segunda-feira, 12 de abril de 2010

Oposição fracionada

Sócrates Santana*

Na prática, o governador Jaques Wagner acertou. A aproximação com o senador César Borges acolhia um estímulo do presidente Lula. Diga-se de passagem: Lula também queria Geddel Vieria Lima dentro da chapa de Wagner. Isso representaria a unificação do palanque nacional no estado. Mas, o peemedebista não acatou o pedido do presidente. Wagner encontrou uma nova alternativa na reabertura de diálogo com o PR. Suou, cedeu e trabalhou para esvaziar ao máximo a candidatura do principal adversário, o presidente do DEM, Paulo Souto. A missa saiu melhor que a encomenda. Wagner unificou o palanque nacional e a oposição na Bahia, numa única tacada. É a oposição em doses homeopáticas.

Apesar de não ter sido do jeito que o presidente Lula encomendou, a missa agrada a conjuntura nacional e, de quebra, resolve os problemas a vista dos partidos que compõem a atual base de sustentação do governo na Assembléia Legislativa da Bahia. Wagner afastou César Borges das hostes de Paulo Souto. Isso enfraqueceu ainda mais o palanque de José Serra na Bahia. Sobraram apenas duas alternativas para o senador republicano: Geddel ou Wagner. Mas, a partir das exigências apresentadas pelo PT, restou a César Borges cumprir com o principal acordo: manter o PR alinhado a candidatura nacional da petista Dilma Rousseff.

O clima plebiscitário estimulado pelo PT nacional e estadual é mantido. Por um lado, a candidatura de Dilma Rousseff garante Geddel, Borges e Wagner unidos. Digo, unidos pelo objetivo comum de elegerem a candidata do presidente. Por outro lado, Wagner satisfaz os anseios da centro-esquerda e enfraquece a candidatura do DEM, isolando Paulo Souto, sem PP e PR. Queiram ou não, César Borges continua representando a direita no estado. Não é, nem de longe, de centro. Por sua vez, Geddel ganha fôlego e esquece José Serra de uma vez por todas.

Por essas e outras, arrisco dizer que Wagner uniu a oposição de uma maneira que não agradou a própria oposição. O governador fragmentou as forças da oposição. Diferente de 2006, quando a oposição estava unida e afinada, em 2010 terá que disputar consigo mesma quem assume este papel. E, queiram ou não, na hora da disputa, não cabe usar uma máscara de dia e outra a noite. E apenas duas candidaturas não sofrem com essa crise de identidade no momento, que correspondem às candidaturas do DEM e do PT. Essas, sim, como água e óleo.

*Sócrates Santana é jornalista

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