A esfera política é a esfera pública na qual todo mundo pode aparecer e mostrar quem é. E a eleição é o palco mais explicito do que isso significa. É natural, portanto, a insatisfação de setores do governo acampados no norte e nordeste do país. Após serem alçados ao patamar de principais responsáveis pela eleição da presidenta Dilma Rousseff, os estados do lado mais pobre do Brasil, aguardam uma retribuição maior do governo reeleito do que o beneficio do Programa Bolsa Família.
Só os que sabem obedecer estão aptos a comandar. Ambos, Eduardo Campos (PE) e Jaques Wagner (BA), por exemplo, seguiram a risca as orientações do presidente Lula. O governador pernambucano articulou a retirada da candidatura presidencial de Ciro Gomes. Wagner dividiu a atenção da candidatura presidencial com o deputado federal Geddel Vieira Lima. Chegou à hora, contudo, de medir forças, porque, formado o governo, desmontá-lo será um fratricídio. “É melhor estar em desacordo com o mundo inteiro do que, sendo um, estar em desacordo consigo mesmo”, já diria o chara deste comentarista, apesar do conselho também servir para a presidenta eleita.
Apesar de improvável, a insurreição nordestina surgiria como uma novidade na política nacional. Iria conter uma espécie de força indestrutível aglutinada no estado paulista, que pauta a agenda pública a partir de interesses comuns somente aos seus. Ao contrário, o governo precisa reunir, verdadeiramente, pessoas em busca de um objetivo comum para gerar poder, que, ao contrário da força, provém das profundezas da esfera pública e a sustenta enquanto os agentes permanecerem associados em discurso e ação.
A participação de agentes políticos nordestinos no governo federal deve ser proporcional a demanda represada por décadas deste lado do país, uma demanda que não estar restrita ao número de beneficiados do Bolsa Família, tão pouco de obras do PAC e do Minha Casa, Minha Vida: uma demanda de representação, que se não for atendida irá corroer o caráter democrático do governo, pasteurizando eleitoralmente a esquerda e caracterizando o norte e o nordeste numa imensa massa de manobra. Mas, como diria o filósofo Hegel, a coruja de Minerva levanta vôo somente ao entardecer. A voz da razão vai explicar a história.
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