quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Quem te viu


Por Sócrates Santana*
Escorado, achincalhado e ressuscitado: Fernando Henrique Cardoso. O reaparecimento público do ex-presidente sintetiza o desespero do PSDB. O tripé das fases tucanas demonstra o caráter de um partido sem sentido, projeto e, portanto, sem discurso. O retorno – sempre pretensioso - do “jarro chinês” dos tucanos só veio à baila para revelar o samba de uma nota só que virou o mantra da oposição no Brasil.
O velho papo démodé e neoliberal dos tucanos, como diz o meu irmão, “não come mais ninguém”. Ainda mais vindo de um ex-presidente antiquado, fora de moda e escondido no cantinho da sala de Geraldo Alckmin. FHC é para os brasileiros, o que é José Serra para os paulistanos: passado. E não adianta enviar e-mails para o pseudo-intelectual Marco Antônio Villa espernear no rádio. FHC é uma página virada e - por muitos - um livro apócrifo. E podem incluir nesta lista muitos tucanos.
Pernóstico, arrogante e prolixo, após 10 anos longe da presidência, FHC atrai para a candidatura de Aécio Neves, tanto adeptos quanto desafetos, dentro e fora do partido. Em entrevista no início deste ano, o próprio afirmou no esnobe inglês dele para a revista inglesaThe Economist, que em 2002 - quando o partido escolheu José Serra para a presidência - ele (FHC) “estava cansado de exercer a liderança política”.
O empoeirado ex-presidente ressurge do baú do esquecimento. E usa os holofotes apagados de outrora – primeiro - para choramingar a cartilha privatizante do FMI, que recai atualmente sobre a Grécia e o resto da Europa: “Nós modernizamos isso, nós integramos aquilo”. E, por fim, a mais repetida de todas as canções: “Nós fizemos o Plano Real”.
Por fim, o ex-cansado e adormecido ego, resolve desenterrar também junto com o seu discurso carcomido as suas inesquecíveis frases de efeito, como a incrível negação de si mesmo: “Esqueçam o que eu disse, esqueçam o que escrevi”. Nada mais apropriado para quem defendeu por tantos anos de governos petistas o anonimato do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva.
Hoje, FHC defende que o “PSDB ao longo de 2013”, veja bem, “mais escute do que diga”. É ou não é a piada do ano? Ou seja: duas missões impossíveis, pois, são duas características bastante opostas do partido e de quem propõe. Escutar e dizer: essa não é uma missão para FHC e o PSDB. Ambos, preferem decidir do quê negociar; reprimir do quê dialogar.
Mas, “nosso samba ainda é na rua”, já diria Chico Buarque. Com camisa ou não, “quem jamais esquece” a repressão dos povos indígenas na Costa do Descobrimento, o Massacre de Eldorado dos Carajás, a privatização da Vale do Rio Doce e da Telebrás, “não pode reconhecer” o valor de qualquer crítica oriunda de um tucano.
*Sócrates Santana é jornalista.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

E agora, José Serra?


Sócrates Santana*

Não existe mais uma pedra no meio do caminho do senador Aécio Neves. Ao menos, no PSDB.  Afinal de contas, a derrota de José Serra não significou apenas a vitória do PT em São Paulo. Representou o término de um ciclo paulista no ninho tucano, onde a mensagem de despedida dos serristas à presidência passou de um até logo para um adeus melancólico das urnas do seu principal reduto eleitoral. “A festa acabou”, diria o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade, que comemoraria hoje - se vivo fosse - 110 anos.

Em Minas Gerais, o PSDB venceu em 143 municípios, enquanto o PT elegeu 114 e o PMDB 119 prefeituras. Mas, restou ao PSB do governador pernambucano Eduardo Campos a cereja do bolo: Belo Horizonte. Com o apoio de Aécio Neves, o prefeito reeleito Márcio Lacerda (PSB) derrotou o ex-ministro Patrus Ananias (PT), apoiado pela presidenta Dilma Rousseff. Mas, a única cidade acima de 200 mil eleitores governada pelo PT a partir de 2013 em território mineiro será Uberlândia.

A disputa na capital mineira serviu como uma prévia da eleição presidencial de 2014. De um lado, a aliança entre o PSDB e o PSB. Do outro, a manutenção de um casamento temerário entre PT e PMDB. Fora da disputa, após perder a eleição municipal para Fernando Haddad (PT), o ex-presidenciável José Serra, com a chave na mão, “quer abrir a porta”, mas, “não existe porta”, porque, Aécio Neves levou para Minas Gerais.

