Sócrates Santana
Por muitos, a passagem do ano é encarada como uma ruptura. Uma mudança brusca, uma guinada de 180º. É compreensível refletir desta maneira, mas, diferente da habitual forma de separar a utopia e a realidade, distinguir o ontem e o hoje, dividir a vida e a morte, fender a alma e o corpo, espedaçar a experiência e a memória, interromper a correnteza de um rio e quebrar os dogmas a partir da dicotomia entre o certo e o errado, a ruptura delineia uma continuidade transitória da história e não o contrário. Romper, portanto, é transitar.
Na ruptura, o presente, o fugidio e o efêmero encontram a sua medida de passado. Neste entrelaçar, o que aconteceu, ocorreu, passou, sempre será a referência de um ponto de partida. Afinal de contas, a vida "são" páginas sobrepostas. Sendo assim, o que existe é o que ficou? Devagar com o andor, porque o santo é de barro. Apesar de conter em si a sua porção do que ficou o que existe também é o que virá. Isso significa dizer que a ruptura carrega consigo a vontade de mudar. Romper, portanto, é mudar.
O termo ruptura é um substantivo, oriundo do latim. O sufixo “ura” indica o resultado de uma ação. Não adianta imaginar – de olhos bem fechados - a sensação de aspirar dia 31 de dezembro e expirar adiante, simplesmente, 1º de janeiro. A mudança transita na vontade de aspirar e expirar, mas, principalmente, no desafio de caminhar, dar o primeiro passo. Sair do estágio de inércia, de quem espera as coisas acontecer por si só e escolher entre o sim e o não, que está no horizonte de qualquer decisão. Romper, portanto, é decidir.
Ao longo dos anos, evitei a ruptura por receio de não encontrar o amanhã, o futuro e perder tudo aquilo que já havia construído. Mas, entendi que romper é transitar entre o passado, o presente e o futuro sem medo deste, ser diferente, daquele; que romper é mudar para melhor, ou se não é melhor, é o que tenho vontade de fazer sem medo desta vontade passar e não me levar com ela; que romper é decidir caminhar sem medo de olhar para trás e perceber que o que ficou é mais seguro. Em 2010, romper é sinônimo de transitar até a felicidade.
*Sócrates Gomes Pereira Bittencourt Santana é jornalista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário