Sócrates Santana
Há um desassossego no ar. Temos a sensação de estar na orla do tempo, entre um presente quase a terminar e um futuro que ainda não nasceu. Algo debelado pela evidente inanição da oposição no estado, que expõe as vísceras da base governista. Após o declínio do império carlista, os holofotes estão voltados para ascensão de uma nova ordem petista.
Mas, o establishment invoca a coalizão, impõe alianças fotográficas e implode no interior do governo as colunas do Palácio de Ondina. Por um lado, o alvoroço de sempre entre o PT e o PCdoB. Por outro, o castelo de cartas marcadas do PP e do PSB. E, mais adiante, o balcão de dificuldades do PRB e do PDT.
As colunas que sustentam o governo não estão projetadas simetricamente para as eleições de 2012. É notório, por exemplo, o constrangimento do PCdoB de Daniel Almeida, Edson Pimenta e, principalmente, de Alice Portugal. Apesar de negar, a condição de apêndice do PT incomoda até mesmo os comunistas mais arejados pelo o governo. As vereadoras Olívia Santana e Aladilce Souza acabam tendo o papel de foice e martelo do divã bolchevique.
Enquanto os comunistas esquivam-se das “condições históricas”, o PSB baiano contempla as investidas do cacique Eduardo Campos no cenário nacional. O governador pernambucano acena para tucanos, democratas e pedetistas, sem qualquer inibição ideológica. Insinua uma candidatura alternativa para o país, como inúmeras vezes, esperneou o cearense Ciro Gomes.
A articulação nacional congela as peças socialistas no estado. O exemplo é a inércia do partido em relação à saída de vereadores da legenda no âmbito da capital. Nem o legislativo estadual detêm a atenção da cúpula socialista. Sem o controle dos mandatos dos deputados estaduais, Sargento Isidoro e Capitão Tadeu, o comando do PSB aguarda a passagem das nuvens.
O retorno cabisbaixo de Domingos Leonelli para o executivo, após uma fragorosa derrota eleitoral, manchou a vitória da senadora Lídice da Mata. Resta aguardar o fim do carteado entre o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e o vice-governador, Oto Alencar. A criação de um novo partido faz parte de uma crônica anunciada. Uma distração, que serve de ponte para uma aliança ampla e menos maniqueísta do que a dicotomia PT e PSDB. Sem opção para 2012, o PSB baiano recua em prol do que pode vir a ser 2014.
É uma história velha. Sem a mística brizolista, o novo PDT de Marcos Medrado, José Carlos Araújo, Marcelo Nilo e Paulo Câmara, estica a corda e estimula os demais. Entre eles, o PRB sitiado pelos interesses da Igreja Universal do Reino de Deus, que ao atrair o promotor Almiro Sena para a legenda, dando o empurrão necessário para assumir a secretara de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos, também assinalou que a vestimenta religiosa não interfere na condução política do partido. Numa cidade predominantemente negra, endossar o nome de um militante voltado para os interesses dos povos de matriz africana é um gesto significativo para quem esboça vôos mais altos, sem tirar os pés do chão.
Do Palácio de Ondina ao Thomé de Souza é construída uma via expressa chamada PP. Sem contornos, o ingresso do prefeito João Henrique à legenda representa o alinhamento das esferas estadual e municipal. Ao ceder mais uma cadeira para o PT na Câmara Federal ao juazeirense Joseph Bandeira, o PP do novo secretário municipal João Leão não representa um adversário para 2012.
Ao contrário, o PP adquire mais gordura para quem sabe, sem pressa, nem palpitações, assistir a Copa do Mundo de 2014 da tribuna, seja ao lado do ministro Mário Negromonte ou do candidato ao senado João Henrique. O PP sabe que o comando da prefeitura é rarefeito, não possui densidade política, porque, não é fruto da vontade geral necessária para tal efeito. É apenas uma convenção, um arranjo de bastidor, que precisa do aval popular para encontrar o seu alicerce. Apesar de eleito por duas vezes, João Henrique não tem uma procuração do povo que lhe permita agir em desconformidade com o programa que lhe garantiu a reeleição. Um programa peemedebista, diga-se de passagem.
Já os petistas...os petistas estão seguros de que os hábitos pessoais e os interesses condicionam as doutrinas de aliados e opositores, assim como estão seguros de que as suas próprias crenças são absolutamente universais e objetivas. O PT tende a ser petista em relação aos outros e governista em relação a si próprio, quando a melhor maneira de compreender a condição do partido neste cenário seria a inversão desses ângulos. Ou seja: ser governista em relação aos outros e petista em relação a si próprio.
É da natureza do homem disputar, guerrear, ressentir-se e acabar pondo tudo a perder. Quem almeja acumular forças para manter ou alterar o próximo período, contudo, não pode agir como se estivesse brigando pela direção de um sindicato ou de um grêmio estudantil. Nem tão pouco encarar as eleições de 2012 como uma correia de transmissão, hereditária e determinista.
Diz o mestre Sun Tzu: “Quando o exército está inquieto e receoso, é certo haver perturbações provocadas por outros príncipes inimigos. Trata-se apenas de introduzir a anarquia nas tropas, jogando fora a vitória”.
Enquanto isso, a platéia, PSDB e PR, acompanham o camarote andante do governo, sem deixar de olhar os dois lados antes de atravessar: DEM e PMDB, que assumem o papel de intrigar, despistar e divergir.
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