O deslocamento político do ninho tucano para Minas Gerais é acelerado na mesma medida que ocorre também um reposicionamento da hegemonia petista do nordeste de volta para o eixo sul do país. Dos eleitores a serem governados por prefeitos petistas a partir de janeiro, a maioria absoluta (51%) estará no Estado de São Paulo. Além da capital, o partido ganhou em municípios de peso na Região Metropolitana, como Guarulhos, Osasco e São Bernardo do Campo.

A ascensão do PSB nas cidades mais pobres do país simboliza também a redescoberta de uma quarta força partidária no Brasil, antes ocupada pelo metafisico DEM/PFL, reanimado com a vitória em Salvador e Aracaju. Porém, coube ao PSB fincar a bandeira no Nordeste, com a conquista dos maiores contingentes de população em Pernambuco e no Ceará, no Sudeste (Espírito Santo) e no Norte (Rondônia).

Apesar do esforço do governador Geraldo Alckmin (PSDB), pouco restou de consolo ao desgastado José Serra. O próprio ex-presidente Fernando Henrique Cardoso admite a necessidade de renovação do PSDB, mesmo ante os chiliques do correligionário derrotado. Tem que marchar, José! Nova ou velha, a escolha tucana é esquizofrênica e não entrou no bonde da renovação proposta pelo PT de São Paulo, o PSB de Pernambuco, o PMDB do Rio de Janeiro e, até mesmo, o conservador Democratas na Bahia. Mas, renovação é coisa do PT. “José, pra onde?”, responde o mineiro Carlos Drummond de Andrade a pergunta de José Serra. Pra onde?

*Sócrates Santana é jornalista.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Um engano de Samuel Celestino

O comentarista Samuel Celestino cometeu mais um engano. Pormenorizou o comício realizado por Nelson Pelegrino em Cajazeiras, minimizou o impacto do discurso da chefe do executivo nacional, Dilma Rousseff, bem como, reduziu o papel histórico do bairro mais populoso de Salvador.

Ao contrário do comentário do renomado jornalista baiano, um comício não é um local apenas para arrancar risos da platéia. Em qualquer parte do mundo, mas, especialmente, na Bahia, a realização de um comício define quem tem força, apoio político e popular.

Ao longo dessas eleições, nenhum comício liderado pela candidatura de ACM Neto aconteceu. O mais perto de uma reunião pública de massa ocorreu em Plataforma. O próprio jornal de propriedade da família Magalhães ironizou a realização de um "comício" improvisado no Subúrbio pelo candidato do DEM. A partir da constatação de que ACM Neto não promoveu um único comício, o óbvio de qualquer comentário sobre o assunto "comício", seria avaliar e julgar os motivos da campanha do Democratas ignorar um dos eventos mais utilizados para arregimentar e conquistar multidões.

Desde que política é política, a realização de comícios simboliza força, apoio popular e político, dentro e fora do palanque. É - portanto - opaco e estranho o comentário de Samuel Celestino. Talvez, nenhum outro jornalista ou repórter em atividade no estado, possua mais experiência e sensibilidade para observar a lacuna ou ruptura no modo de construir uma candidatura à prefeito da capital baiana realizada por ACM Neto.

Antes de um observador mais apressado definir como uma simples opção de método ignorar a realização de comícios ao longo da campanha é preciso demarcar uma questão: não é comum. E não é comum porque os comícios sempre foram utilizados como balizadores, termômetros de um quadro eleitoral prático, visível e palpável. E não realizar um comício demonstra para o leitor mais afoito fraqueza.

No caso de ACM Neto, mostra que a sua candidatura não tem apelo popular. Não pode ser escutada nas ruas. É uma candidatura artificial, construída dentro de um estúdio refrigerado. A realização de um comício contrairia totalmente o cárater de uma campanha marcada pelo distanciamento do público e de um programa de governo que prevê uma administração organizada dentro de escritórios e gabinetes. Uma prefeitura concebida pelas mentes brilhantes de "alguns escolhidos", que "sabem" o que o povo precisa sem consultar o povo.

Outro ponto que não pode ser ignorado é o valor simbólico da presidenta da República possuir um posicionamento público claro sobre quem é o seu candidato preferido em Salvador. Ninguém pode empalidecer a principal fonte de observação de qualquer comentarista político: os gestos. Assim como é simbólico o apoio do ex-prefeito Antônio Imbassahy e do atual prefeito João Henrique para o candidato ACM Neto, ninguém pode atrofiar o papel desempenhado por Mário Kertész e Márcio Marinho para a vitória de Nelson Pelegrino. Não realizar um comício significa também ocultar mais um calcanhar de Aquiles ou esconder alguém. Significa ter ou não ter um palanque com representação política e popular.

