quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O baralho do Clube dos 13

Sócrates Santana

Torço contra qualquer time carioca e o Corinthians do ex-presidente Lula. E que tem haver meter o dedo de Lula nesta história de torcida? É que o assunto diz respeito à política. E falar de Lula virou sinônimo de política e, às vezes, de futebol. O assunto em questão extrapola o duelo entre as equipes e a paixão das pessoas por um esporte mundialmente aplaudido pelo seu espírito democrático e conciliador. O futebol brasileiro experimenta uma crise sem precedentes, inflamada pela disputa entre duas emissoras de tevê: a Rede Globo e a Rede Record.

Cinco dos 13 fundadores do Clube dos Treze anunciaram a saída da entidade. São eles: o Flamengo, o Fluminense, o Botafogo, o Vasco da Gama e o Corinthians. O Clube dos 13 é uma associação que representa os interesses dos maiores clubes brasileiros. Entre eles, o Esporte Clube Bahia.

Em 1997, a associação consegue negociar um contrato milionário com a tevê Globo. A emissora adquire o direito de retransmitir os jogos desses clubes no campeonato brasileiro. O contrato fortalece o Clube dos 13, que passa a defender também os interesses de mais 7 clubes: Coritiba, Goiás e Sport, além de Atlético-PR, Guarani, Portuguesa e Vitória.

A lua-de-mel com a Globo termina, após a Rede Record propor ao Clube dos 13 uma oferta para adquirir os direitos de imagem dos jogos do campeonato brasileiro. Trata-se de uma proposta legitima e obediente às regras de concorrência do mercado. Entretanto, o aceno da Record não agradou os interesses da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e da Rede Globo de Televisão, e iniciam uma campanha ofensiva para derrubar o presidente do Clube dos 13, Fábio André Koff.

As eleições para a presidência da entidade é o primeiro ato para deflagrar o racha de interesses no Clube dos 13. De um lado, Kleber Leite, o candidato da CBF, ancorado no Botafogo, Corinthians, Coritiba, Cruzeiro, Goiás, Santos, Vasco e Vitória. Do outro, o candidato à reeleição, Fábio Koff, ancorado na maioria composta pelo Atlético-MG, Atlético-PR, Bahia, Flamengo, Fluminense, Grêmio, Guarani, Inter, Palmeiras, Portuguesa, São Paulo e Sport. Por 12 votos a 8, Fábio Koff é reeleito.

Após uma decisão controversa, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, anuncia oficialmente no dia 21 de dezembro a unificação dos títulos de campeão brasileiro de 1959 a 1970. Uma sinalização que agradou e muito, clubes como o Fluminense e o Bahia. O último, inclusive, beneficiado pelo título simbólico de primeiro campeão brasileiro do país.

O terceiro capítulo coloca em mãos opostas a polêmica Taça das Bolinhas: Flamengo e São Paulo, que disputam o troféu criado pela Caixa Econômica Federal numa acirrada luta pelo reconhecimento do primeiro time pentacampeão do país. O embate reacende o debate sobre o título de 1987. Até então, o clube que respondia pela conquista de 1987 era o Sport Recife, mas, a CBF voltou atrás e oficializou o título do Clube de Regatas Flamengo.

De volta às peças do quebra-cabeça, os dois clubes cariocas, anteriormente oposicionistas a CBF, Fluminense e Flamengo, viram a casaca. Inflados pelo crescimento econômico, atração de craques, prestígio da CBF e enorme visibilidade nas telinhas da Globo, os clubes cariocas iniciam a revoada do Clube dos 13.

De maneira subterrânea, as agremiações cariocas e o rubro-negro paulista negociam, paralelamente ao Clube dos 13, com a Rede Globo de Televisão os direitos de imagem sobre os jogos desses respectivos clubes no campeonato brasileiro. Ainda assim, o Clube dos 13 anuncia o edital de licitação que vai definir a emissora de tevê que terá os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro no triênio 2012, 2013 e 2014.

A emissora carioca, contudo, não aceita perder a concorrência do Brasileirão, principalmente para a Rede Record e também não aceita pagar o valor que os clubes desejam. A Rede Globo foi atingida em cheio após a decisão do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), ano passado, que determinou que a cláusula de preferência que dava à Globo a possibilidade de igualar qualquer proposta fosse retirada. A partir deste momento, seus executivos iniciaram o trabalho de bastidores para minar qualquer chance da concorrência vencer a licitação.

A Lei Pelé (nº 9.615), contudo, no seu Art. 42, diz que pertence “as entidades de prática desportiva direito de negociar, autorizar e proibir a fixação, a transmissão ou retransmissão de imagem de espetáculo ou eventos desportivos de que participem. Ou seja: a negociação paralela entre os clubes e as emissoras fragiliza os valores comerciais dos jogos, porque, se um dos clubes de determinado espetáculo não tiver contrato com determinada emissora, o jogo desta não poderá ser transmitido. A arena do debate, portanto, pode sair definitivamente dos estádios para o Congresso Nacional.

Um caso emblemático, particularmente, diz respeito aos direitos de publicação do álbum de figurinhas do campeonato brasileiro. Uma disputa entre as editoras Abril e Panini em 2010 dividiu as bancas de revista. Nenhuma das duas editoras possuía o direito total pela publicação de todos os clubes que disputavam o campeonato brasileiro. O negocio fatiado fragilizou as negociações. Cada clube negociava individualmente com cada editora e no fim o valor comercializado era menor que o valor proporcionalmente dividido caso o álbum contivesse dos clubes num único pacote.

Aos dois clubes baianos, Bahia e Vitória, aparentemente em lados opostos, cabe compreender que a vida financeira de ambos os clubes não pode virar uma mera disputa entre torcedores de agremiações diferentes. A Globo é carioca e age em prol dos clubes do estado. Não tem o comportamento de uma emissora nacional. E os clubes do Rio de Janeiro não estão preocupados com as dificuldades financeiras dos times nordestinos. Não vacilar neste instante é permanecer no Clube dos Treze. Não é apenas futebol, é política.

Sócrates Santana é jornalista e torcedor do Esporte Clube Bahia.

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