quinta-feira, 18 de novembro de 2010

O patinho feio

Sócrates Santana

O termo “patinho feio” é uma pecha atribuída pela história ao Partido Democrático Trabalhista. O deputado estadual Marcelo Nilo, talvez, não esteja familiarizado. Afinal de contas, o parlamentar mais votado entre os baianos não é nenhum getulista, tão pouco brizolista. Ao contrário, volta e meia, arrota o orgulho de ter tido a ficha de filiação ao PSDB abonada pelo próprio Mário Covas. Mas, não é bem assim. No que pese a gratidão ao legado tucano, o atual presidente do legislativo baiano, fez parte de um pacto nacional orquestrado pelo ministro pedetista, Carlos Lupi, que abonou o ingresso de Nilo ao PDT.

O acordo entre o ministro e o governador Jaques Wagner firmou uma aliança que vai além da manutenção da governabilidade no legislativo baiano. Uma aliança, diga-se de passagem, extremamente rentável para a legenda brizolista, porque, viabilizou o ingresso ao PDT de quatro parlamentares. São eles, Emério Resedá (PSDB), João Bonfim (sem partido), Paulo Câmera (PTB) e o ex-tucano, Marcelo Nilo. E, claro, como poderia esquecer: o comando da Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia.
Engana-se, contudo, quem avalia o movimento do governador como mero lance de cooptação, desvinculado da pauta nacional. Wagner é um homem de projeto. Não ignora as origens partidárias da presidente eleita, Dilma Rousseff, ao brizolismo. O governador sabe qual é o papel do partido pedetista. Reconhece o caráter decisório da legenda no âmbito federal. Ao garantir a manutenção do PDT no núcleo de poder da esfera pública baiana, Wagner fortalece ainda mais a relação entre União e Estado. E Marcelo Nilo?
O presidente do legislativo baiano não é nenhum daqueles intelectuais da USP que sonhavam desmontar a “herança populista” de Vargas, Brizola e Jango. Afinal, o PSDB tentou desmontar a herança de Vargas. FHC disse – num discurso pouco antes do início de seu primeiro governo – que esse era o objetivo dele: enterrar Vargas. E tentou. Mas, ao contrário de um tradicional tucano, Marcelo Nilo é um populista nato. Nasceu para o PDT. E como tal, aprecia as proezas do Estado Novo de Getúlio Vargas. Não é toa que tenta o terceiro mandato na Assembléia Legislativa da Bahia. E como confessou o próprio presidente Lula: “Eu até queria continuar”, quem não quer? Mas, democracia é isso.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Se hay gobierno, soy a favor

Sócrates Santana
De oposição a ditadura militar (1964-1985), o que sobrou do Movimento Democrático Brasileiro convalesceu diante das facilidades do poder. O PMDB personificou o sentido de fisiologismo no país. O ranço ganhou proporções devastadoras, empurrando o principal aliado do governo petista para uma decisão crucial para a própria manutenção partidária da legenda: a construção de uma candidatura presidencial.
A entrevista concedida pelo líder do PMDB na Câmara Federal, Henrique Eduardo Alves (RN), revelou um partido maduro, seguro do papel que exerce sobre o tabuleiro político de Brasília. “O PMDB é, hoje, um novo partido”, frisou o líder do partido.
O pemedebista ainda expõe ou impõe – digamos assim – a fragilidade do próximo governo, creditada a suposta figura inexpressiva da presidente eleita. “Não teremos mais o Lula, que matava no peito e resolvia as questões”, sem deixar de sentenciar a condição de dependência da presidente em relação ao partido. “Dilma vai ter que ser muito mais ajudada pelo conjunto dos partidos. Nós vamos ajudar”. Quem viver, verá.

A insustentável leveza do DEM

Sócrates Santana

É notória a fragilidade partidária do DEM. Apesar de recusar a idéia de fusão com outras agremiações, os democratas colocam em evidência um balão de ensaio, expondo para os adversários dois cenários: o primeiro, de que o partido encontra dificuldades para manter a unidade interna perante o assédio da base governista; o segundo, de que é possível a convergência com outras legendas, mas, numa determinada situação de rearranjo das forças oposicionistas.

Na Bahia, por exemplo, a tese que deflagra a insustentável leveza do DEM ganha fôlego nos bastidores. Já no processo eleitoral, o ingresso do ex-conselheiro Otto Alencar para a chapa do governador Jaques Wagner, incluiu nas rodas de conversas, o distanciamento do deputado estadual Gildásio Penedo das hostes carlistas. Penedo é casado com a sobrinha de Otto, Roberta Alencar, e responde por uma votação atribuída ao padrinho político. Homem de partido, contudo, Penedo, contesta a saída da agremiação.

