quinta-feira, 14 de junho de 2012

O partido das divididas

De grão em grão, a galinha enche o papo. Ao longo dos anos, vem sendo essa a maneira do PMDB disputar as eleições. Sem nenhum presidente eleito pelo voto popular, o maior partido do Brasil virou a legenda das beiradas. E leiam beiradas de duas formas: dos municípios e das bolas divididas. É o caso de Salvador e São Paulo.
Em Salvador, as sobras do confronto entre ACM Neto (DEM) e Nelson Pelegrino (PT) podem recair no papo do radialista Mário Kertész (PMDB). Na rinha paulista, Fernando Haddad e José Serra rivalizam com as farpas do PT e do PSDB. Com o catador nas mãos, o deputado federal Gabriel Chalita (PMDB) junta os frangalhos dos paulistanos. Ou seja: o PMDB é o partido dos dissidentes.
É bom ficar claro: o PMDB não é um partido de oposição. Sem recorrer ao enfretamento nacional, o partido do vice-presidente Michel Temer avalia a política localmente. Dança conforme a música dos costumes, sem qualquer obrigação com as decisões do Palácio do Planalto. Não faz a política do antagonismo, mas, a política da aproximação e da convergência de interesses. É o que são e o que serão as candidaturas de Mário Kertész e Gabriel Chalita.    
Ambos, por sinal, possuem em comum o caráter da dissidência. O primeiro, Mário Kertész, saiu do ninho carlista. O segundo, apesar da idade, Gabriel Chalita, troca de partido como se trocasse de camisa: PSDB, PSB e, agora, PMDB. Os dois apostam em campanhas mais provincianas, beirando o bairrismo. Sem confrontar os modelos partidários, Mário e Chalita vão desfilar como se não fossem profissionais da política.
Aparentemente, o candidato paulista tem mais elementos para realizar tal proeza. Pulou de uma legenda para outra, como quem não demonstra qualquer compromisso com os princípios partidários em si. É jovem, 43 anos, portanto, não carrega consigo o fardo de ter sido tachado de tucano, malufista, petista, nem tão pouco quercista.
O candidato soteropolitano do PMDB não é diferente. Por duas vezes, Mário Kertész administrou a cidade de Salvador. A primeira, como biônico; a segunda, como prefeito eleito pelo povo. Mas, de lá para cá, já se vão 23 anos fora de disputas eleitorais. Desses, 19 anos dedicados ao rádio. Ou seja: no imaginário da população, especialmente, entre os jovens e adultos até 40 anos, a ligação de Mário Kertész no passado com possíveis negociações envolvendo dinheiro público viraram pó.
Se por um lado, as candidaturas de Gabriel Chalita e Mário Kertész, sinalizam representar a política jogada pelo lado de fora, por outro, não possuem musculatura político-partidária, a exemplo de PT, PSDB e DEM. Os dois vão trilhar uma estrada sem final previsível, sem qualquer perspectiva clara de qual dos lados será mais prejudicado: José Serra e ACM Neto ou Fernando Haddad e Nelson Pelegrino.
Em Salvador, se por um ângulo, a candidatura de Mário dialoga com uma fatia do eleitorado mais próxima do perfil carlista, por outro, em São Paulo, Chalita é acolhido justamente por aquelas pessoas que não conheceram outra experiência de administração para além de PSDB e PT. A conta fica difícil de fechar para ambos os lados.
A promessa é de 2º turno, lá e cá. À vista um cenário propício para um embate entre três forças não partidarizadas, mas, separadas pela linha tênue das idéias que distinguem politicamente a direita, a esquerda e o centro no Brasil. Esta leitura não anula outras candidaturas, mas, sem dúvida, enquadra a fotografia mais exposta dessas eleições. Se for assim, aguardem uma das mais intrigantes disputas da história política de ambas as cidades.
*Sócrates Santana é jornalista.

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