dias uma gravação da década de 80 do petista José Dirceu, que anuncia uma surra nas urnas e nas ruas dos tucanos. Portanto, a montagem de um cenário de guerra entre tucanos e petistas é factível.
Os tucanos pretendem infiltrar militantes com camisetas do PT nos atos finais da campanha de Serra. O objetivo é provocar arruaças e tumultos e depois responsabilizar o PT pela armação e violência.
Esse filme, contudo, não é novo. Ocorreu no dia 17 de dezembro de 1989, data do 2º turno entre os candidatos Lula e Fernando Collor de Mello. Naquele dia, houve a descoberta do cativeiro do empresário sequestrado Abílio Diniz e seus sequestradores foram apresentados à imprensa vestidos com camisetas do PT.
Há poucos dias na Lapa, a polícia apreendeu cabos eleitorais distribuindo panfletos apócrifos e ilegais contra Dilma. Outro dia, um caminhão em Passo Fundo (RS), distribuía saco de comida em troca de votos para José Serra. Noutro dia, no bairro do Cambuci, em São Paulo, uma gráfica tucana imprimia panfletos anti-Dilma. Definitivamente, todo o esforço republicano do presidente Lula vem sendo jogado na lama pela campanha demotucana.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

A vela dos intelectuais

Sócrates Santana

A verdade não deixou de ser importante. Mas, os dogmas e a irracionalidade ocupam mais uma vez o cotidiano eleitoral. A razão cochilou e, no segundo turno dessas eleições, os intelectuais resolveram despertá-la ao declararem voto à candidata petista, Dilma Rousseff.
Num mundo cada vez mais assombrado pelos demônios da razão adormecida, urge reacender as velas do esclarecimento. O candidato tucano viabilizou o segundo turno abraçado numa aliança com a ala mais reacionária da Igreja, o agronegócio e a nata do conservadorismo intelectual.
Por isso, a filosofa Marilena Chauí e o historiador Alfredo Bosi exortaram os intelectuais a se unir em torno da candidatura petista, depois de alguns terem votado em Marina Silva (PV) e Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) no primeiro turno.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Versões são versões

Sócrates Santana
Após um ano de governo petista na Bahia, no dia 06 de novembro de 2007, o governador Jaques Wagner concedeu uma entrevista à revista Caros Amigos, publicada na edição de dezembro daquele ano. Na oportunidade, teceu comentário sobre o fim do carlismo e a formação de uma nova hegemonia política no estado, sendo apontado pela opinião publicada, como um candidato à presidência em potencial nas eleições de 2010. A alternativa ventilada na imprensa encontrou guarita, inclusive, numa pergunta realizada pelo jornalista Sérgio de Souza. O repórter sugeriu que Wagner seria o “homem que o Lula iria beijar na testa”.
Veio 2010. Lula “beijou na testa” de Dilma. Wagner foi reeleito governador dos baianos. E, hoje, às 22h, concede entrevista para uma bancada de entrevistadores formada por Mônica Bergamo (colunista da Folha de S. Paulo), Luiz Fernando Rila (editor executivo e coordenador da cobertura eleitoral do Grupo Estado), Paulo Moreira Leite e Augusto Nunes (jornalistas fixos do Roda Viva), além do cartunista Paulo Caruso.
A sabatina pode revelar duas interfaces: o prelúdio de uma carismática alternativa para as eleições de 2014 ou mais uma entrevista de um cabo eleitoral da candidatura petista à presidência. O próprio Wagner costuma afirmar entre os seus pares que um bom soldado antevê a vontade do comandante. E não esconde de ninguém que o presidente Lula é quem detêm o leme do projeto político capitaneado pelo partido de ambos. As entrelinhas, contudo, falam por si.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

O mal amado

Sócrates Santana

O candidato tucano à presidência, José Serra, banaliza as promessas nessas eleições. De maneira leviana, o ex-governador de São Paulo estabelece sem consistência alguma, salário mínimo de R$ 600,00, aumento de 10% aos aposentados do INSS e ampliação do Bolsa Família. Ou seja: projeções meramente eleitorais, dotado de uma dose populista irresponsável.

O diário da família Frias Filho, a Folha de São Paulo, fez reportagem que apresenta o orçamento necessário para a execução das metas eleitorais de José Serra. São R$ 46,2 bilhões adicionais já em 2011: R$ 17,1 bilhões para o mínimo, R$ 15,4 bilhões para aposentadorias e R$ 13,7 bilhões para o Bolsa Família.

Sem dizer como irá multiplicar os recursos da União para tantas promessas, o demotucano promete investir uma vez e meia de tudo o que a União investiu em infraestrutura - estradas, portos, aeroportos e outras obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) - em 2009. Ou, em outros números, 2,5% do orçamento federal para este ano.

