terça-feira, 23 de outubro de 2012

Um engano de Samuel Celestino

O comentarista Samuel Celestino cometeu mais um engano. Pormenorizou o comício realizado por Nelson Pelegrino em Cajazeiras, minimizou o impacto do discurso da chefe do executivo nacional, Dilma Rousseff, bem como, reduziu o papel histórico do bairro mais populoso de Salvador.

Ao contrário do comentário do renomado jornalista baiano, um comício não é um local apenas para arrancar risos da platéia. Em qualquer parte do mundo, mas, especialmente, na Bahia, a realização de um comício define quem tem força, apoio político e popular.

Ao longo dessas eleições, nenhum comício liderado pela candidatura de ACM Neto aconteceu. O mais perto de uma reunião pública de massa ocorreu em Plataforma. O próprio jornal de propriedade da família Magalhães ironizou a realização de um "comício" improvisado no Subúrbio pelo candidato do DEM. A partir da constatação de que ACM Neto não promoveu um único comício, o óbvio de qualquer comentário sobre o assunto "comício", seria avaliar e julgar os motivos da campanha do Democratas ignorar um dos eventos mais utilizados para arregimentar e conquistar multidões.

Desde que política é política, a realização de comícios simboliza força, apoio popular e político, dentro e fora do palanque. É - portanto - opaco e estranho o comentário de Samuel Celestino. Talvez, nenhum outro jornalista ou repórter em atividade no estado, possua mais experiência e sensibilidade para observar a lacuna ou ruptura no modo de construir uma candidatura à prefeito da capital baiana realizada por ACM Neto.

Antes de um observador mais apressado definir como uma simples opção de método ignorar a realização de comícios ao longo da campanha é preciso demarcar uma questão: não é comum. E não é comum porque os comícios sempre foram utilizados como balizadores, termômetros de um quadro eleitoral prático, visível e palpável. E não realizar um comício demonstra para o leitor mais afoito fraqueza.

No caso de ACM Neto, mostra que a sua candidatura não tem apelo popular. Não pode ser escutada nas ruas. É uma candidatura artificial, construída dentro de um estúdio refrigerado. A realização de um comício contrairia totalmente o cárater de uma campanha marcada pelo distanciamento do público e de um programa de governo que prevê uma administração organizada dentro de escritórios e gabinetes. Uma prefeitura concebida pelas mentes brilhantes de "alguns escolhidos", que "sabem" o que o povo precisa sem consultar o povo.

Outro ponto que não pode ser ignorado é o valor simbólico da presidenta da República possuir um posicionamento público claro sobre quem é o seu candidato preferido em Salvador. Ninguém pode empalidecer a principal fonte de observação de qualquer comentarista político: os gestos. Assim como é simbólico o apoio do ex-prefeito Antônio Imbassahy e do atual prefeito João Henrique para o candidato ACM Neto, ninguém pode atrofiar o papel desempenhado por Mário Kertész e Márcio Marinho para a vitória de Nelson Pelegrino. Não realizar um comício significa também ocultar mais um calcanhar de Aquiles ou esconder alguém. Significa ter ou não ter um palanque com representação política e popular.

Por fim, ignorar o poder de uma massa de eleitores concentrada no maior bairro popular de Salvador é no mínimo um lapso. O baixo desempenho nas urnas do último candidato petista as eleições de Salvador (2008), o atual senador Walter Pinheiro, no bairro de Cajazeiras, virou um fato para a história eleitoral da Bahia. O espólio político herdado do pai, João Durval, pelo filho, João Henrique, no bairro, é apontado como fator determinante para a vitória de João e derrota de Pinheiro.

Sem acidez, mas, pontuando apenas o que acredito ter sido um engano de Samuel Celestino, concluo minimizando o tamanho das declarações pequeninas de Dilma Rousseff sobre o candidato do Democratas, ACM Neto. Definitivamente, "Salvador não pode ter um governinho". E quem disse não fui eu. Foi a presidenta da República para milhares de pessoas no maior bairro popular de Salvador.
 
*Sócrates Santana é jornalista.

   



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