Por fim, ignorar o poder de uma massa de eleitores concentrada no maior bairro popular de Salvador é no mínimo um lapso. O baixo desempenho nas urnas do último candidato petista as eleições de Salvador (2008), o atual senador Walter Pinheiro, no bairro de Cajazeiras, virou um fato para a história eleitoral da Bahia. O espólio político herdado do pai, João Durval, pelo filho, João Henrique, no bairro, é apontado como fator determinante para a vitória de João e derrota de Pinheiro.

Sem acidez, mas, pontuando apenas o que acredito ter sido um engano de Samuel Celestino, concluo minimizando o tamanho das declarações pequeninas de Dilma Rousseff sobre o candidato do Democratas, ACM Neto. Definitivamente, "Salvador não pode ter um governinho". E quem disse não fui eu. Foi a presidenta da República para milhares de pessoas no maior bairro popular de Salvador.
 
*Sócrates Santana é jornalista.

   



segunda-feira, 22 de outubro de 2012

O falso profeta

Sócrates Santana

A capital baiana não precisa de um salvador da pátria. É extremamente prejudicial para a democracia a postura messiânica adotada pelo candidato do DEM. Ele não pode governar sozinho. O comportamento de ACM Neto é apocalíptico, maniqueísta e auto-destrutivo. Põe a população soteropolitana dentro de um fogo cruzado entre as esferas governamentais, anunciando um clima de disputa institucional com o governador Jaques Wagner.

Não é a possibilidade de um outro partido além do PT administrar Salvador que assusta, mas, o risco deste partido ser o DEM de ACM Neto. São poucos os municípios baianos administrados pelo Democratas na Bahia e no Brasil. Nessas eleições, o partido elegeu apenas 9 prefeitos. E o baixo desempenho eleitoral é resultado de uma política de isolamento e acirramento político permanente com os governos estadual e federal.

Outros municípios, mesmo sendo administrados por partidos de oposição ao governo estadual, conseguem desenrolar a relação entre prefeitura e estado. E o motivo é óbvio: não demarcam posições políticas, mas, simplesmente compartilham responsabilidades institucionais.

Se o governo estadual constrói um hospital dentro de uma área sem linhas de ônibus disponível, por exemplo, resta a prefeitura o papel de assegurar as condições necessárias para o equipamento funcionar plenamente, garantindo a expansão da rede pública de transporte até o local. Se isso não ocorre, quem perde é a população. O hospital é inaugurado, mas, não possui qualquer serventia, porque, um dos entes da federação não cumpriu a sua parte.   

Diferente da oposição realizada pelo PT, o DEM não tensiona com os governos petistas a partir do engajamento da sociedade civil organizada. Não possui relação sindical, nem tão pouco com os movimentos populares. Nitidamente, o DEM não é um partido de massa. Ou seja: o DEM não comporta dentro de si a vontade popular, porque, ignora organicamente a participação popular. É um partido construído dentro da burocracia institucional - fora do domínio da população. Por conta deste alheamento, o DEM de ACM Neto é uma ameaça para a democracia participativa, inclusiva e socialmente envolvida pela esfera pública.

A população não deseja um governo dos "melhores", a chamada meritocracia batizada por ACM Neto. As pessoas não querem que as decisões sejam tomadas dentro de escritórios refrigerados e gabinetes gelados. ACM Neto personifica a profissionalização da política, a divisão de tarefas e a gestão de uma cidade espartana, excludente e, portanto, autoritária.

O atual estágio caótico da capital baiana requer mais participação, envolvimento e sentimento de pertencimento. As pessoas querem e precisam participar dos problemas da cidade. Não adianta arrotar auto-suficiência, nem ludibriar a opinião pública com frases de efeito e oratória hipnótica. O próximo Carnaval de Salvador não pode ser macardo pelo bloco do eu sozinho.

*Sócrates Santana é jornalista e assessor do deputado federal Amauri Teixeira. 
     

sexta-feira, 22 de junho de 2012

São João + 20


Amauri Teixeira*
“Se tem fogueira acesa, pode ter certeza, é noite de São João”. Já teria dito o centenário Luiz Gonzaga diante desta longa estiagem que assola o nordeste brasileiro. No país inteiro, já são 1.473 cidades em estado de emergência por causa da seca. Porque, não são os fogos de artifícios, as estrelas de tevê, nem tão pouco, os enormes palcos que tornam os festejos juninos tão famosos no Brasil. Talvez, longe da pirotecnia e das atrações midiáticas, cada cidade possa rever a maior festa popular da Bahia.
Sem necessidade de inventar a roda, o São João de 2012, pode virar um marco na história cultural dos 250 municípios baianos que já decretaram situação de emergência por conta dos efeitos da seca. É a oportunidade de notabilizar o triângulo, a zabumba e a sanfona. Incentivar a formação e promoção de grupos de forró pé-de-serra. Ou seja: produzir cultura local para pessoas que estão vindo de toda parte do país. Porque, o verdadeiro motivo de todos viajarem tantos quilômetros até o interior da Bahia está contido exatamente no que há de mais puro e original no São João: a vida do sertanejo.
Quem "desce" para Jacobina, Juazeiro, Jaguarari, Senhor do Bonfim, Nova Fátima, Cruz das Almas, Miguel Calmon, Piritiba, Uibaí, Irecê, entre outros tantos municípios, não viaja para dançar música eletrônica na boate exclusiva do camarote andante, nem para comer e beber os coquetéis e pratos mais exóticos da última estação da moda. Nada contra nenhuma dessas "mudernidades", mas, cada qual no seu cada qual. A expectativa de quem visita esses municípios é encontrar um "xodó", "o verde dos teus olhos", após "ralar coxa", arrastar o pé com o Xote das Meninas, adoçando a boca com licor de jenipapo e enchendo o buxo com macaxeira, aluá e pamonha.
Com a redução do orçamento das festas - provocado pelo mais extenso período de seca dos últimos 50 anos - o São João de 2012 impõe ao mercado da música sertaneja uma reflexão sobre o inflacionamento dos cachês, gerado pela supervalorização de atrações de fora do próprio circuito junino. A disputa para encaixar no calendário local as "grandes estrelas nacionais", estimulou ao longo dos anos uma espécie de guerra fiscal entre os municípios, sufocando os arranjos culturais e econômicos regionais em prol de uma demanda externa sem qualquer compromisso com o contexto sócio-político de cada lugar.
É claro que pela própria dimensão geográfica da festa, presente nos 417 municípios da Bahia, o São João apresenta uma vocação natural de solidariedade com os demais gêneros artísticos. Mas, o caráter predatório utilizado por agências de eventos para vender o cachê dos seus artistas as prefeituras baianas, exige do gestor público uma reação firme contra os abusos cometidos por essas empresas com - é claro - o consentimento dos artistas.
Infelizmente, raríssimas ou nenhuma iniciativa espontânea ou promocional, sinalizou qualquer gesto da classe artística do ramo da música em solidariedade ao difícil momento que vive o povo sertanejo. Pouquíssimos ou nenhum artista doou o seu cachê ou cantarolou uma única canção sem ter tido o seu dinheiro devidamente depositado pela prefeitura na sua conta.
Por essas e outras, nada mais justo que aumentar a grade de programação das nossas festas com atrações locais. Com grupos e bandas compostos por homens e mulheres da terra, que aguardam o mandacaru aflorar na seca e apontar a chuva que chega no sertão. Em meio as discussão da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, nada mais atual.
*Amauri Teixeira é deputado federal e economista.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

O partido das divididas

De grão em grão, a galinha enche o papo. Ao longo dos anos, vem sendo essa a maneira do PMDB disputar as eleições. Sem nenhum presidente eleito pelo voto popular, o maior partido do Brasil virou a legenda das beiradas. E leiam beiradas de duas formas: dos municípios e das bolas divididas. É o caso de Salvador e São Paulo.
Em Salvador, as sobras do confronto entre ACM Neto (DEM) e Nelson Pelegrino (PT) podem recair no papo do radialista Mário Kertész (PMDB). Na rinha paulista, Fernando Haddad e José Serra rivalizam com as farpas do PT e do PSDB. Com o catador nas mãos, o deputado federal Gabriel Chalita (PMDB) junta os frangalhos dos paulistanos. Ou seja: o PMDB é o partido dos dissidentes.
É bom ficar claro: o PMDB não é um partido de oposição. Sem recorrer ao enfretamento nacional, o partido do vice-presidente Michel Temer avalia a política localmente. Dança conforme a música dos costumes, sem qualquer obrigação com as decisões do Palácio do Planalto. Não faz a política do antagonismo, mas, a política da aproximação e da convergência de interesses. É o que são e o que serão as candidaturas de Mário Kertész e Gabriel Chalita.    
Ambos, por sinal, possuem em comum o caráter da dissidência. O primeiro, Mário Kertész, saiu do ninho carlista. O segundo, apesar da idade, Gabriel Chalita, troca de partido como se trocasse de camisa: PSDB, PSB e, agora, PMDB. Os dois apostam em campanhas mais provincianas, beirando o bairrismo. Sem confrontar os modelos partidários, Mário e Chalita vão desfilar como se não fossem profissionais da política.
Aparentemente, o candidato paulista tem mais elementos para realizar tal proeza. Pulou de uma legenda para outra, como quem não demonstra qualquer compromisso com os princípios partidários em si. É jovem, 43 anos, portanto, não carrega consigo o fardo de ter sido tachado de tucano, malufista, petista, nem tão pouco quercista.
O candidato soteropolitano do PMDB não é diferente. Por duas vezes, Mário Kertész administrou a cidade de Salvador. A primeira, como biônico; a segunda, como prefeito eleito pelo povo. Mas, de lá para cá, já se vão 23 anos fora de disputas eleitorais. Desses, 19 anos dedicados ao rádio. Ou seja: no imaginário da população, especialmente, entre os jovens e adultos até 40 anos, a ligação de Mário Kertész no passado com possíveis negociações envolvendo dinheiro público viraram pó.
Se por um lado, as candidaturas de Gabriel Chalita e Mário Kertész, sinalizam representar a política jogada pelo lado de fora, por outro, não possuem musculatura político-partidária, a exemplo de PT, PSDB e DEM. Os dois vão trilhar uma estrada sem final previsível, sem qualquer perspectiva clara de qual dos lados será mais prejudicado: José Serra e ACM Neto ou Fernando Haddad e Nelson Pelegrino.
Em Salvador, se por um ângulo, a candidatura de Mário dialoga com uma fatia do eleitorado mais próxima do perfil carlista, por outro, em São Paulo, Chalita é acolhido justamente por aquelas pessoas que não conheceram outra experiência de administração para além de PSDB e PT. A conta fica difícil de fechar para ambos os lados.
A promessa é de 2º turno, lá e cá. À vista um cenário propício para um embate entre três forças não partidarizadas, mas, separadas pela linha tênue das idéias que distinguem politicamente a direita, a esquerda e o centro no Brasil. Esta leitura não anula outras candidaturas, mas, sem dúvida, enquadra a fotografia mais exposta dessas eleições. Se for assim, aguardem uma das mais intrigantes disputas da história política de ambas as cidades.
*Sócrates Santana é jornalista.

terça-feira, 5 de junho de 2012

A força das velhas idéias


Sócrates Santana*  
A roupa nova do DEM caiu mal. Não convence. Continua sendo aquela velha roupa colorida por fora, mas, incolor, conservadora e autoritária por dentro. Sem força, o DEM está desbotado pela história que carrega no próprio nome: ACM Neto, Rodrigo Maia, Fábio Souto, entre outros filhotes da ditadura.
O partido aposta todas as suas fichas em Salvador. De hegemônico no estado, o DEM administra hoje apenas 11 municípios baianos. Para piorar ainda mais o quadro, o partido adotou a estratégia de concentrar os seus esforços em poucas candidaturas no país. Isso representa uma redução drástica das suas lideranças políticas, mas, principalmente, o ato consciente de jogar com as cartas que pode confiar e monitorar.
Ao DEM baiano, restou a opção de Salvador. Com o comando do partido nas mãos, o deputado federal ACM Neto condicionou o apoio a José Serra em São Paulo à reciprocidade do PSDB baiano. Sem problemas. O deputado federal Jutahy Magalhães (PSDB) aprendeu direitinho com o avô o sentido da palavra subserviência. Afinal de contas, é de autoria do ex-governador Juracy Magalhães a frase “O que é bom para os Estados Unidos, é bom para o Brasil”. Ou seja: O que é bom para São Paulo, é bom para a Bahia.
Talvez, o dilema tucano fique por conta do ex-prefeito de Salvador, Antônio Imbassahy. Sem o espectro eleitoral do deputado federal na cidade, o PSDB baiano oferece o que o DEM também pode em São Paulo: tempo de tevê. No passado, especificamente, no período FHC e ACM, a relação entre os dois partidos era encarada de maneira pontual. Isso mudou. Ao longo dos anos, ambos os lados exerceram forte influência no perfil de cada partido. Por um lado, o PSDB absorveu a pauta conservadora do DEM. Por outro, o DEM incorporou a proposta neoliberal de Estado do PSDB.
As novas idéias do DEM para Salvador são as velhas idéias do PSDB para São Paulo. A eleição de lá está conectada com a eleição daqui. E, assim como lá, entre Fernando Haddad (PT) e José Serra (PSDB), a polarização natural por aqui é entre Nelson Pelegrino (PT) e ACM Neto (DEM). Nas entrelinhas das duas disputas, quem pode sair ganhando é o PMDB de Gabriel Chalita e Mário Kertész. Mas, essa é uma outra história para um próximo comentário.
*Sócrates Santana é jornalista.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Quem não tem colírio