A motivação eleitoral é óbvia. Serra enfrenta o desafio de concorrer com a candidata petista, Dilma Rousseff, ungida pela popularidade inédita de um presidente que, em oito anos, de fato logrou transferir renda para as camadas mais pobres e incluir milhões de pessoas no mercado de trabalho.

As promessas de José Serra comprometem uma fatia incomensurável da receita, porque, retira a capacidade de investimento do Estado e empenha as finanças públicas. Se eleito, o tucano pode reeditar uma das duas célebres obras do dramaturgo Dias Gomes: “O Pagador de Promessas” ou “O Bem Amado”.

No primeiro, o protagonista Zé do Burro, carrega uma cruz até uma igreja de Salvador para cumprir solenemente uma promessa. No segundo, o prefeito fictício, Odorico Paraguaçu, promete nas eleições locais a construção de um suntuoso cemitério. Após o pleito, afunda todos os recursos da administração municipal na vala superfaturada da necrópole. Em qual das duas peças o leitor aposta que a campanha de José Serra foi inspirada?

Serra é do DEM

Sócrates Santana

A relação entre os tucanos e os democratas é ideológica. O primeiro é o autor intelectual da perversa engenharia política neoliberal. O segundo é o cão medieval dos coronéis, o agente do terror. Ambos, PSDB e DEM, revelam nessas eleições a verdadeira faceta de uma relação de poder ultra-conservadora, que elegeu o preconceito como o principal aliado de José Serra.
Se estivesse vivo, o ex-governador Mário Covas iria condenar veementemente os métodos medievais utilizados pelo o atual tucanato. A partir da escolha do vice-candidato à presidência, o deputado federal Índio da Costa (DEM-RJ), a campanha de José Serra inicia uma cruzada dogmática, que começa sugerindo hermenêuticas relações entre as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o Partido dos Trabalhadores. Índio da Costa assume o papel de Sarah Palin em território nacional.
Palin é a ex-governadora do Alasca que, um dia, sonhou ser a vice-presidente dos Estados Unidos ao lado de John McCain. Assim como Serra em relação ao DEM e PSDB, McCain não gravitava no eleitorado mais tradicional, alinhado radicalmente à direita. A solução encontrada por lá foi arrumar alguém que representasse tal discurso. No Brasil, o PSDB repetiu a tese.
Palin é portadora de um discurso moralizador e detêm uma beleza física natural. A versão tupiniquim usa calças, mas, não esconde a vocação de mocinho da novela das oito. Índio da Costa assumiu um papel que poderia ter sido interpretado pela senadora Kátia Alves (DEM), líder da bancada ruralista no Congresso Nacional. Homem ou mulher, o fato é que o parlamentar carioca abriu a catarse conservadora do candidato José Serra, rebaixando o debate a discussões sobre o aborto e a opção sexual dos candidatos. Felizmente, McCain perdeu a eleição para Barack Obama.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Cara e Coroa

