Sócrates Santana
O isolamento equivale ao suicídio político. Na corrida para evitar o cárcere de idéias e interesses, as três vias políticas em evidência na Bahia adiantam o passo para tirar a corda do pescoço de alguns e colocar em outros. PT, DEM e PMDB não medem esforços para aumentar o arco de alianças em torno das suas respectivas candidaturas na conquista pelo Palácio de Ondina. O movimento intenso dos bastidores é tamanho que é até difícil separar o que é camarim do que é palco. A máxima do período é agregar para ganhar, porque, quem empurra não aglutina.
Após a morte do senador Antônio Carlos Magalhães, ruiu um muro de diferenças entre personagens e grupos, anteriormente confinados a determinadas condutas e pensamentos. Isso possibilitou a aproximação de atores inimagináveis, bem como a separação de figuras que eram tidas como inseparáveis no passado. Mas, não é só. O argumento republicano do governador Jaques Wagner, desde o início do governo, preparou o terreno para o atual cenário de livre troca de gestos e alianças. Aparou as arestas internas do seu partido e minimizou as diferenças locais de cada município à querelas pessoais, de pouca serventia ao bem comum da população. Em 2006, Wagner comeu poeira o suficiente para apagar, em três anos, o risco no chão que separava carlistas e anti-carlistas.
É evidente que uns ganharam mais, como o próprio campo encabeçado por Wagner; enquanto outros ganharam menos, como o ministro Geddel Vieira Lima. Mas, quem definitivamente só perdeu foi o grupo liderado pelo presidente do DEM, o ex-governador Paulo Souto. Aos soluços, corre o estado para minimizar a debandada de aliados para os braços dos adversários. O DEM que tinha 153 prefeituras em 2005, diminuiu para 44 municípios, em 2008. Por outro lado, o PMDB manteve a estabilidade, já que encolheu apenas 3%, e o PT cresceu 152% nas eleições de 2008. Em 2005, o PT elegeu 27 prefeitos, 69 em 2008. O PMDB, em 2005, elegeu 117 prefeitos, já em 2008 elegeu 113. Isso significa que, além de perder (e muito) tamanho e espaço no pleito de 2008, o DEM ainda lamenta a saída de grandes puxadores de voto, a exemplo do deputado federal Fernando de Fabinho.
Apesar de afirmar que não escreve um livro de história, mas, o futuro da Bahia, o governador Jaques Wagner deixa claro que conhece bem os escombros da política brasileira e baiana. Em 1955, JK subtraiu numa manobra decisiva, que estimulou os integralistas do PRP a lançar Plínio Salgado, tirando votos da direita que iriam fatalmente para seu adversário em Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Espírito Santo. JK teria perdido se a direita tivesse votado em Juarez Távora. Na Bahia da época, em 1954, ascende ao governo baiano uma coligação de forças até então rivais, reunidas por obra de Getúlio Vargas: a UDN juracisista, o PTB getulista e uma dissidência do PSD, liderada por Antônio Balbino, eleito, assim, governador, depois de ter o capital político inflado por Vargas. A coligação derrotada reunia a fina flor da elite do Recôncavo e notórios políticos, inclusive o então governador Régis Pacheco, e seu antecessor, Octávio Mangabeira. Somar, portanto, é diminuir do outro lado.
Em 2006, na Bahia, Wagner reuniu a oposição histórica, atraindo legendas como PMDB, PDT e PPS para dentro deste bloco. Também soube aproveitar o período mais adiante, após a morte do senador. A falta de alinhamento entre a ala soutista e do deputado federal ACM Neto gerou desconforto ao senador César Borges, que decidiu sair do grupo denominado de carlista para ingressar no PR e assumir concomitantemente a direção regional do partido.
As alianças, ora, programáticas e estratégicas; ora, pragmáticas e táticas, encontram fôlego no sistema democrático, que por si só não combina com isolamento, o que propicia composições e aproximações. A partir deste princípio, ergue-se um debate que extrapola o velho revanchismo “nós contra ele”, que deflagra, finalmente, uma reflexão sobre o que é esquerda e direita, variações e o novo consenso da política baiana.
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