Sócrates Santana*
O senador Demóstenes Torres continua sendo um parlamentar do DEM. Não é o apagar das luzes de uma CPMI que vai retirar do partido o estigma do contraventor goiano Carlinhos Cachoeira. Nem tão pouco, a expulsão de um filiado do alto escalão. Não adianta esparramar, ameaçar jogar merda no ventilador. É o DEM quem está metido nesta investigação até a cabeça, bem como, os cúmplices do DEM. Entre eles, o deputado federal ACM Neto.
A condição de líder do partido na Câmara Federal exige do herdeiro político do senador Antônio Carlos Magalhães mais explicações sobre o envolvimento do seu partido com o jogo do bicho. Afinal de contas, Demóstenes Torres era o líder do DEM no Senado Federal quando uma cachoeira de denúncias surgiu a partir de escutas telefônicas, que revelavam a ligação entre o senador do DEM e crimes de contrabando, exploração de jogos de azar, corrupção e lavagem de dinheiro. É inútil impor para a sociedade a ideia de moralidade. Cada sinal ou gesto, soam falsos quando o personagem em foco é um membro do DEM. Ou seja: se tem um partido que representa bem a corrupção é o DEM. E não falo isso apenas como baiano, porque, como todos sabem, tem coisas que só se viu na Bahia de ACM.
Vão surgir ao longo das investigações da CPMI - que já começou antes mesmo da instalação oficial - denúncias contra figuras públicas, a exemplo do senador Aécio Neves (PSDB). Não é segredo para ninguém o conflito dentro do ninho tucano entre o paulista José Serra e o mineiro Aécio Neves. A primeira notícia pública diz respeito à nomeação de Mônica Beatriz Silva Vieira para um cargo no governo de Minas Gerais, atendendo a um pedido do então líder do DEM no Senado Federal, Demóstenes Torres. Ela é parente do Carlinhos Cachoeira. Ao contrário de declarações recentes do ex-prefeito paulista, quem costumeiramente utiliza de métodos fascistas é o DEM e os seus cúmplices. Talvez, um dia, antes do DEM pendurar as botas, o ministro das privatizações possa filiar-se ao partido do neonazista, Jorge Bornhausen.
Talvez, a CPI em questão seja encarada como uma revanche do PT. É o partido que possui o maior número de assinaturas da CPMI, logo, o raciocínio lógico seria que o PT seja o maior interessado nas investigações. Volta e meia vão aparecer suposições sobre a conduta dos petistas ao longo do inquérito, comparações que vão tentar desqualificar a atuação do partido, bem como, a acusação de politização de uma comissão essencialmente política. É o que é e o que será esta CPMI. Queiram ou não, apresentem ou não parecer paralelo no final da CPMI, a relatoria é do PT. E, se tem um partido que vai sentir em proporções nunca vista antes na história do Brasil cada denúncia e inquérito é o DEM. E não adianta usar óculos escuros.
*Sócrates Santana é jornalista.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Três homens em conflito

Sócrates Santana

Não é faroeste, mas, a eleição de Jacobina virou um roteiro digno de Clint Eastwood. De um lado, o coronel, o cativo, o ex-prefeito do município, Leopoldo Moraes Passos (PDT). Do outro, o médico, o inelegível, o outro ex-prefeito, Rui Macedo (PMDB). Mais adiante, o comunista, o nativo e deputado federal, Amauri Teixeira (PT). Entre eles, uma mulher: a atual prefeita, Valdice Castro (PP).

A corrida sucessória na cidade do ouro está longe de virar uma disputa para quem fica com a mocinha. A dama, no caso, a prefeita, responde pela vontade política do patriarca, o ex-prefeito e marido, Leopoldo. E ponto. Ou seja: apesar da candidatura a reeleição ser da mulher, é o senhorzinho quem faz os acordos e as alianças do jogo sucessório local.

O ex-prefeito tem um gatilho rápido. Sem pestanejar, conseguiu construir um cenário eleitoral para nenhum pistoleiro colocar defeito. Atiraram para todos os lados. Em 2010, Leopoldo e Valdice, ambos filiados ao DEM, fecharam uma conta um pouco difícil de bater. Mas, política não é matemática.

Ela, Valdice, apoiou Jaques Wagner. Ele, Leopoldo, apoiou Paulo Souto. Ambos apoiaram para deputado federal Jorge Khoury (DEM) e para deputada estadual Eliana Boaventura (PP), além do candidato ao senado, José Carlos Aleluia. Com exceção do governador dos baianos, todos os candidatos apoiados pelo casal “jacu” perderam.