Sócrates Santana*

A campanha de José Serra é demo-tucana. É, majoritariamente, demo, porque, utiliza de métodos historicamente vinculados ao jeito pelefelista de fazer política. Mentem, manipulam informações e, principalmente, se apossam de conquistas que não são atribuídas verdadeiramente ao modo demotucano de governar. No caso, a estabilidade econômica, o real e o saneamento dos bancos através do Proer não são conquistas do PSDB e do DEM. Mas, invenções eleitorais desastrosas para a economia brasileira.
O anúncio do Plano Real foi feito pelo ministro de 10 meses da fazenda (de 19/5/1993 a 30/3/1994), Fernando Henrique Cardoso, dando continuidade ao governo de Fernando Collor, assumido pelo vice-presidente, Itamar Franco. A equipe era formada pelos mesmos economistas que participaram do desastroso Plano Cruzado de Sarney. É o velho modo demotucano de criar factóides para inflar a opinião publicada com falsos argumentos.
Mas, o mérito do Real é do famigerado Rubens Ricupero, responsável pela implantação do Plano Real. O atual aliado de José Serra, o senador eleito Itamar Franco, acusa, inclusive, FHC de má fé. O ex-presidente FHC assinou de maneira irregular as notas da nova moeda, quando já não era mais ministro da fazenda. É o velho jeito demotucano de utilizar a máquina pública sem pudor.
Veio a primeira crise econômica em 15 de março de 1995. Uma crise que só ocorreu no Brasil, porque, não foi internacional. O mercado, como diria a colunista Miriam Leitão, estava calmo e favorável aos países emergentes. Só que o governo de FHC mexeu no câmbio de forma irresponsável ou amadora, por "suspeita de retorno da inflação". É o velho método demotucano de implantar o terror para combater o medo da inflação.
Cerca de US$ 2 bilhões de investidores estrangeiros saíram do país. O atual candidato a presidência, ministro do Planejamento de FHC, José Serra, juntamente com Pedro Malan, aumentou a previsão da taxa de inflação anual. Para completar o ensejo, FHC, Serra e Malan anunciaram a privatização da Companhia Vale do Rio Doce, considerada a mais eficiente das 136 estatais e o fim da reserva de mercado no setor bancário. Afinal de contas, é dando que se recebe, como diria Francisco de Assis. O problema é que o santo dava aos pobres. Os demotucanos dão aos ricos. É o velho artifício de fechar a economia para o mercado internacional e abri-lo em seguida privatizando empresas brasileiras
Veio a crise dos bancos de FHC. O “de” FHC é dúbio mesmo. Os bancos “de” FHC e a crise “de” FHC. Os bancos estavam viciados em auferir grandes lucros com a inflação alta. Daí a solução dos bancos veio através do Proer, lançado no dia 20 de agosto de 1995. FHC garantiu que não seria envolvido um único centavo dos contribuintes. Mas, o que ocorreu foi a maior doação da história do Brasil. Os destinatários da doação foram os donos dos bancos, que deram o calote no governo. Entre os beneficiados pela doação estatal o Banco Nacional, da nora de FHC; o Bamerindus, de José Eduardo de Andrade Vieira, ministro da Agricultura de FHC (grande financiador de sua campanha); e o Banco Econômico, de Ângelo Calmon de Sá, que por sinal já tinha sido socorrido pelo Geisel em 1976 (o da Pasta Rosa, que ajudava os "amigos dos banqueiros", dentre eles ACM, FHC, Serra).
Como diria o filosofo italiano Gramsci, “tudo muda para ficar sempre igual”. Serra, enquanto candidato demotucano, promete nessas eleições presidenciais salário mínimo de R$ 600,00. Uma invenção eleitoreira rasteira, despolitizada. Ou seja: é a cara do DEM com a coroa do PDSB na cabeça raspada de José Serra.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A outra esquerda

Sócrates Santana
Permeia nessas eleições uma sensação estranha. Um cheiro de óleo diesel. Uma tentativa de diluir diferenças, sucumbir ideologias. Paira um espírito palaciano. Um distanciamento das relações políticas. Todos são iguais. Uma verdade inconveniente. Há diferenças. São muitas. Desde a confecção de uma peça publicitária dos candidatos majoritários até a participação de comícios adversários.

Aparentemente, nessas eleições, basta vencer. Mas, o que significa vencer? Como vencer? Por quê vencer? Devo poupar, contudo, o leitor com a comum defesa da importância da continuidade do projeto iniciado pelo presidente Lula e o governador Wagner. Prefiro explicar que vencer significa continuar esse projeto, mas, principalmente, eliminar o outro projeto.

Para eliminar o outro projeto é necessário exaurir ao máximo a correlação de forças da direita ideológica: DEM e PSDB. Diminuir o número de parlamentares desses partidos é vital para tal objetivo. Isso exige um esforço concentrado em torno de candidatos ao senado, como Walter Pinheiro e Lídice da Mata. Mas, não basta.

A democratização da democracia baiana forjou um acentuado pluralismo partidário, que favorece os neoaliados. Esses tendem a se tornar tão exorbitantes que passam a ocupar a parte mais ampla da base de sustentação do governo Dilma e Wagner, relegando a esquerda às margens. Ou seja: não basta conter a direita ideológica (DEM e PSDB); também é necessário diminuir o tamanho da direita fisiológica (PMDB e PR).

Vencer no primeiro turno neutraliza no tabuleiro baiano DEM e PSDB, além de afastar das hostes do poder o ímpeto do deputado federal Geddel Vieira Lima (PMDB) e do senador César Borges (PR). Por um lado, o DEM sofre um desgaste natural, correndo o risco eminente de refletir uma rarefeita densidade eleitoral, abaixo do desempenho histórico de 25% dos eleitores baianos creditada ao carlismo. Por outro lado, o PMDB regional disputa o papel de opositor ao modelo vigente. Não cresce nas pesquisas, apesar de surgir como uma sombra para o DEM, quando oferece refúgio seguro para aliados de última hora, como o PR.

Mas, é impossível eliminar o outro projeto. É impossível, porque, os candidatos que compõem a base aliada viabilizam alianças entre o “novo” e o “velho” projeto. Uma guerra em que, no final, não há vencidos e vencedores, é uma guerra que não alcança seu objetivo. No momento em que optamos entrar no conflito, somos aliados ou de uma parte ou de outra. Nenhum movimento pode ser, simultaneamente, de esquerda e direita. Se tudo é esquerda, não há mais direita e, reciprocamente, se tudo é direita, não há mais esquerda.

*Sócrates Santana é jornalista.