terça-feira, 31 de janeiro de 2012

A última vareta

Sócrates Santana

O legislativo baiano é a última vareta. Quem já brincou com este jogo sabe do que estou falando. Com a ascensão do ex-deputado estadual Zilton Rocha até a presidência do Tribunal de Contas do Estado (TCE) restou apenas a Assembleia Legislativa da Bahia. Visto de longe pela opinião pública, o deputado estadual Marcelo Nilo (PDT), aparentemente, não percebe o cordão de isolamento montado ao seu redor.
É minado lentamente. Um pouco por dia. De um lado, o presidente da União dos Prefeitos da Bahia (UPB), Luiz Caetano. O prefeito de Camaçari faz o dever de casa do partido. Caetano segue a risca a cartilha do governador. Avança, principalmente, no terreno inimigo. Como diria o professor Rômulo Almeida, sangra o adversário por dentro. Em sintonia com o recém empossado secretário da Casa Civil, Rui Costa, o presidente da UPB organiza e planeja a ação municipal da base aliada nas eleições de 2012.
Enquanto isso, do outro lado, um staff composto pelo líder do governo, Zé Neto, o líder do PT, Yulo Oiticica, e os demais parlamentares petistas. Ao todo, 14 deputados escondidos pelos os holofotes das eleições municipais. Sem alarde, reaproximam a base aliada, especialmente, o PSD e o PP, dentro do parlamento baiano sob o argumento das alianças locais. Devagar, o governador tira todas as varetas sem se tocarem. E, pouco a pouco, alguém vai ficando sozinho, acompanhado pela solidão que o trai até o último fio de cabelo. Aí, vira uma inútil batalha em que você está certo de fazer o papel de vencido.
Portanto, não será nenhuma surpresa assistir a alternância de poder no legislativo baiano. Talvez, não seja um presidente petista. Talvez, seja necessário até mesmo ceder a liderança do governo para um aliado mais próximo, comprometido com a estratégia de eleger um governador do PT. Mas, certamente, o próximo não será Marcelo Nilo. Porque, ou se é governador ou se é presidente da Assembleia. Ou seja: não é possível desvendar as miudezas das eleições municipais ao mesmo tempo que se decifra os sons dos corredores e da sala do cafezinho. São mundos iguais, porém, cheios de idiosincrasias próprias. E um só, não pode lidar com tantas varetas assim. No fim, se ver nu e só, acreditando que está combatendo alguma coisa que não existe, que é um delírio de sua cabeça.


quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O dono do jogo

Sócrates Santana*

O jogo sucessório começou a soar o seu brado retumbante na Bahia. Degrau por degrau, a fila da sucessão, como anunciou o ministro Afonso Florence, vem sendo construída aos poucos por Jaques Wagner. A saída de Eva Chiavon, o retorno de Rui Costa e o ingresso de José Sérgio Gabrielli, organizaram as cartas das eleições de 2014. Ao menos, o jogo nas mãos do governador. E ele ainda possui três cartas escondidas, entre elas, Moema Gramacho e Walter Pinheiro.
Por um lado, a prefeita de Lauro de Freitas consolida a sua sucessão com as próprias mãos. Filiou o vice-prefeito no PT e pode sair da prefeitura sem maiores perdas para assumir uma secretaria, a exemplo da Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza. No caso, o vice, João Oliveira, seria o candidato a reeleição e o atual secretário Carlos Brasileiro substituído por Moema para disputar as eleições de Senhor do Bonfim.
Por outro, o senador Walter Pinheiro. Em baixa, ante o ingresso de Rui Costa e José Sérgio Gabrielli, o primeiro senador petista no estado, desceu alguns degraus da escada montada por Jaques Wagner. Ainda assim, continua sendo uma alternativa viável, apesar de cada vez menos consultado pelos demais jogadores, especialmente, dentro do PT.
Aparentemente, os demais partidos aliados estão fora do baralho. Aparentemente, falta o governador combinar o jogo com os russos. Aparentemente, ainda resta uma carta para fechar a conta de Jaques Wagner. Mas, as aparências enganam. Ninguém está fora. Todos estão dentro.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Quem? Pelegrino? Isolado? Besteira!

Sócrates Santana

O deputado federal Nelson Pelegrino (PT) não está isolado. E quem insinua ou repercute tal asneira ignora totalmente o atual cenário de governabilidade do país e do estado. Primeiro, porque, o chamado “modelo petista” está em plena ascensão no país e nos municípios. Segundo, porque, o nome do parlamentar petista conseguiu unificar de maneira antecipada o partido mais heterogêneo da base aliada do governador Jaques Wagner: o próprio petê. Ou seja: seja o DEM, seja o PMDB, quem possui uma candidatura com a capacidade de dialogar com mais partidos que o PT?

Sem prévias, o candidato que a militância petista escolheu - consensualmente - para representar o partido nas próximas eleições municipais tem o apoio de um governador, um senador, 10 deputados federais, 14 deputados estaduais e 7 vereadores. Quem entre todos os candidatos possui maior representatividade partidária na Bahia?

E mais: nem o PMDB, nem o DEM, apontam um arco de alianças capaz de arregimentar tantos partidos num único projeto eleitoral. Por um lado, o DEM está enjaulado ao inexpressivo PSDB baiano, que ainda carrega consigo a pecha malograda do tucanato nacional. Por outro, o PMDB sofre de uma esquizofrenia shakespeariana - politicamente - sem solução: estou na situação ou na oposição, eis a questão?

Ainda resta salientar a falta de opção dos demais partidos que projetam suas candidaturas, a exemplo do PcdoB e do PSB. A foice comunista incita uma rebelião ancorada no PSB, mas, só. O martelo, entretanto, apenas será batido se a senadora socialista, Lídice da Mata, contrariar uma estratégia arquitetada pelo governador pernambucano, Eduardo Campos. Um gesto precipitado dela para afagar o descontentamento do PCdoB coloca em risco um projeto de longo prazo projetado pela cúpula nacional do partido, que inclui o quarto colégio eleitoral do país.

Se sair, o PCdoB desfilará no bloco do eu sozinho, já que não consegue absorver o PP, nem o PRB, nem o PDT. Caso atraía a adesão do PMDB baiano, por exemplo, também coloca o pé para fora do governo petista. É um rompimento que, talvez, o próprio PT gostaria que ocorresse.

Aos demais partidos, PDT, PP, PRB e PTB, nenhuma outra alternativa. Resta a adesão, conflagrando entre eles a disputa pela vice de Nelson Pelegrino, porque, a desistência do deputado federal Marcos Medrado (PDT), a incompatibilidade doutrinária entre o PRB e os demais aliados, assim como, o beco sem saída da administração tampão do PP na prefeitura de Salvador, levam o rio para uma única direção: o mar vermelho do PT.

Por fim, a candidatura do deputado federal Nelson Pelegrino não está isolada, porque, apesar de toda a contrariedade dos demais com a aparente onipresença petista, nenhum deles consegue enxerga no outro um espelho que reflita os seus interesses tão bem quanto o principal objeto das suas discórdias: o PT. Talvez, o maior desafio do nome petista esteja – exatamente – na inversão de posições das peças do atual tabuleiro da base aliada. E para tal, possui uma carta na manga chamada PSD. E se o PSD inflamasse os demais, não abrindo mão da vice? Sem dúvida, isso colocaria em evidência as verdadeiras cartas na mesa.

*Sócrates Santana é jornalista e responsável pelo perfil no twitter @SocrateSantana