De grão em grão, a galinha
enche o papo. Ao longo dos anos, vem sendo essa a maneira do PMDB disputar as
eleições. Sem nenhum presidente eleito pelo voto popular, o maior partido do
Brasil virou a legenda das beiradas. E leiam beiradas de duas formas: dos
municípios e das bolas divididas. É o caso de Salvador e São Paulo.
Em Salvador, as sobras do
confronto entre ACM Neto (DEM) e Nelson Pelegrino (PT) podem recair no papo do radialista
Mário Kertész (PMDB). Na rinha paulista, Fernando Haddad e José Serra rivalizam
com as farpas do PT e do PSDB. Com o catador nas mãos, o deputado federal
Gabriel Chalita (PMDB) junta os frangalhos dos paulistanos. Ou seja: o PMDB é o
partido dos dissidentes.
É bom ficar claro: o PMDB não
é um partido de oposição. Sem recorrer ao enfretamento nacional, o partido do
vice-presidente Michel Temer avalia a política localmente. Dança conforme a
música dos costumes, sem qualquer obrigação com as decisões do Palácio do
Planalto. Não faz a política do antagonismo, mas, a política da aproximação e
da convergência de interesses. É o que são e o que serão as candidaturas de
Mário Kertész e Gabriel Chalita.
Ambos, por sinal, possuem em
comum o caráter da dissidência. O primeiro, Mário Kertész, saiu do ninho
carlista. O segundo, apesar da idade, Gabriel Chalita, troca de partido como se
trocasse de camisa: PSDB, PSB e, agora, PMDB. Os dois apostam em campanhas mais
provincianas, beirando o bairrismo. Sem confrontar os modelos partidários,
Mário e Chalita vão desfilar como se não fossem profissionais da política.
Aparentemente, o candidato
paulista tem mais elementos para realizar tal proeza. Pulou de uma legenda para
outra, como quem não demonstra qualquer compromisso com os princípios
partidários em si. É jovem, 43 anos, portanto, não carrega consigo o fardo de
ter sido tachado de tucano, malufista, petista, nem tão pouco quercista.
O candidato soteropolitano
do PMDB não é diferente. Por duas vezes, Mário Kertész administrou a cidade de
Salvador. A primeira, como biônico; a segunda, como prefeito eleito pelo povo. Mas,
de lá para cá, já se vão 23 anos fora de disputas eleitorais. Desses, 19 anos
dedicados ao rádio. Ou seja: no imaginário da população, especialmente, entre
os jovens e adultos até 40 anos, a ligação de Mário Kertész no passado com
possíveis negociações envolvendo dinheiro público viraram pó.
Se por um lado, as candidaturas
de Gabriel Chalita e Mário Kertész, sinalizam representar a política jogada
pelo lado de fora, por outro, não possuem musculatura político-partidária, a
exemplo de PT, PSDB e DEM. Os dois vão trilhar uma estrada sem final
previsível, sem qualquer perspectiva clara de qual dos lados será mais
prejudicado: José Serra e ACM Neto ou Fernando Haddad e Nelson Pelegrino.
Em Salvador, se por um
ângulo, a candidatura de Mário dialoga com uma fatia do eleitorado mais
próxima do perfil carlista, por outro, em São Paulo, Chalita é acolhido
justamente por aquelas pessoas que não conheceram outra experiência de
administração para além de PSDB e PT. A conta fica difícil de fechar para ambos
os lados.
A promessa é de 2º turno, lá
e cá. À vista um cenário propício para um embate entre três forças não
partidarizadas, mas, separadas pela linha tênue das idéias que distinguem
politicamente a direita, a esquerda e o centro no Brasil. Esta leitura não
anula outras candidaturas, mas, sem dúvida, enquadra a fotografia mais exposta
dessas eleições. Se for assim, aguardem uma das mais intrigantes disputas da
história política de ambas as cidades.
*Sócrates
Santana é jornalista.
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