Sócrates Santana
À Revolução de Jasmim na Tunísia seguiram-se os protestos no Egito. A tensão no mundo árabe provoca insônia em investidores e freia as cotações nos mercados mais importantes – apesar dos números animadores da conjuntura e das empresas. A economia globalizada prova mais uma vez do próprio veneno.
As pessoas que vão às ruas no Egito não querem apenas democracia e liberdade. Elas desejam, finalmente, tornar-se parte de uma economia, que mesmo no ano da crise de 2009 cresceu quase 5%. A economia egípcia cresce desde que ela começou a se abrir, em 2004. Nos anos anteriores à crise econômica, o crescimento anual era de 7%.
Apesar do “bem-sucedido” liberalismo econômico, principalmente egípcios mais jovens não conseguem trabalho. Isso leva à suspeita de que tal crescimento favorece as elites econômicas, sem incluir um espectro mais amplo das camadas da população. Segundo dados das Nações Unidas, a população de 84 milhões de pessoas do Egito cresce anualmente cerca de 2%.
A cada ano, entre 600 mil a 700 mil pessoas chegam ao mercado de trabalho. A falta de qualificação dessa população também é responsável pela alta inflação, que gira em torno de 11%. Algo semelhante com o Brasil, não acham? Sem educação e sem qualificação, o Egito não consegue se desenvolver. Um país que não produz tecnologia gera pouca riqueza e por isso tem necessariamente de recorrer a produtos estrangeiros, gerando inflação.
Para que as pessoas não fossem protestar nas ruas, a Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico calculou que seria necessário um crescimento de pelo menos 6%. Na atual situação de crise, no entanto, isso será difícil de alcançar. Os protestos terão consequências negativas sobre o turismo, sobre o canal de Suez ou ainda sobre as transferências de dinheiro por parte de egípcios emigrados. Mas seu principal medo é que, devido aos protestos, cessem os investimentos estrangeiros. É aguardar as cenas do próximo capítulo.
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