segunda-feira, 22 de outubro de 2012

O falso profeta

Sócrates Santana

A capital baiana não precisa de um salvador da pátria. É extremamente prejudicial para a democracia a postura messiânica adotada pelo candidato do DEM. Ele não pode governar sozinho. O comportamento de ACM Neto é apocalíptico, maniqueísta e auto-destrutivo. Põe a população soteropolitana dentro de um fogo cruzado entre as esferas governamentais, anunciando um clima de disputa institucional com o governador Jaques Wagner.

Não é a possibilidade de um outro partido além do PT administrar Salvador que assusta, mas, o risco deste partido ser o DEM de ACM Neto. São poucos os municípios baianos administrados pelo Democratas na Bahia e no Brasil. Nessas eleições, o partido elegeu apenas 9 prefeitos. E o baixo desempenho eleitoral é resultado de uma política de isolamento e acirramento político permanente com os governos estadual e federal.

Outros municípios, mesmo sendo administrados por partidos de oposição ao governo estadual, conseguem desenrolar a relação entre prefeitura e estado. E o motivo é óbvio: não demarcam posições políticas, mas, simplesmente compartilham responsabilidades institucionais.

Se o governo estadual constrói um hospital dentro de uma área sem linhas de ônibus disponível, por exemplo, resta a prefeitura o papel de assegurar as condições necessárias para o equipamento funcionar plenamente, garantindo a expansão da rede pública de transporte até o local. Se isso não ocorre, quem perde é a população. O hospital é inaugurado, mas, não possui qualquer serventia, porque, um dos entes da federação não cumpriu a sua parte.   

Diferente da oposição realizada pelo PT, o DEM não tensiona com os governos petistas a partir do engajamento da sociedade civil organizada. Não possui relação sindical, nem tão pouco com os movimentos populares. Nitidamente, o DEM não é um partido de massa. Ou seja: o DEM não comporta dentro de si a vontade popular, porque, ignora organicamente a participação popular. É um partido construído dentro da burocracia institucional - fora do domínio da população. Por conta deste alheamento, o DEM de ACM Neto é uma ameaça para a democracia participativa, inclusiva e socialmente envolvida pela esfera pública.

A população não deseja um governo dos "melhores", a chamada meritocracia batizada por ACM Neto. As pessoas não querem que as decisões sejam tomadas dentro de escritórios refrigerados e gabinetes gelados. ACM Neto personifica a profissionalização da política, a divisão de tarefas e a gestão de uma cidade espartana, excludente e, portanto, autoritária.

O atual estágio caótico da capital baiana requer mais participação, envolvimento e sentimento de pertencimento. As pessoas querem e precisam participar dos problemas da cidade. Não adianta arrotar auto-suficiência, nem ludibriar a opinião pública com frases de efeito e oratória hipnótica. O próximo Carnaval de Salvador não pode ser macardo pelo bloco do eu sozinho.

*Sócrates Santana é jornalista e assessor do deputado federal Amauri Teixeira. 
     

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