Um outro provável dissidente é o deputado estadual reeleito, Rogério Andrade (DEM), que sonda ou vem sendo sondado pelo ex-secretário estadual de Infra-Estrutura, João Leão, deputado federal reeleito pelo Partido Progressista (PP). A mudança do DEM para o PP ocorreria mediante a possibilidade do pepista apoiar Rogério Andrade para a prefeitura de Santo Antônio de Jesus.

No franzir dos olhos, portanto, uma revoada vem sendo anunciada, mesmo sem o consentimento da direção nacional do partido, minado pela base por PSDB, PR, PP e PMDB. É claro que o argumento da fusão pode ter sido plantado pela base governista. Porém, as mensagens cifradas traduzem um sentimento que brotou de dentro do partido.

As perspectivas, contudo, variam conforme a projeção das alianças em curso. O presidente nacional do DEM, Rodrigo Maia, revelou em recente declaração, por exemplo, a distinção entre os democratas e os tucanos: “O DEM tem uma posição de centro-direita e o PSDB se enxerga mais como sendo de centro-esquerda”. Ou seja: o DEM está para o PSDB, assim como o DEM está para o PMDB. E o PSDB está para o DEM, assim como o PSDB está para o PSB.

O fato é que apesar dos democratas terem sido tachados como um fardo eleitoral pela opinião pública, nas urnas revelou possuir uma identificação latente com uma parcela significativa do eleitorado de viés ultra-conservador. E em política é leviano afirmar que "desta água nunca beberei".

Agenda de Lula 09/11/2010

Horário Local de Maputo/Moçambique: mais 4h em relação a Brasília
11h10 - Visita às instalações do Instituto Nacional de Educação a Distância (INED) Campus de Matemática da Universidade Pedagógica (UP), Lhanguene Maputo
11h30 - Aula inaugural por ocasião da instalação do Polo da Universidade Aberta do Brasil, no INED
Biblioteca do INED
13h - Almoço privado
Hotel Polana
16h - Encontro com empresários brasileiros que atuam em Moçambique
18h05 - Encontro com o presidente de Moçambique, Armando Guebuza
Palácio da Ponta Vermelha
19h05 - Assinatura de atos
19h15 - Jantar oficial em homenagem ao Presidente da República, oferecido pelo presidente de Moçambique, Armando Guebuza

O métier de Wagner

Sócrates Santana

A composição do governo petista no estado baiano retorna para o métier do Palácio de Ondina. A distribuição dos cargos está de volta à mesa do governador. Felizmente, Jaques Wagner adquiriu mais musculatura política após o processo eleitoral. Venceu no primeiro turno, elegeu mais dois senadores alinhados ao projeto estadual, aumentou a bancada federal de sustentação ao governo Dilma e construiu uma maioria confortável no legislativo baiano.

Apesar do esforço de Wagner, contudo, a suposta hegemonia ainda não está consolidada na política baiana. Bastou terminar a corrida eleitoral para os partidos aliados e neo-aliados, iniciarem uma disputa despolitizada pela ocupação de espaço na máquina administrativa do estado. Seja no âmbito do poder legislativo, seja no poder executivo, que cabe ao governador, propriamente dito, apoderar ou não, a discussão das idéias estão sendo subjugadas pela simples conta das urnas.

Wagner, portanto, ainda não alcançou a almejada hegemonia das mentes e corações da esfera pública, porque, a convicção continua sendo a que os cargos comandam as idéias. E o governador não pensa assim, porque, isso não é verdade. O governador tem a oportunidade neste segundo tempo da sua gestão de romper com a tradição brasileira de compor o governo conforme os “arranjos pelo alto” em detrimento da pressão “de baixo”.

Os partidos possuem legitimidade para indicarem quadros políticos capacitados para darem andamento às ações governamentais em curso no estado. Mas, primeiramente, o arco de alianças firmado entre as legendas coligadas à candidatura petista selou um pacto com a população e uma série de segmentos organizados da sociedade civil. Cabe, assim, escutar o clamor de setores da sociedade baiana, que participaram e propuseram em conferências, conselhos, mesas de negociações e na campanha em si, diversos indicativos para o aperfeiçoamento das diretrizes deste governo.

A Bahia ainda vive um momento de transição e mudanças. Esses são os instantes mais significativos da sociedade, porque, afloram a disputa acerca de projetos e perspectivas sobre aquilo que virá. O novo torna-se objeto de contestação e enfrentamento pelos grupos que desejam obstruí-lo, sofrendo a pressão do velho, que insiste em permanecer e que procura manter de todas as formas sua influência. Mas, se o sono da razão gera monstros, como diria os filósofos frankfurtianos, mantenhamos um olho no padre e outro na missa, como diria o povo.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Apressado, come cru