Após o processo eleitoral, ambos, Leopoldo e Valdice, saíram do DEM e migraram para partidos da base aliada do governador Jaques Wagner, respectivamente, PDT e PP. Enquanto isso, os dois principais responsáveis pela derrota do status quo local, Amauri Teixeira e Rui Macedo, ambos aliados dos governos petistas, seja no âmbito nacional, seja no âmbito estadual, assistem consternados a manobra desconcertante do último coronel do ouro.

Unidos, Amauri e Rui, obtiveram 50% dos votos válidos das eleições proporcionais de Jacobina. O petista conseguiu conquistar uma cadeira na Câmara Federal, sendo o deputado mais votado do município. O peemedebista não conseguiu uma vaga na Assembleia Legislativa da Bahia, mas, obteve praticamente a mesma votação do eleito, Amauri Teixeira. Teoricamente, o palanque das oposições em Jacobina estaria montado. Mas, a teoria, na maioria das vezes, na prática é outra.

Sem o aval ainda dos irmãos, Geddel Vieira Lima e Lúcio Vieira Lima, o ex-prefeito Rui Macedo não fechou nenhum acordo com a candidatura petista. Talvez, Jacobina, seja a única cidade-pólo capaz de reunir no mesmo palanque PT e PMDB na Bahia.

Após superar a dificuldade de unificar as oposições em Jacobina, a próxima tarefa será definir com quem o governador Jaques Wagner irá subir no palanque. Afinal de contas, numa história onde o coração da mocinha já tem dono, resta aos cowboys disputarem com quem fica a cidade.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

A última vareta

Sócrates Santana

O legislativo baiano é a última vareta. Quem já brincou com este jogo sabe do que estou falando. Com a ascensão do ex-deputado estadual Zilton Rocha até a presidência do Tribunal de Contas do Estado (TCE) restou apenas a Assembleia Legislativa da Bahia. Visto de longe pela opinião pública, o deputado estadual Marcelo Nilo (PDT), aparentemente, não percebe o cordão de isolamento montado ao seu redor.
É minado lentamente. Um pouco por dia. De um lado, o presidente da União dos Prefeitos da Bahia (UPB), Luiz Caetano. O prefeito de Camaçari faz o dever de casa do partido. Caetano segue a risca a cartilha do governador. Avança, principalmente, no terreno inimigo. Como diria o professor Rômulo Almeida, sangra o adversário por dentro. Em sintonia com o recém empossado secretário da Casa Civil, Rui Costa, o presidente da UPB organiza e planeja a ação municipal da base aliada nas eleições de 2012.
Enquanto isso, do outro lado, um staff composto pelo líder do governo, Zé Neto, o líder do PT, Yulo Oiticica, e os demais parlamentares petistas. Ao todo, 14 deputados escondidos pelos os holofotes das eleições municipais. Sem alarde, reaproximam a base aliada, especialmente, o PSD e o PP, dentro do parlamento baiano sob o argumento das alianças locais. Devagar, o governador tira todas as varetas sem se tocarem. E, pouco a pouco, alguém vai ficando sozinho, acompanhado pela solidão que o trai até o último fio de cabelo. Aí, vira uma inútil batalha em que você está certo de fazer o papel de vencido.
Portanto, não será nenhuma surpresa assistir a alternância de poder no legislativo baiano. Talvez, não seja um presidente petista. Talvez, seja necessário até mesmo ceder a liderança do governo para um aliado mais próximo, comprometido com a estratégia de eleger um governador do PT. Mas, certamente, o próximo não será Marcelo Nilo. Porque, ou se é governador ou se é presidente da Assembleia. Ou seja: não é possível desvendar as miudezas das eleições municipais ao mesmo tempo que se decifra os sons dos corredores e da sala do cafezinho. São mundos iguais, porém, cheios de idiosincrasias próprias. E um só, não pode lidar com tantas varetas assim. No fim, se ver nu e só, acreditando que está combatendo alguma coisa que não existe, que é um delírio de sua cabeça.


quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O dono do jogo

Sócrates Santana*

O jogo sucessório começou a soar o seu brado retumbante na Bahia. Degrau por degrau, a fila da sucessão, como anunciou o ministro Afonso Florence, vem sendo construída aos poucos por Jaques Wagner. A saída de Eva Chiavon, o retorno de Rui Costa e o ingresso de José Sérgio Gabrielli, organizaram as cartas das eleições de 2014. Ao menos, o jogo nas mãos do governador. E ele ainda possui três cartas escondidas, entre elas, Moema Gramacho e Walter Pinheiro.
Por um lado, a prefeita de Lauro de Freitas consolida a sua sucessão com as próprias mãos. Filiou o vice-prefeito no PT e pode sair da prefeitura sem maiores perdas para assumir uma secretaria, a exemplo da Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza. No caso, o vice, João Oliveira, seria o candidato a reeleição e o atual secretário Carlos Brasileiro substituído por Moema para disputar as eleições de Senhor do Bonfim.
Por outro, o senador Walter Pinheiro. Em baixa, ante o ingresso de Rui Costa e José Sérgio Gabrielli, o primeiro senador petista no estado, desceu alguns degraus da escada montada por Jaques Wagner. Ainda assim, continua sendo uma alternativa viável, apesar de cada vez menos consultado pelos demais jogadores, especialmente, dentro do PT.
Aparentemente, os demais partidos aliados estão fora do baralho. Aparentemente, falta o governador combinar o jogo com os russos. Aparentemente, ainda resta uma carta para fechar a conta de Jaques Wagner. Mas, as aparências enganam. Ninguém está fora. Todos estão dentro.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Quem? Pelegrino? Isolado? Besteira!

Sócrates Santana

O deputado federal Nelson Pelegrino (PT) não está isolado. E quem insinua ou repercute tal asneira ignora totalmente o atual cenário de governabilidade do país e do estado. Primeiro, porque, o chamado “modelo petista” está em plena ascensão no país e nos municípios. Segundo, porque, o nome do parlamentar petista conseguiu unificar de maneira antecipada o partido mais heterogêneo da base aliada do governador Jaques Wagner: o próprio petê. Ou seja: seja o DEM, seja o PMDB, quem possui uma candidatura com a capacidade de dialogar com mais partidos que o PT?

Sem prévias, o candidato que a militância petista escolheu - consensualmente - para representar o partido nas próximas eleições municipais tem o apoio de um governador, um senador, 10 deputados federais, 14 deputados estaduais e 7 vereadores. Quem entre todos os candidatos possui maior representatividade partidária na Bahia?

E mais: nem o PMDB, nem o DEM, apontam um arco de alianças capaz de arregimentar tantos partidos num único projeto eleitoral. Por um lado, o DEM está enjaulado ao inexpressivo PSDB baiano, que ainda carrega consigo a pecha malograda do tucanato nacional. Por outro, o PMDB sofre de uma esquizofrenia shakespeariana - politicamente - sem solução: estou na situação ou na oposição, eis a questão?

Ainda resta salientar a falta de opção dos demais partidos que projetam suas candidaturas, a exemplo do PcdoB e do PSB. A foice comunista incita uma rebelião ancorada no PSB, mas, só. O martelo, entretanto, apenas será batido se a senadora socialista, Lídice da Mata, contrariar uma estratégia arquitetada pelo governador pernambucano, Eduardo Campos. Um gesto precipitado dela para afagar o descontentamento do PCdoB coloca em risco um projeto de longo prazo projetado pela cúpula nacional do partido, que inclui o quarto colégio eleitoral do país.

Se sair, o PCdoB desfilará no bloco do eu sozinho, já que não consegue absorver o PP, nem o PRB, nem o PDT. Caso atraía a adesão do PMDB baiano, por exemplo, também coloca o pé para fora do governo petista. É um rompimento que, talvez, o próprio PT gostaria que ocorresse.

Aos demais partidos, PDT, PP, PRB e PTB, nenhuma outra alternativa. Resta a adesão, conflagrando entre eles a disputa pela vice de Nelson Pelegrino, porque, a desistência do deputado federal Marcos Medrado (PDT), a incompatibilidade doutrinária entre o PRB e os demais aliados, assim como, o beco sem saída da administração tampão do PP na prefeitura de Salvador, levam o rio para uma única direção: o mar vermelho do PT.

Por fim, a candidatura do deputado federal Nelson Pelegrino não está isolada, porque, apesar de toda a contrariedade dos demais com a aparente onipresença petista, nenhum deles consegue enxerga no outro um espelho que reflita os seus interesses tão bem quanto o principal objeto das suas discórdias: o PT. Talvez, o maior desafio do nome petista esteja – exatamente – na inversão de posições das peças do atual tabuleiro da base aliada. E para tal, possui uma carta na manga chamada PSD. E se o PSD inflamasse os demais, não abrindo mão da vice? Sem dúvida, isso colocaria em evidência as verdadeiras cartas na mesa.

*Sócrates Santana é jornalista e responsável pelo perfil no twitter @SocrateSantana