terça-feira, 22 de setembro de 2009

Lula e o Internacional

Sócrates Santana

“A eleição é igual ao campeonato brasileiro”, comparou o presidente Lula. A declaração foi concedida, supostamente, a colunista Mônica Bergamo. Primeiro, o supostamente é por decorrência da falta de credibilidade da fonte. No caso a fonte é a jornalista Mônica Bergamo. E a dúvida sobre a originalidade da declaração é que sendo profissional da Folha, só acredito na entrevista se estiver na agenda oficial do presidente. E não estava lá. Mas, se Lula disse mesmo, disse com propriedade. Ele tem toda razão.
No início do campeonato brasileiro, o São Paulo saiu como o franco favorito, ao lado do colorado, o time do Internacional. Mas, o Atlético Mineiro despontou na ponta da tabela, assim como o Palmeiras. O colorado, contudo, perdeu a Copa do Brasil para o Corinthians, mas, manteve viva sempre a chama do campeonato brasileiro. Por fora, correu o Goiás, subindo pouco a pouco na tabela.
Já no início deste ano, as pesquisas encomendadas pela Folha e a Globo apontavam José Serra na cabeceira, seguido por Dilma Roussef, que é seguida por Ciro Gomes e Aécio Neves, tendo a Marina Silva na posição de candidata potencial. Mas, as eleições ainda não começaram.
Como metáfora, diríamos que o Palmeiras é o governador Serra; o Inter, a ministra Dilma; o Goiás, a senadora Marina Silva; o Atlético, o governador Aécio Neves; e o Corinthians, o presidente Lula.
E o São Paulo, quem é? É o único tri campeão brasileiro. E, nenhum dos candidatos a presidente podem alcançar tal façanha, apenas Lula, mas, ele não concorre. E por que Lula é Corinthians e não São Paulo? Primeiro, uma opção pessoal; segundo, é o único classificado para a próxima Taça Libertadores das Américas. O único candidato que não é candidato, mas, pode influenciar muito no resultado final desta corrida presidencial. É como o Corinthians, que ainda que esteja classificado, continua na briga pelo titulo nacional, apesar do baque contra o Goiás, no último final de semana. Assim como Lula, após o anúncio da candidatura da Marina Silva.
E a ministra Dilma Roussef fica como nesta disputa? Fica próxima do Palmeiras, quer dizer, próxima de José Serra. E, o Corinthians, torcendo contra o Palmeiras, como sempre. E o São Paulo também. Ou seja: todos contra o Palmeiras. Quem ganha no final?

Ainda baseado na suposta entrevista concedida a jornalista, continuo este paralelo entre futebol e política. Lula teria dito ainda que o melhor elenco ganha a eleição e que o campeonato só começa quando os times entram em campo. Quem não se lembra da eleição histórica de Leonel Brizola, em 1982, no Rio de Janeiro.
O elenco - no entendimento de Lula - é a composição dos partidos que formarão a coligação da campanha majoritária. E, hoje, vale salientar, o maior partido do país, PMDB, está majoritariamente na base do governo. Assim como o PDT, que diferente de nota plantada na coluna painel da Folha desta terça-feira, está fechado com a candidatura indicada pelo presidente Lula. O ministro Carlos Luppi não cogita lançar candidatura, tanto que na Bahia foi o protagonista de uma articulação que garantiu o ingresso do PDT na base aliada do governador Jaques Wagner.
E por falar no governador baiano, é sempre bom lembrar que entrar no campo é com o PT. Na Bahia, em 2006, Wagner contrariou todas as pesquisas de intenção de votos e venceu no primeiro turno. E, diferente do que preconiza o livro do cientista político Alberto Carlos Almeida, a transferência de votos não é um mito. Na Bahia, Lula transferiu votos ao atual governador Jaques Wagner. Se não Lula, as mudanças colocadas em prática pelo governo Lula. E, certamente, não será diferente com a ministra Dilma.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