Sócrates Santana
Em maio de 1974, o jornalista Carlos Lacerda confessou: “O momento culminante da minha vida pública foi chegar ao poder. O poder é muito bom. Não adianta querer enganar”. Apesar de pragmática, após as eleições, a única pauta de qualquer discussão dos bastidores é quem está e estará mais próximo do poder. Leia-se: quem foi eleito e quem não foi; quem será ministro ou secretário; quem tem mais ou menos poder.
Na dianteira da agenda política a base governista. Seja no âmbito federal, seja no âmbito estadual. A oposição reúne os frangalhos, aqui e acolá, aparece na imprensa, mas, todos, todos os holofotes estão voltados para os aliados dos governos. Na Bahia, a bola da vez continua com o governador Jaques Wagner.
Wagner possui gordura de sobra para queimar. Leia-se: gordura política. A vitória em primeiro turno lhe garantiu a autonomia necessária para decidir como e quem serão os seus respectivos auxiliares e interlocutores. Portanto, aos afoitos um ditado popular comumente utilizado pelo governador dos baianos: “Apressado, come cru”.

Como diria Ciro Gomes...


quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Sem PSDB

Sócrates Santana*

Sem o retrovisor dos oito anos do governo FHC, o PSDB pode, finalmente, desvencilhar a imagem do partido do período da história caracterizado pelas políticas neoliberais. Derrotado pela terceira vez consecutiva, tendo como agravante o esconde-esconde dessas eleições das eventuais conquistas atribuídas aos governos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o modelo apresentado pelo o tucanato perdeu o prazo de validade. Sem perceber ou sem saber como fazer, o PSDB se viu, sem projeto, sem discurso, sem sequer, um programa de governo para a disputa presidencial.

Coube ao ex-governador de São Paulo atirar a esmo. Ao não encarar o debate político, restou as fáceis promessas de campanha, sem argumento, sem respaldo e sem identificação com os problemas da sociedade, porque, as promessas não contam para qualificar um candidato como representante de um setor social. Ou seja: Serra representou mal quem desejava ser representado pelo o PSDB. Ao esconder FHC, apagou o PSDB da história do país.

O ex-presidente tucano tem razão numa coisa: o PSDB, de fato, tem que assumir sua real posição no cenário político. Só que não será uma tarefa fácil. Talvez, o maior problema dos tucanos esteja justamente na composição do próprio partido, especificamente, no caráter paulistano das políticas adotadas pelo partido. Há 16 anos à frente do Estado mais rico da Federação, São Paulo, o centro nevrálgico do partido, o PSDB perdeu a noção do país.

A hegemonia paulista do PSDB provocou mais estragos do que trouxe votos no resto do país. O partido não consegue, com esse discurso, ultrapassar uma barreira de rejeição que o PT carregou até as eleições de 2002. Mas, o “até logo” de Serra mostra que a cúpula paulista não vai abrir mão da manutenção do comando do PSDB.

À esquerda de Dilma

Sócrates Santana

A coalizão entre o PT e o PMDB, beneficiou o PSB. O partido socialista assumiu o papel de aliado programático da candidatura petista. Ao PMDB, diferentemente, coube a carapuça de um mal necessário para a eleição de Dilma Rousseff. A distinção entre os partidos, PSB e PMDB, colocou o PT numa posição ambígua, que beira a esquizofrenia ideológica. Por um lado, árbitro de uma rede de interesse distintos, que podem empurrar os principais aliados para as hostes do PSDB. Por outro, vítima de uma descaracterização política, oriunda da influência peemedebista, ou de um esvaziamento das esquerdas, que encontram refúgio no PSB.
Para o bem ou para o mal, contudo, o PT continua sendo o fiel da balança. Seja ao manter Ciro Gomes e Eduardo Campos à esquerda do governo; seja ao estabilizar a governabilidade ao lado de Michel Temer e José Sarney. O malabarismo em questão implica no equilíbrio entre o modelo comumente dicotômico da política brasileira (PT versus PSDB) e o universo pluralista em desenvolvimento no país. De uma esquerda que tende a ver o centro como uma direita camuflada, ou de uma direita que tende a ver o mesmo centro como o disfarce de uma esquerda que não deseja declarar-se enquanto tal.
À esquerda de Dilma, o partido socialista elegeu 6 governadores, 35 deputados federais e 4 senadores. Mas, não foi só. Ao longo dos anos, o PSB ocupou - pouco a pouco - o espaço deixado vago com o deslocamento do PSDB em direção à direita do espectro ideológico. Após a aliança de FHC com o então PFL (hoje DEM), houve uma descaracterização do PSDB, como a que ameaça hoje o PT sob a égide do PMDB.
Enquanto o PSB construía uma pauta afirmativa para o Brasil, o PMDB virou uma sigla de lideranças regionais. Aparentemente, após a Constituição de 1988, o partido deixou de possuir um ideário comum, que por um aspecto, favoreceu seus afins a terem uma maior flexibilidade na ocupação de espaços de poder. Tal trânsito, contudo, possibilitou que o partido se tornasse também a noiva cobiçada de todos. O PMDB de 5 governadores, 20 senadores e 79 deputados.