De Galego para Galego I

Foto: Manu Dias











Sócrates Santana

Quarta-feira, 26 de agosto. Após sair de Santo Antônio de Jesus, o destino é o município de Milagres (a 241 km de Salvador). Sem sinal de celular, entre altos montes, o carro branco da Casa Civil estaciona numa avenida de paralelepipedo recentemente construída para conectar a nova sede da prefeitura com o centro da cidade. Bem na frente, 200 casas populares erguidas pelo governo baiano, local que recebe amanhã (27) a visita do governador Jaques Wagner (PT), que além das unidades habitacionais, também inaugura a loja 287º da Cesta do Povo.
Num estado onde, de tempos em tempos, se tem a sensação da redescoberta, vislumbrar um município de 12 mil habitantes organizado como um condomínio particular do prefeito Raimundo de Souza (PP) é um assombro daqueles ironizados pelo ex-governador Juracy Magalhães, autor da frase: "Pense no absurdo, na Bahia há precedentes". O prefeito de Milagres é proprietário da maioria dos prédios e terrenos da cidade, alugados ou cedidos a própria prefeitura que administra. "Tudo em casa", diria uma desavisado.
Numa conversa na calçada do Hotel Elite, propriedade do prefeito, na sombra de uma banca do jogo do bicho, um morador da velha guarda revelou o descontentamento de Galego, apelido do prefeito Raimundo de Souza, ao apoiar o candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) nas próximas eleições. Por décadas, o município de Milagres é um histórico reduto eleitoral carlista, tendo direito, inclusive, de estampar na entrada da principal escola da rede municipal, a imagem do ex-senador Antônio Carlos Magalhães. Mas, o motorista Mário Luna ironizou: "Prepara o coração meu velho, porque, seu voto agora é de Wagner. Agora é de Galego para Galego", brincou, antes de retornar para Santo Antônio de Jesus. O sol amansou e a noite deu reticências finais ao dia, que já anunciava muito trabalho para a próxima manhã.














Quinta-feira, 27 de agosto. Às 10h30, saindo da conturbada entrevista coletiva do Hospital Regional de Santo Antônio de Jesus para a então pacata Milagres. A população saiu do centro e caminhou até o campo de barro na beira da estrada para receber o governador. Na espera, os parlamentares Edson Pimenta e Marcelo Nilo. O povo olha para cima, coloca as mãos na testa e aperta os olhos para evitar a poeira levantada pelo helicoptero. Literalmente, as lideranças de Milagres aprenderam a tomar sol e comer poeira com Wagner. Aos gritos, o povo aclamava a união entre Wagner e Galego.
Já na caminhada entre as 200 casas inauguradas naquela manhã, ao meio de um mundareú de pessoas acaloradas pelo achaque do sol, foi revelada a primeira diferença entre os estilos dos Galegos, respectivamente, do PP e do PT.
Alçado no ombro de um eleitor entusiasmado, o Galego do PP encarou naturalmente a imagem do coronel mandatário do curral eleitoral local, bem ao estilo de quem governa com a mão no chicote e a outra no bolso do dinheiro.
Já o Galego do PT, o governador Jaques Wagner, evitou o constrangimento, a imagem tantas vezes achincalhada pela esquerda, de quem assume a carapuça de salvador da pátria. O fotógrafo Manu Dias ajuda o governador e interrompe qualquer tentativa de elevar Wagner à uma condição que vai de encontro aos seus princípios mais elementares. Wagner prefere andar dentro da multidão, ser mais um entre tantos que ajudam a Bahia a crescer e veio mostrar este modo de governar também ao novo aliado Raimundo de Souza, o Galego de cá.
Na beira das escadas do palanque, um empurra, empurra, disse me disse, envolvendo a segurança do prefeito de Milagres e o deputado estadual Edson Pimenta (PCdoB). Tudo por conta do candidato de oposição derrotado pelo prefeito Raimundo de Souza, no último pleito municipal, Márcio Queiroz (PT). A segurança do prefeito agiu de maneira truculenta, agredindo o deputado Edson Pimenta, o candidato do PT local e, justiça seja feita, a segurança do governador também, que tentou de todas as maneiras salvaguarda a integridade física do governador e de todos os convidados. Um verdadeiro arranca rabo, promovido por jagunços do prefeito, temperado por um comportamento combatido veementemente pelo governador baiano, que bradou em seu discurso para a população presente: "Não gosto de valentão, e, onde estou sempre será bem vindo quem esteve comigo em 2006, assim como, quem está agora do meu lado, um aviso aos que não compreendem este novo momento da Bahia, quem entrou, entrou pela porta da frente".
A fala do governador foi determinante para uma mudança brutal de comportamento do prefeito de Milagres, liderança histórica do carlismo. Raimundo de Souza contemporanizou, pediu desculpas ao seu adversário local e deu uma lição daquelas na sua segurança pessoal. E no palanque disse: "A sigla de partido não importa, mas, o homem de trabalho por de trás do partido, como Wagner". O Galego do PP ainda relatou uma ligação de telefone que recebeu do deputado estadual Angelo Coronel (PP).
- Deputado, agora estamos com Wagner, Raimundo de Souza.
- Nascemos Wagner, Angelo Coronel.
Para Wagner, o encontro de Milagres é um divisor de águas. A presença de Otto Alencar e dos parlamentares Angelo Coronel, José Carlos Araujo e Eliana Boaventura naquela visita a um município marcado historicamente pelo carlismo, representou uma das maiores demonstrações políticas do estilo Wagner de governar nas palavras do próprio: "É preciso sempre deixar a porta aberta para uma conversa".